O doente psiquiátrico «deverá participar na estratégia terapêutica que lhe vai ser proposta»

“Anteriormente, quando o doente era pouco informado e se colocava completamente nas mãos de um médico, criava uma relação paternalista. Ora, cada vez mais essa relação vai ser de parceria em Psiquiatria”, frisa Pedro Varandas.

Contudo, acontece que essa informação que o doente tem “pode ser contraproducente”, levando-o a “colocar exigências que não são possíveis de concretizar”, ou “estabelecendo metas que não é viável atingir”.

Algumas vezes frustrado, acaba por responsabilizar o médico. “Vemo-nos agora, por isso, algumas vezes confrontados com níveis de exigência que podem colocar em risco a relação médico-doente”, conclui o psiquiatra.



Segundo o especialista, normalmente, sobretudo nas patologias mais graves – esquizofrenia, doença bipolar, perturbação obsessiva compulsiva, anorexia nervosa, depressão grave… –, "a pessoa não tem consciência da situação e até recusa que esteja doente".

“Compete-nos a nós, e essa é uma tarefa muito interessante, converter o doente e fazê-lo evoluir da inconsciência total da morbidez da sua doença para uma consciência do seu estado”, refere Pedro Varandas, acrescentando:

“Se ter a consciência de que se tem uma doença mental grave é bom, há que perceber que essa mesma consciência pode dar origem a sofrimento psicológico subsequente a esse conhecimento. Mas, nalguns casos, por muito que façamos, o doente viverá sempre ao lado da doença. Poderá aceitar o tratamento, mas em muitos casos isso só sucede porque o mesmo lhe é imposto.”

Radicalização, transumanização e a crença de que existe um mundo justo

Especialistas vindos do Reino Unido, Holanda, Áustria, Alemanha, França, Espanha, Itália, ou até Marrocos vão estar em Vilamoura, no final de janeiro, para participar no XIII Congresso Nacional de Psiquiatria. Entre os dias 25 e 27, a 600 psiquiatras e internos de Psiquiatria juntam-se uns 400 psicólogos e enfermeiros desta área, mas também, por exemplo, alguns terapeutas ocupacionais, para participarem na reunião magna da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.

Pedro Varandas está entusiasmado com o programa do congresso a que vai presidir. Vai-se ouvir falar da influência da cultura na sintomatologia psiquiátrica, uma área a que se dá o nome de Psiquiatria transcultural, um professor marroquino vem dissertar sobre radicalização islâmica e o presidente da SPPSM, João Marques Teixeira, debruçar-se-á sobre os chamados fenómenos de transumanização.

“Vamos também ter gente da Filosofia a falar de uma crença que todos temos de que existe um mundo justo e de como os seres humanos se comportam quando a injustiça acontece e de como esta questão se transporta depois para a patologia, fazendo-nos sofrer quando somos vítimas dessa injustiça”, adianta o psiquiatra.




A entrevista completa com Pedro Varandas pode ser lida na edição de dezembro do Hospital Público.

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