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Cessação tabágica: USF Colina de Odivelas tem Consulta de Prevenção da Recaída

É das consultas de cessação tabágica em cuidados primários mais antigas do País. José Belo Vieira começou este projeto no antigo Centro de Saúde de Odivelas, em 2004. Desde então, mantém-se à frente de uma Consulta de Cessação Tabágica que, apesar de se realizar na USF Colina de Odivelas, pertence à UCSP Odivelas, procurando dar resposta a todos os utentes dos concelhos de Odivelas e de Loures que queiram deixar de fumar.

Com 55 anos, José Belo Vieira, que sempre se interessou pela área das dependências e que, de alguma forma, já motivava os seus utentes a deixar o tabaco, aceitou a proposta de criar a Consulta, aproveitando algum do seu tempo livre, pois, no início, nem sequer dispunha de horário médico atribuído para a mesma. Mais tarde, mesmo quando esse horário já existia, o elevado número de solicitações “obrigava-o” a fazer muitas horas voluntárias. “Cheguei a sair do centro de saúde às 23 horas, mas valeu a pena”, reconhece.



Apoio de psicólogos no arranque da Consulta

Ao longo destes anos, muitos fumadores passaram pela sua Consulta que, inicialmente, contava com a parceria do Hospital Júlio de Matos (HJM). “O protocolo foi fundamental no arranque e estruturação da Consulta e previa a importante colaboração de psicólogos desse hospital, que se deslocavam a Odivelas. Durante esses anos, comprometíamo-nos a receber utentes fumadores do HJM que, na altura, não dispunha deste apoio”, recorda.

A situação alterou-se com a primeira lei do tabaco, que entrou em vigor em 2008 e que obrigou à abertura de consultas de cessação tabágica nos hospitais, tendo a equipa de psicólogos transitado para a que foi então criada no HJM.

Atualmente, José Belo Vieira continua a ser o único médico e tem, desde há poucos meses, o apoio de Fernando Marques, enfermeiro da USF Colina de Odivelas. Nos últimos anos, Cristina Pinto, psicóloga da Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP) do ACES Loures/Odivelas, tem vindo a colaborar nas consultas de grupo.



Fernando Marques, Cristina Pinto e José Belo Vieira

Três tipos de consultas

O empenho de José Belo Vieira nesta área levou-o a querer ir mais longe e, fruto da partilha de ideias e conceitos com a equipa de psicólogos do HJM, avançou-se para um Programa de Consultas Intensivas de Cessação Tabágica com três tipos diferentes:

Consulta de Cessação Tabágica Médica Individual, Consulta de Cessação Tabágica em Grupo Terapêutico (com mais de um doente e com presença de médico e psicólogo) e Consulta de Prevenção da Recaída, funcionando esta última como uma consulta aberta que não tem lista de espera e permite a reentrada imediata de ex-fumadores que sintam dificuldades.

“Para alguns não basta ter um apoio individualizado, também é importante, em consulta de grupo, poderem partilhar experiências e receios, aprendendo com os sucessos e os erros de outros”, diz.

E acrescenta, a propósito da Consulta de Prevenção da Recaída, ser “fundamental que os nossos ex-fumadores sintam que podem contar com esta ajuda para não voltarem a pegar no cigarro. Sabem que podem vir ter comigo, no dia da consulta, sem agendamento prévio, com a garantia de que serão atendidos no próprio dia, sendo elaborado um novo plano terapêutico para eles”.

Questionado sobre se existem muitos casos de recaídas, José Belo Vieira é perentório: “Acontece em todas as dependências, quer seja com álcool, tabaco ou outras drogas, daí a importância da acessibilidade.”



As consultas médicas individuais realizam-se todas as quartas-feiras da parte da tarde, mas também estão disponíveis em horário pós-laboral. As do grupo terapêutico são sempre a partir das 18h. “As pessoas trabalham, por isso, temos de criar condições para que possam vir”, justifica.

Quanto ao acesso a este programa, basta que outros médicos façam a referenciação ou que o utente se inscreva na unidade. “Há muitos que vêm por decisão própria, porque ouviram testemunhos de ex-fumadores que passaram por aqui, notando-se que há maior procura sempre que se assinala o Dia do Não Fumador ou o Dia Mundial Sem Tabaco”, especifica José Belo Vieira.

“O médico é amigo dos fumadores e inimigo do tabaco”
 
As razões que levam alguém a querer deixar o tabaco são variadas, resultando, normalmente, da realização de campanhas de promoção de uma vida saudável, ou da ocorrência de problemas de saúde ou económicos.

