Especialistas de Otorrinolaringologia e internos novamente reunidos

“Gravidez e ORL” é um dos temas da Reunião do Núcleo Centro / Reunião Interno ORL 2021, que decorrerá dia 26 de junho, em formato online. Surdez, infeção, vertigem, rinite e medicação são as temáticas a abordar sobre o tema da gravidez em ORL, que é “pouco falado nos eventos”, segundo Pedro Escada, vice-presidente da SPORL-CCP e membro da Comissão Organizadora deste evento.

A Reunião junta mais uma vez especialistas e internos, com programas distintos. Os mais seniores focar-se-ão na “Gravidez e ORL” e nas “Manifestações da covid-19 em ORL”, enquanto os mais novos irão debater os “Efeitos da pandemia covid-19 na formação do interno de ORL” e a “Patologia benigna da laringe”.

No caso dos especialistas, Pedro Escada realça a mesa dedicada às especificidades da mulher grávida, dando como exemplo a rinopatia gravídica, em que a mulher, no terceiro trimestre de gravidez, passa a ter dificuldades em respirar. “Isto tem, obviamente, implicações a todos os níveis, nomeadamente à noite, com dificuldades em dormir”, observa. Outra entidade clínica relevante é a otosclerose, em que a surdez pode agravar-se.

No que diz respeito às novas manifestações na área ORL decorrentes da covid-19, Pedro Escada considerou que é “um campo em aberto”, existindo já alguns conhecimentos, que exigem ainda investigação. “Até a própria Comissão Organizadora está expectante para ouvir os colegas desta mesa-redonda porque, de facto, é uma área onde ainda se está a aprender muito.”

Exemplo de uma das manifestações é a anosmia, um dos sintomas mais comuns em doentes covid ligeiros e jovens. Segundo o nosso interlocutor, pode ter “um impacto importante”
na qualidade de vida. “Uns ficam bem rapidamente, outros levam mais tempo. Será que se pode tornar crónica?” No seu entender, esta é uma questão que interessa a todos os otorrinos, com maior responsabilidade para os que se dedicam a esta área em consultas especializadas destinadas ao tratamento das alterações do olfato e do gosto.


Pedro Escada: “Como otorrinos, pertencemos a um dos grupos mais expostos ao vírus, mas a SPORL-CCP merece uma homenagem por ter publicado recomendações logo numa fase muito inicial”

Em cima da mesa está ainda a surdez súbita ou a vertigem, que podem ser consequência da doença covid-19, assim como da vacinação.

Para Pedro Escada, o evento é um momento importante para partilhar experiências: “Há algum tempo que retomámos a nossa atividade assistencial presencial e a cirúrgica e vamos, com certeza, receber mais doentes novos, com sequelas da covid-19, sendo imperativo saber quais as orientações mais atuais”, afirma.

Neste regresso à normalidade na atividade clínica contou bastante, na sua perspetiva, a ajuda das orientações emanadas da SPORL-CCP, quando ainda havia muitas incertezas: “Como otorrinos, pertencemos a um dos grupos mais expostos ao vírus, mas a SPORL-CCP merece uma homenagem por ter publicado recomendações logo numa fase muito inicial.”

E acrescenta: “Havia muito receio, não se sabia bem o que fazer e ajudaram-nos imenso, inclusive a minimizar o contágio, porque estamos muito expostos.”

Questionado sobre o futuro da ORL, além do crescimento da atividade clínica – que já é bem visível –, dever-se-á assistir à realização de estudos sobre as novas patologias associadas ao SARS-CoV2.

Internos: avaliar o impacto na formação

Relativamente aos internos, no que diz respeito à mesa-redonda sobre o impacto da covid na sua formação, Sónia Pires Martins, membro da Comissão de Internos da SPORL-CCP, vê na reunião o momento para, juntamente com os especialistas, se “clarificar e quantificar a magnitude das mudanças no Internato nas diferentes regiões”.

Em debate vão assim estar, inevitavelmente, os vários estágios cancelados, a atividade cirúrgica que chegou a ser suspensa ou que diminuiu de forma drástica e os muitos eventos que deixaram de ser presenciais. “Parte da atividade assistencial foi redirecionada para a avaliação de doentes com covid-19, nos serviços de Urgência e enfermarias, além de termos sido mobilizados para a realização de rastreios por zaragatoa”, recorda, adiantando:

“Não se deverá olhar apenas para os aspetos mais negativos, já que a situação pandémica também permitiu adquirir novas competências, nomeadamente na área da teleconsulta e da formação online.”
 


Outro ponto alto destacado pela interna será a sessão de vídeos e o Concurso E-film para Internos, no qual o autor do melhor trabalho terá como prémio uma inscrição no 68.º Congresso Anual da SPORL-CCP, que decorre entre 17 e 19 de setembro de 2021, em Viseu.

A reunião incluirá ainda duas conferências patrocinadas pela indústria, uma delas sobre reabilitação auditiva e a outra sobre novidades na rinite alérgica.

Em resumo, será “um programa atual, diversificado e interessante, dirigido à participação de todos os otorrinolaringologistas nacionais”, realça Pedro Escada.

Reunião ORL de 2021 excecionalmente organizada por membros da Direção da SPORL-CCP

A Reunião ORL Centro/Reunião Interno ORL devia ser da responsabilidade de um determinado Serviço de ORL, mas, face ao formato online, foi aberta uma exceção e a organização ficou a cargo de alguns membros da Direção da SPORL-CCP, para ter um âmbito mais abrangente.

No entender de Pedro Escada, a decisão de manter o evento fazia todo o sentido, face às diversas experiências que se vão partilhar num ano que tem sido por demais atípico.
“Estamos todos expectantes para aprender uns com os outros”, sublinha.

O vice-presidente da SPORL-CCP, que é diretor do Serviço de ORL do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental – Hospital Egas Moniz, espera que seja um dia de partilha, contribuindo
para reforçar a ligação entre colegas de diferentes áreas geográficas, mas também entre especialistas e internos. E deixa claro que “a pandemia teve impacto significativo na sua formação, contudo, também será importante olhar para o que se aprendeu de novo, quer do ponto de vista clínico como da gestão de situações muito imprevisíveis”.

Natural de Lisboa, Pedro Escada, 58 anos, é docente na Nova Medical School, onde se doutorou. Tem como especiais áreas de interesse os implantes cocleares e a cirurgia do
ouvido, reconhecendo, no entanto, que tudo lhe interessa na Otorrinolaringologia.