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Urgência hospitalar: «temos uma situação chocante a nível europeu»

Luís Campos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), acredita que os internistas podem ser os dinamizadores de uma mudança na prestação de cuidados de saúde em Portugal, mas avisa que essa ambição não pode ser alcançada a qualquer preço.

Na sua opinião, os internos da especialidade podem ser "uma alternativa em áreas até aqui fechadas à Medicina Interna" e para isso pede que sejam contratados mais médicos.

"O internista não pode ser um homem elástico"


“Existem oportunidades de emprego para os nossos internos em formação. São áreas que vão aparecer rapidamente e que podemos ser nós a ocupar", afirma Luís Campos.



O responsável sublinha tratar-se de "uma oportunidade para a Medicina Interna e temos capacidade de a liderar, mas para isso temos de nos diferenciar e de nos formar nestas novas áreas” e acrescenta: "é tempo de acabar com a imagem de que o internista é o último a ser chamado e apenas em situações limite".

Para o presidente da SPMI não há qualquer dúvida: “É tempo de mudar esse paradigma, mas para responder a essa nova realidade precisamos de mais médicos, pois, o internista não pode ser um homem elástico”.

"uma situação chocante a nível europeu"

Luís Campos falava na sessão de abertura do 12.º Encontro Nacional de Internos de Medicina Interna (ENIMI), que decorreu entre 29 de junho e 1 de julho, em Portimão, e teve como tema a “Medicina de Ambulatório”, precisamente uma área onde Luís Campos admite existirem novas oportunidades para os internos da especialidade, salientando que Portugal se encontra, neste particular, "numa posição muito delicada".



“Temos uma situação chocante a nível europeu, com sete em cada dez cidadãos a irem à urgência hospitalar por ano. Somos o país europeu em que tal acontece com mais frequência”, revelou o médico. O especialista admite que a mudança deste quadro não tem uma única solução, mas "passa certamente pela criação de alternativas para os doentes, retirando-os da urgência e do internamento".

“É necessário desenhar novos modelos e a hospitalização domiciliária poderá ser um deles, a par de um maior investimento no hospital de dia, em unidades de diagnóstico rápido e cuidados integrados focados nos doentes crónicos complexos”, concluiu o presidente da SPMI.


Luís Campos, Sara Almeida Pinto, Fátima Leal Seabra, Ana Vaz Cristino, Ricardo Fernandes e Teresa Ferreira.

"Ir ao encontro dos doentes

Igualmente foco de atenção nesta sessão de abertura do ENIMI foi a questão da empregabilidade dos internos de Medicina Interna. Muitos têm vaga durante o estágio, mas terminado esse período enfrentam grandes dificuldades para encontrar um local de trabalho. Um panorama que Ricardo Fernandes, interno e presidente deste encontro, diz poder ser alterado com a abertura de novas portas.

“É fundamental que saíamos do castelo que é o internamento. Em primeiro lugar porque os doentes assim o exigem e depois porque as oportunidades de emprego são limitadas e podemos encontrar aí mais oportunidades”, afirmou.



Para o médico interno, não há dúvidas de que, cada vez mais, é necessário "ir ao encontro dos doentes onde eles vivem, pois, esse não é um campo exclusivo da Medicina Geral e Familiar”.

Dá mais trabalho "mas faz todo o sentido"

Esta mudança de filosofia, disse o coordenador do ENIMI, permitirá pôr fim ao sobrecarregar da urgência, desmobilizando os doentes e poupando internamentos.

“É uma estratégia que dá certamente mais trabalho, mas que faz todo o sentido”, terminou Ricardo Fernandes.



Durante três dias e sempre centrados na medicina de ambulatório, os internos de Medicina Interna debateram temas de áreas tão diversas como a hepatologia, a cardiologia, a infecciologia e os cuidados paliativos.




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