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«A doença mental causa sempre sofrimento»

De acordo com a psiquiatra Luísa Figueira, “o indicador mais importante de que poderemos estar perante um caso de doença mental é o sofrimento". E sublinha: "O sofrimento exprime-se de várias maneiras, não é só pela tristeza."

"É estar inquieta, ansiosa, irritável"

Em entrevista à Just News, a presidente cessante da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM) lembra que "a doença mental causa sempre sofrimento" e desenvolve a ideia:

"Não é só uma questão de a pessoa estar deprimida. É estar inquieta, ansiosa, irritável e explosiva de uma forma que não é habitual, pouco produtiva, com dificuldade em funcionar cognitivamente", descreve, salientando a importância de identificar “comportamentos estranhos, não habituais naquela pessoa”.

“Não estamos a falar de traços de personalidade, mas podem ser uma acentuação muito intensa de características próprias que, a determinada altura, ultrapassam um certo limite", observa Luísa Figueira. E indica que "ao mesmo tempo, a situação evolui para um estado de sofrimento”.


Luísa Figueira

"Um doente pode ficar bastante agitado no pós-cirúrgico"

Questionada sobre a intervenção da Psiquiatria junto das outras especialidades hospitalares, Luísa Figueira afirma que "não é uniforme em todo o país, porque não há técnicos suficientes para responder às necessidades da psiquiatria de ligação".

A realidade é diferente nas grandes cidades, onde "há, de facto, uma integração dos serviços de Psiquiatria, em termos de resposta psiquiátrica e psicológica às necessidades das pessoas que estão internadas ou em consultas externas de outras especialidades de Medicina, ou até mesmo de Cirurgia". E dá um exemplo: "Um doente pode ficar bastante agitado no pós-cirúrgico, exigindo a observação por um psiquiatra."

Aliás, segundo o modelo do CH Universitário Lisboa Norte, que Luísa Figueira conhece bem, normalmente, a observação inicial é assegurada por um psiquiatra, que recorre ao psicólogo da equipa da psiquiatria de ligação caso entenda que a intervenção deve ser feita por esse profissional.

Crises depressivas nas enfermarias de Cardiologia

“Hoje em dia, a maioria dos problemas que surgem tem que ver com o envelhecimento, com demências, com estados de agitação e confusão mental nas pessoas mais idosas. Mas também com casos de internamento nas enfermarias de Medicina por tentativa de suicídio, ou situações de privação de fármacos em doentes internados e que têm uma crise da sua doença mental, com sintomas de ansiedade ou de depressão”, explica Luísa Figueira.

Adianta ainda ser muito frequente que nas enfermarias de Cardiologia surjam crises depressivas provocadas não só por uma doença que as pessoas já possam ter subjacente mas "também pela própria natureza da patologia cardíaca de que padecem".

E acrescenta: "Até da Neurologia surgem pedidos de intervenção da psiquiatria de ligação, para acorrer a casos de agitação psicomotora, crises depressivas delirantes ou psicóticas agudas."



Ligação entre a Psiquiatria e a Saúde Mental... e não só

Promover o debate sobre que tipo de ligação existe entre a Psiquiatria e a Saúde Mental é um dos objetivos do XIV Congresso Nacional de Psiquiatria, que está neste momento a decorrer no Centro de Congressos de Troia, como, aliás, o próprio lema do evento sugere: "Psiquiatria e Saúde Mental – Reconceptualizar os limites e as ligações”.

Na entrevista publicada no jornal Hospital Público de janeiro, Luísa Figueira salienta que "a Psiquiatria e a Saúde Mental são duas disciplinas diferentes", uma opinião partilhada com muitos dos seus colegas psiquiatras.

“A Psiquiatria é uma área eminentemente médica”, sublinha, "embora, naturalmente, para além dos psiquiatras, inclua os técnicos de saúde, os psicólogos, os enfermeiros de Saúde Mental, os assistentes sociais ou os fisioterapeutas, pois, todos eles concorrem para o tratamento e a reabilitação do doente”.

A psiquiatra dá, aliás, um exemplo muito evidente: “Quando temos pessoas com doenças mentais graves em casa, se não conhecermos bem as suas condições sociais e económicas e do próprio local onde vivem, se não tivermos dados de natureza social que nos são trazidos pela assistência social, não estaremos, com certeza, a tratá-las bem."



"Contribuições importantes" de outras áreas

Contudo, pretende-se que o debate inclusivo sobre a doença mental seja ainda mais abrangente nesta reunião magna da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM). 

Luísa Figueira explica que “tem havido cada vez mais investigação na área das ciências sociais e das ciências humanas, que traz contribuições para a análise do risco e da vulnerabilidade das pessoas para a doença mental, temática que merece ser abordada”. Ou seja "trata-se de analisar as situações anteriores à doença mental".

E acrescenta: "Claro que todos reconhecemos que há fatores de risco para certas situações, como os maus tratos na infância, a pobreza ou as carências alimentares... Mas as ciências psicológicas, a Sociologia, a Arquitetura, a Antropologia ou a Ética trazem contribuições importantes para essa avaliação tão necessária de ser feita."


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