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Centro de Mama do Hospital São João com modelo organizacional centrado no doente

O Centro de Mama do Centro Hospitalar de São João (CHSJ), integrado na Clínica da Mulher, segue um modelo organizacional centrado no doente, que assenta no conceito “one day clinic”, em que o objetivo é definir o diagnóstico num curto espaço de tempo e numa única visita. A excelência do trabalho que desenvolve tornou-o no primeiro centro do SNS a ser certificado pela European Society of Breast Cancer Specialists (EUSOMA).

O oncologista cirúrgico José Luís Fougo é o coordenador deste centro, tendo assumido funções em setembro de 2010, dois anos após a sua abertura e depois de ter estado 20 anos no IPO do Porto, dedicado essencialmente à patologia mamária.


Criado em abril de 2008, o Centro de Mama, alvo de reportagem no Hospital Público de janeiro, dispõe de um espaço físico próprio e de uma estrutura preparada para as atividades de ambulatório – consultas, cuidados de Enfermagem, procedimentos para diagnóstico, exames de imagem, e consultas de follow-up.



Por não se tratar de um serviço hospitalar tradicional, mas de uma organização que reúne diferentes serviços, quando há necessidade de operar os doentes, o internamento é feito no âmbito do Serviço de Cirurgia Geral.

No Centro, trabalha diariamente uma vasta equipa particularmente empenhada e multidisciplinar, que inclui clínicos (cirurgiões gerais e ginecologistas), imagiologistas, uma psiquiatra, uma psicóloga, enfermeiros dedicados, técnicos de Radiologia, um geneticista, assistentes técnicos e operacionais. Também dão apoio cirurgiões plásticos, médicos de Anatomia Patológica, de Oncologia Médica, de Radio-Oncologia, de Medicina Nuclear e um nutricionista.


“Fazer o máximo possível numa visita”


O modelo organizacional do Centro de Mama é centrado no doente, seguindo o conceito “one day clinic”. Em entrevista à Just News, José Luís Fougo explica que o objetivo é “fazer o máximo possível numa visita”.

“Na primeira consulta é feita uma avaliação clínica e exames de imagem (mamografia, ecografia mamária e, quando necessário, biópsia). Cerca de uma semana depois, o caso é discutido na consulta multidisciplinar e 2-3 dias depois o diagnóstico é comunicado ao doente”, relata.

O conceito “one day clinic” é anglosaxónico e não é vulgar em Portugal. Aliás, José Luís Fougo não tem conhecimento de outro centro de mama que funcione desta forma no Sistema Nacional de Saúde.



O oncologista cirúrgico refere que as grandes mais-valias prendem-se, sobretudo, com o alívio da ansiedade das pessoas que habitualmente chegam ao Centro já muito preocupadas, "sendo que o facto de verem os passos para o diagnóstico serem feitos na mesma altura acaba por minimizar essa angústia". Por outro lado, ganha-se tempo e poupa-se nas deslocações das pessoas ao hospital.

Para a equipa, as vantagens também são óbvias: “O facto de no mesmo espaço físico trabalharem cirurgiões gerais, radiologistas e ginecologista também é uma segurança, porque qualquer dúvida que tenhamos facilmente é resolvida em conjunto. Por outro lado, as enfermeiras fazem um apoio de retaguarda muito importante, particularmente quando temos de comunicar más notícias.”

Outra das peculiaridades do Centro é a presença de um geneticista duas vezes por semana a fazer uma consulta de Oncogenética e a existência de uma consulta específica para pessoas com elevado risco de desenvolverem cancro da mama. Segundo José Luís Fougo, este facto permitiu alargar os critérios de referenciação para a Consulta de Oncogenética.


Ansiedade e depressão: os problemas mais frequentes 


Raquel Guimarães é psicóloga e trabalha no Centro desde que este foi criado. Pertence ao Serviço de Psiquiatria do CHSJ, mas está ali alocada, bem como à Oncologia geral. Esta profissional de saúde de 35 anos, natural do Porto, realiza, diariamente, uma consulta aberta de Psico--Oncologia e dá apoio às consultas de Oncogenética e de risco e a todas as valências que estejam ligadas ao cancro de mama, como a Oncologia e a Radioterapia.



“Gosto muito de trabalhar no Centro de Mama. No início, foi difícil, dado que, por vezes, levamos algumas coisas para casa, mas é uma área muito enriquecedora”, aponta.

Embora na base esteja o cancro de mama, a consulta de Psico-Oncologia é muito variada do ponto de vista das patologias. A ansiedade e a depressão são os problemas com maior prevalência, mas, conforme refere, “há um leque enorme” de outras patologias, nomeadamente, ligadas à sexualidade do casal.



Enfermeiros, o “elemento aglutinador” 

Neste momento, fazem parte da equipa multidisciplinar do Centro de Mama cinco enfermeiras e uma enfermeira-chefe (que não se encontra em permanência no Centro).

Luísa Ferro, 49 anos, é a enfermeira coordenadora deste Centro desde finais de 2013, embora a sua ligação à patologia mamária seja bastante anterior, tendo integrado o Grupo de Patologia Mamária, que nasceu em 1997. Acumula, também,  a função de gestora de risco deste mesmo Centro.



Na sua opinião, os enfermeiros são, no Centro de Mama, o “elemento aglutinador”, uma vez que fazem a ligação para as várias disciplinas que não estão presentes, como o Serviço Social, ou a Medicina Física e de Reabilitação, como as presentes -- Psicologia, Psiquiatria e Nutrição --, após levantamento das necessidades dos doentes.

