José Luís Pio Abreu homenageado no Congresso Nacional de Psiquiatria
"Prestamos tributo e o nosso reconhecimento enquanto grupo profissional a um colega nosso que, para além de colega, é um mestre da Psiquiatria", afirmou Joaquim Cerejeira, na homenagem prestada ao psiquiatra José Luís Pio Abreu, durante o XVII Congresso Nacional de Psiquiatria.
Intervenção de Joaquim Cerejeira
Nessa intervenção, que decorreu na sexta-feira, lembrou que José Luís Pio Abreu "continua a ser uma pessoa muito ativa atualmente e que, ao longo de décadas, formou muitos de nós, incluindo eu, enquanto aluno".
E acrescentou: "Como eu, muitos dos que aqui estamos, receberam estes ensinamentos e este exemplo do Prof. Pio Abreu. O seu legado em muitos de nós é o espírito inconformista que nos transmite, ou seja, não estarmos acomodados às situações e ao conhecimento que existe sobre as coisas. Sempre foi questionando aquilo que nós fazemos em busca de novas respostas, mais eficazes, aos problemas, sobretudo dos doentes."
Joaquim Cerejeira fez ainda questão de sublinhar que "o Prof. Pio procurava e procura sempre perceber qual é a opinião dos mais novos, transmitindo que a opinião de todos, incluindo das pessoas em início de formação é importante, mesmo para quem está no topo, como era o caso do Prof. Pio. É um exemplo que todos deveremos seguir."
José Luís Pio Abreu e Joaquim Cerejeira
Uma vida preenchida como médico e homem de causas
José Luís Pio Abreu nasceu em Santarém em 1944. Com médicos na família, a Medicina sempre foi uma opção. Tendo chegado à Psiquiatria quando se iniciava o admirável novo mundo da Psicofarmacologia e das Terapias Comportamentais, não duvidou da especialidade que queria seguir.
Tendo sido médico generalista nos HUC e na tropa, percebeu que o tratamento da pessoa com perturbação mental não se pode cingir à Biologia. Essa visão tem-no acompanhado na sua vida profissional como psiquiatra – que mantêm ainda hoje no setor privado –, mas também como professor e investigador. Para além das publicações e colaborações científicas, escreveu vários livros académicos e de divulgação.
Fez o Doutoramento em 1984, com uma tese ligada à Psiquiatria Biológica, e a Agregação em 1996, com uma lição sobre perturbações de ansiedade. Também se tem empenhado nas psicoterapias, tendo sido presidente da Sociedade Portuguesa de Psicodrama (SPP). Desde 2014 que é membro do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa.
Além da sua atividade política, que começou na Revolta Estudantil de Coimbra, em 1969, tem-se dedicado à escrita, tendo já publicado vários livros, quer em Portugal como noutros países (Brasil, Itália, Espanha), além de artigos em jornais.
"É uma área ainda desconhecida, mas fascinante!"
Em entrevista relativamente recente à Just News, José Luís Pio Abreu dirigia-se aos seus colegas de especialidade afirmando: “Parabéns por terem aceite o grande desafio das doenças mentais, que é uma área ainda desconhecida, mas fascinante!”
Defendendo que o psiquiatra deve ter sempre uma visão muito global do doente, e enquanto médico de um Serviço integrado num grande hospital, "sempre fui contra a tendência de se olhar o doente apenas do ponto de vista da Psiquiatria", referia.
Na sua opinião, "o psiquiatra deve, de facto, ter conhecimento de diferentes áreas da Saúde, como Neurologia, Fisiologia e Endocrinologia, entre outras, mas também de Antropologia e Sociologia".
Segundo José Luís Pio Abreu, desta forma é possível ter "uma ideia mais exata do problema do doente, tendo em conta os fatores biológicos, mas também os condicionalismos sociais, ambientais e familiares, que têm inevitavelmente influência numa perturbação mental, mas também noutras patologias. O diagnóstico e o tratamento implicam tudo isso, sem esquecer, claro, os psicofármacos. Mas estes não resolvem tudo."