Geriatria e humanização: médicos «muito interessados» em adquirir competências

"Tivemos que abrir mais vagas face aos vários pedidos", afirma João Gorjão Clara, a propósito do 9.º Curso de Introdução à Geriatria, que se realizou há dias. Na formação estiveram presentes médicos internistas e internos de formação específica de Medicina Interna, mas também especialistas em Medicina Geral e Familiar e um fisioterapeuta.



Em declarações à Just News, o coordenador do Grupo de Estudos de Geriatria (GERMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) faz um balanço “muito positivo” desta edição do curso, que contou com 44 participantes e algumas novidades.

O responsável não tem dúvidas em afirmar que "a Geriatria está a ter um papel cada vez de maior relevo em Portugal".



Relativamente ao facto desta formação atrair muitos profissionais mais jovens, sublinha que “os mais novos estão muito interessados, porque deparam-se já com a realidade do envelhecimento da população e, neste curso, acabam por adquirir competências que os vão ajudar a lidar com as particularidades destas idades.”


Elementos da Comissão Organizadora do Curso: Lia Marques, Eduardo Doutel Haghighi, Sofia Duque, João Gorjão Clara e Mariana Alves (ausente na foto: Marco Narciso)

Humanitude: "garantir a dignidade"

Este ano, a principal novidade do Curso do GERMI foi o workshop Humanitude, que se centrou na temática “Metodologia de Cuidado Humanitude: Intervenção não-farmacológica nas alterações do comportamento”.

Em declarações à Just News, Rafael Alves, enfermeiro e formador da Humanitude, começa por sublinhar que “a humanização de cuidados depende da relação entre os cuidadores e os doentes, sendo fundamental nos quadros demenciais com agitação".

Relativamente à sua participação no curso, que decorreu há dias, explica que “o objetivo foi demonstrar a mais-valia do conceito Humanitude e a suas ferramentas, de modo a garantir a dignidade que têm todos os seres humanos, mesmo quando se está perante situações muito difíceis, como as associadas a alterações de comportamentos em quadros demenciais.”

E acrescenta: “Humanitude é uma metodologia de cuidados geriátricos, com foco na relação entre cuidadores e pessoas cuidadas, que potencia e capacita os cuidadores de técnicas relacionais, podendo ser considerada uma tecnologia-relacional não-farmacológica.”


Rafael Alves

Estratégias a nível relacional e organizacional

Rafael Alves frisa mesmo que esta metodologia não só tem um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas com demência, como também facilita a adesão terapêutica. “É essencial perceber o que pode estar por detrás da alteração de comportamentos, ou seja, podem ser alterações biológicas mas também ambientais”, afirma.

Na sua opinião, “para se estabelecer uma boa relação é preciso compreender bem o que se passa para se adotar as estratégias mais adequadas quer a nível relacional como organizacional.”

Alguns dos segredos desta relação de confiança "pode estar nos gestos do dia-a-dia". Segundo Rafael Alves, “uma pessoa com um quadro demencial precisa que olhemos para ela de frente, para captarmos a sua atenção, além disso precisamos adaptar o nosso discurso. São pequenas atitudes que fazem a diferença."

Em Portugal, a filosofia Humanitude é representada pelo Instituto Gineste-Marescotti Portugal que, entre outras atividades, dá formação a cuidadores e da qual também faz parte João Gorjão Clara, o coordenador do GERMI.


Formadores e formandos do Curso

Saúde Oral: Faltam cuidados de reabilitação no SNS


Outra temática em destaque, que surgiu também pela primeira vez no 9.º Curso de Introdução à Geriatria foi a “Saúde Oral”, tema desenvolvido por Artur Miler.

O médico dentista no Centro de Saúde de Montemor-O-Novo falou à Just News sobre a sua participação nesta formação e as principais preocupações da saúde oral nos idosos, indicando que “a cárie dentária e, principalmente a doença periodontal, continuam a ser as doenças mais prevalentes nos indivíduos desta faixa etária”. Na sua opinião, a integração dos médicos dentistas no Cuidados de Saúde Primários "é uma medida muito importante para poder contrariar este flagelo".
 
De acordo com este profissional de saúde, “existe uma grande franja da população idosa que não teve acesso a cuidados de saúde oral na sua juventude, consequência das limitações socioeconómicas vigentes na altura, ao contrário do que se verifica com as novas gerações”.

Considera também Artur Miler que “a população idosa apresenta uma elevada falta de peças dentárias que condiciona o seu bem-estar e a sua qualidade de vida". Nesse sentido, "a reabilitação oral protética torna-se essencial e, infelizmente, não é acessível em termos económicos a toda a população, sendo os idosos um dos grupos com mais dificuldades de acesso a este tipo de tratamentos".


Artur Miler

Segundo o médico, “no Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral, apenas um grupo específico de utentes do SNS, aqueles que recebem o Complemento Solidário para Idosos, conseguem obter uma ajuda económica significativa para poder ter acesso a este tipo de tratamentos, nomeadamente nas próteses dentárias removíveis“.

Artur Miler relembra ainda que, na avaliação global do idoso, os profissionais de saúde não devem descurar a saúde oral. “Determinadas síndromes geriátricas, como a desnutrição, estão relacionados com a falta de dentes e a dificuldade em mastigar determinados alimentos.”
 

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