Ajudar o cirurgião a localizar a lesão mamária com mais facilidade 

Inês Moreira é técnica de radiologia no Centro de Mama e encontra-se, neste momento, a desenvolver a sua tese de doutoramento, em parceria com o CINTESIS - Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, que incide na criação de uma imagem mamográfica 3D para ajudar o cirurgião a localizar melhor a lesão no momento da operação. “Esta ferramenta ainda não existe. Para já, é apenas um estudo. As próximas fases serão criar a ferramenta e avaliá-la”, explica.



No passado, esta profissional de saúde desenvolveu um outro estudo, que consistiu na criação de um curso elearning de radiologia mamária, no qual foram utilizados diversos casos do Centro. O curso foi entretanto reformulado, tendo sido criado outro restrito apenas à parte da mamografia, e já conta com duas edições.



O 1.º centro do SNS a ser certificado pela EUSOMA

A excelência do trabalho desenvolvido no Centro de Mama do CHSJ no diagnóstico, no tratamento e no seguimento dos doentes com cancro de mama é reconhecida não só a nível nacional – está certificado pela norma ISO 9001/2015 (APCER) desde dezembro de 2015 –, mas também internacional, pela EUSOMA - European Society of Breast Cancer Specialists, sendo que, depois de um processo que durou cerca de quatro anos, tornou-se o primeiro centro de mama do Serviço Nacional de Saúde a obter Certificação Clínica Europeia.

José Luís Fougo explica que a EUSOMA certifica unidades/centros dedicados ao tratamento do cancro da mama. Para receber o “selo de qualidade” desta entidade, é necessária a existência de uma equipa de trabalho experiente que, entre outros requisitos, tem de operar, por ano, pelo menos cerca de 150 pessoas com cancro da mama. Ora, no Centro de Mama do CHSJ, em 2017 (até ao início de dezembro), já tinham sido realizadas cerca de 370 cirurgias a doentes oncológicos.



A taxa de cirurgia conservadora é de cerca de 75% e a da mastectomia com reconstrução imediata está na ordem dos 40%, um número que, segundo o coordenador do Centro, “é superior à média portuguesa”.

Com a certificação, o Centro passa a estar integrado na base de dados europeia de doentes com cancro de mama da EUSOMA, uma das maiores do mundo, com mais de 100 mil
doentes registados. Além disso, pode participar em ensaios clínicos conjuntos.

Os utentes respondem regularmente a inquéritos para darem a sua opinião sobre o trabalho desenvolvido no Centro. Os índices de satisfação são elevados, na ordem dos 88%. E, conforme refere José Luís Fougo, “só não são melhores devido às instalações” [neste momento, estão sediadas numa estrutura pré-fabricada, mas na primavera de 2019 deslocar-se-ão para um novo local, que está, neste momento, em obras].




Objetivo: "termos apenas um dia de espera”


Paulo Dinis, urologista e professor associado da Faculdade de Medicina do Porto, é o diretor do Conselho Diretivo da Clínica da Mulher, estrutura intermédia de gestão (EIG), criada em 2012, que integra o Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, que abarca a Unidade de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal e a Unidade de Ginecologia e Medicina da Reprodução, e o Centro de Mama. Até à constituição desta EIG, o Centro de Mama estava diretamente dependente da Direção Clínica.

Obviamente, não foi o percurso de Paulo Dinis na área da Urologia que o conduziu à Direção do Conselho Diretivo da Clínica da Mulher, mas a sua já larga experiência no campo da gestão. Desde 1999 que sempre este ligado a essa área no CHSJ, como adjunto da Direção Clínica.

Para o responsável, participar da gestão hospitalar é muito “estimulante”, porque “permite o envolvimento na melhoria da saúde de uma forma mais lata”. “Não se trata apenas de gerir recursos humanos e outros. Estamos a tratar da saúde das pessoas à distância e isso também é muito compensador.”




“Tem sido muito compensador ver a forma como o grupo tem trabalhado para ser certificado a nível nacional e internacional. É uma satisfação muito grande ver o esforço que fazem no sentido da melhoria constante, bem como a sua perseverança”, comenta.

Desde que assumiu a função, os maiores investimentos foram feitos no material de diagnóstico, quer a nível da consulta como da imagiologia e do bloco operatório. No futuro, o maior investimento que pretende fazer prende-se com os recursos humanos, nomeadamente, na área da Radiologia.

“Queremos investir, em parceria com a diretora do Departamento de Radiologia, no sentido de conseguir aumentar a disponibilidade de radiologistas. Neste momento, são quatro, mas a tempo parcial. O objetivo é ter uma maior disponibilidade de exames para dar uma ainda melhor resposta na consulta. Queremos caminhar no sentido de, em vez de três dias de espera para consultas prioritárias, termos apenas um dia”, explica.

Cerimónia de atribuição da certificação EUSOMA


Robert Mansel, representante da EUSOMA (European Society of Breast Cancer Specialists), descerra a placa comemorativa da atribuição da certificação EUSOMA, junto com Fernando Araújo, secretário de Estado adjunto e da Saúde, e o próprio José Luís Fougo.


No mesmo dia (15 de dezembro), e no ambito das comemorações, realizou-se na Aula Magna da FMUP, uma conferência onde estiveram também presentes Pimenta Marinho, presidente
da ARS Norte, Amélia Ferreira, diretora da FMUP, e Ana Azevedo, em representação da Direção Clínica do CHSJ
 

A grande satisfação e alegria de toda a equipa do Centro de Mama do CHSJ foi igualmente testemunhada nesse dia pela Just News.



A reportagem completa sobre o Centro de Mama do CHSJ pode ser lida na edição de janeiro do Hospital Público.

Distribuído em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde, e dirigido a estes profissionais, o jornal Hospital Público promove uma partilha transversal de boas práticas entre pares.


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