Para José Belo Vieira, em todos os casos, “sem motivação própria não se consegue”, sendo que “o profissional de saúde está aqui para ajudar, com tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, nunca para obrigar a pessoa a deixar o tabagismo”.

O especialista realça ainda algo que considera fundamental em matéria de cessação tabágica: “O tabagismo é uma dependência, é uma doença, e o médico deve ter a postura de quem dá apoio e não de quem está aqui para impor algo.”

José Belo Vieira diz mesmo que “o médico é amigo dos fumadores e inimigo do tabaco”. Desta forma, mais que censurar, há que criar condições para que se trate esta dependência.




“Inicialmente, não se via este discurso quando se preparou a primeira lei, mas, felizmente, as coisas mudaram, existindo mais oferta de apoio e isenção de taxa moderadora na Consulta, tal como acontece em relação a outras dependências”, afirma.

Um dos segredos para o sucesso da cessação tabágica está também na relação de confiança que se cria com cada utente, sendo fundamental uma abordagem empática, com técnicas de entrevista motivacional.

“Costumo estar sem bata, porque a imagem que quero passar não é a da autoridade que se vai impor, mas de um técnico que, tendo competência científica nesta área, está aqui para ajudar, e, sobretudo, para escutar e orientar no percurso que há a fazer, funcionando como um aliado contra a dependência”, indica.

Sensibilizar população e profissionais de saúde

Além desta vertente terapêutica, o médico também se empenha em ações de prevenção: desde idas às escolas em sessões de alerta para o perigo do tabagismo até ações na população em geral, tendo sido o mentor da campanha “Portugal Sem Tabaco/Amigo dos Fumadores-Inimigo do Tabaco”.

José Belo Vieira participa na formação de médicos e de outros técnicos na área do tabagismo, recebendo-os em estágios na sua Consulta e colaborando como preletor em ações de formação realizadas por várias entidades. E não tem dúvidas: “É das áreas da Medicina mais gratificantes, porque não só se ajuda quem está dependente como quem é exposto ao fumo passivo, prevenindo-se muitas comorbilidades com intervenções realmente custo-eficazes.”

O médico relembra ainda: “Este investimento na cessação tabágica também deve acontecer junto dos profissionais de saúde fumadores que, regra geral, não pedem ajuda, a não ser em conversas de corredor.”

"É uma área essencial numa unidade"

Face aos bons resultados obtidos, o programa de três consultas de José Belo Vieira tem todo o apoio da coordenadora da USF Colina de Odivelas, Ana Isabel Vaz Gala. 

“Inevitavelmente, é uma área essencial numa unidade de saúde e tem sido feito um trabalho de grande qualidade ao longo destes anos, permitindo a muitos fumadores deixarem essa dependência, para o bem da sua saúde e da dos seus familiares”, observa a médica.


Ana Isabel Vaz Gala.

Objetivo: passar a modelo B

A coordenadora relembra que, em maio de 2013, ainda como UCSP Odivelas, a equipa da USF transferiu-se para o novo edifício na Ramada (Odivelas Norte), que dispõe de instalações e gabinetes com melhores condições.

Agora que são USF têm de partilhar a sala de  espera e o mesmo espaço clínico (gabinetes médicos e de enfermagem da mesma ala do edifício) com quem se manteve na UCSP Odivelas. “O que não é nada fácil!" e enfatiza: “Ambas as unidades têm esperança de que a situação mude quando as futuras instalações da USF estiverem concluídas e cada uma das unidades tiver o seu espaço próprio.”


Elementos da equipa da USF Colina de Odivelas

Apesar destes constrangimentos, Ana Isabel Vaz Gala garante que o modelo USF é muito melhor do que o anterior. “Trabalhamos todos em equipa, havendo reuniões entre médico-enfermeiro-secretária clínica para se resolver as questões dos utentes, advindo daí melhores cuidados de saúde, mais personalizados”, explica.


A coordenadora espera que seja possível passar a modelo B nos próximos anos. “Ainda há um longo caminho a percorrer, começando pela transferência da UCSP Odivelas para outro edifício, de modo a que possamos melhorar a organização do espaço e do nosso trabalho. Será necessário, também, o empenho de todos os profissionais nessa tarefa", menciona a coordenadora.




A reportagem completa pode ser lida na edição de setembro do Jornal Médico dos cuidados de saúde primários.

De periodicidade mensal, Jornal Médico dos cuidados de saúde primários é distribuído em todas as unidades de saúde familiar do país, sendo uma ferramenta única na partilha e promoção de boas práticas e projetos inovadores implementados nos cuidados primários.

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