Estudo avalia «atitudes e crenças» dos psiquiatras em relação ao suicídio e comportamentos suicidários
Está em curso um estudo que pretende iluminar uma área ainda desconhecida: "as crenças e atitudes dos psiquiatras portugueses em relação ao suicídio e aos comportamentos suicidários".
Este estudo está a ser realizado por Mariana Gonçalves, para a sua tese de Mestrado Integrado na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), sob a orientação do psiquiatra Ricardo Gusmão, investigador e professor universitário, e tem o apoio da secção especializada de Suicidologia e Prevenção do Suicídio da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.
E é precisamente Ricardo Gusmão que destaca a importância deste estudo, salientando que "surgiu da constatação de que, apesar dos psiquiatras serem os profissionais na linha da frente da prevenção do suicídio, as suas crenças e atitudes em relação ao tema não são homogéneas, o que poderá ter impacto na intervenção clínica".
Destaca ainda "o escasso aprofundamento do tema na formação médica e o interesse pessoal da futura médica, relacionado a experiências familiares", o que, na sua opinião, evidencia "a relevância clínica e social do estudo".
Segundo Ricardo Gusmão, esta investigação procura "compreender de que forma as ideias, convicções pessoais e comportamentos profissionais dos psiquiatras influenciam a abordagem clínica de doentes em risco e, em útima análise, a eficácia da prevenção".
Mariana Gonçalves e Ricardo Gusmão
"Os psiquiatras têm um papel fundamental"
O psiquiatra lembra que o suicídio constitui uma das principais causas de mortalidade evitável a nível mundial, "sendo responsável por cerca de 1 000 000 de mortes anuais, a maioria delas associada a perturbações psiquiátricas" e partilha ainda um outro dado importante:
"Cerca de 8% das pessoas que recorrem aos serviços de urgência apresentam ideação suicida e aproximadamente 50% dos doentes que morreram por suicídio tiveram contacto prévio com profissionais de saúde mental nos meses anteriores. Neste contexto, os psiquiatras têm um papel fulcral não apenas na avaliação do risco, mas também na implementação de estratégias preventivas."
Relativamente a Portugal, Ricardo Gusmão refere que "o suicídio ainda é um tema pouco aprofundado" e se é certo que existem "estudos isolados que abordam aspetos periféricos, como a relação dos psiquiatras com os media e o impacto emocional do suicídio de um doente", sublinha também que, no entanto, "não existia nenhuma investigação que explorasse especificamente as atitudes e crenças dos psiquiatras face a comportamentos suicidas e ao suicídio".
"Pede-se a todos os psiquiatras e internos de Psiquiatria que colaborem neste estudo"
E de que forma está a ser desenvolvido o estudo? De acordo com o professor de Saúde Mental Pública na FMUP, "envolve um questionário online, dirigido a especialistas e internos de Psiquiatra em exercício clínico ativo".
Além de questões sociodemográficas e profissionais, o questionário inclui "duas escalas internacionais amplamente utilizadas na investigação nesta área: a OSAQ-12 (Occupational Suicide Attitude Questionnaire" e o SAQ (Suicide Acceptance Questionnaire)", sendo que a participação é confidencial, anónima e "leva menos de 15 minutos".
Ricardo Gusmão explica que o objetivo geral do estudo é "identificar necessidades formativas específicas que contribuam para aprimorar a resposta dos serviços de saúde mental" e deixa uma última mensagem:
"A prevenção do suicídio não depende apenas de protocolos clínicos, mas também da forma como os profissionais percecionam o fenómeno e os próprios doentes. Compreender esta dimensão humana é fundamental para melhorar a prática clínica e transformar a prevenção em saúde mental numa intervenção mais humana, eficaz e fundamentada em evidência. Pede-se a todos os psiquiatras e internos de Psiquiatria que colaborem neste estudo."
O questionário pode ser acedido AQUI.


