«O SNS necessita agora de execução, de planeamento e de responsabilidade»
Coube ao médico de família Bruno Moreno, na sua qualidade de vice-presidente da USF-AN, representar a Direção na sessão de abertura do 16.º Encontro Nacional das USF, que se realizou nos dias 17 e 18 de outubro, em Santarém.
Começando por fazer um balanço do último ano, Bruno Moreno alertou para medidas que foram anunciadas e que a Associação até encarou “com entusiasmo”, mas que “tardam em sair do papel”, não se traduzindo, pelo menos até ao momento, “em mudanças concretas no terreno”.
“Continuámos a assistir a políticas centradas quase exclusivamente na doença aguda – no Hospital, no Serviço de Atendimento Complementar, no Centro de Atendimento Clínico, no SNS 24 e na Urgência –, em vez de se fazer uma aposta clara na prevenção e na saúde ao longo da vida”, referiu, concluindo:
“Isso significa que o sistema continua a reagir, em vez de antecipar o problema; que os cidadãos e os profissionais não são ouvidos, que continuamos a apagar incêndios em vez de construir soluções duradouras.”
Bruno Moreno
Reconhecendo que até surgiram novas estruturas e equipas, Bruno Moreno lançou o apelo para que, por exemplo, a recém-criada Equipa Nacional de Apoio à Implementação e Desenvolvimento das USF B, “há muito esperada, faça agora sentir a sua presença no terreno de forma efetiva”.
“Precisamos que avance, que visite as unidades, que ajude as equipas a crescer e a criar cultura organizacional de USF, que enquadre as ULS na sua ação nos CSP, que ajude na desburocratização, que motive e apoie para que apareçam mais USF”, afirmou, frisando: “O que o SNS necessita agora é de execução, de planeamento e de responsabilidade.”
Referindo-se ao estudo “O Momento Atual da Reforma dos CSP em Portugal 2024/25”, promovido pela USF-AN, confirmou concordar a Associação que se dê atenção a seis medidas sugeridas pelos coordenadores das unidades que participaram no inquérito: conciliação entre vida profissional e pessoal, políticas que priorizem os CSP, interoperabilidade entre sistemas informáticos, melhoria da referenciação hospitalar, incentivos institucionais eficazes, redução do tamanho das listas de utentes.
Comissão organizadora
Bruno Moreno sublinhou que “se há tema transversal a todos os outros é o das pessoas, porque são elas que fazem o modelo funcionar”. E enumerou os utentes, os médicos, os enfermeiros, os secretários clínicos e as outras profissões “que mantêm viva a missão dos CSP”. No entanto, recordou:
“As carreiras continuam estagnadas, os incentivos são insuficientes e as condições são muitas vezes desiguais. Muitos de nós continuamos a dar o máximo... com o mínimo! Os concursos não são preenchidos na totalidade, as necessidades reais não são públicas e as mobilidades são dificultadas até dentro da mesma ULS. É preciso que o sistema reconheça o valor, a dedicação e o impacto real das equipas no terreno.”
Lívia Galão, presidente da Comissão Organizadora, e André Biscaia, presidente da USF-AN
Admitindo que as ULS “trouxeram novas oportunidades”, o vice-presidente da USF-AN logo se referiu também a “novas preocupações”, identificando algumas. Por exemplo, nas zonas de baixa densidade populacional, “as decisões estão cada vez mais longe de quem conhece as comunidades, e a autonomia, que foi e é o motor das USF, não pode ser engolida pela centralização”.
Para além de que “a comunicação entre cuidados continua com entropia, o utente ainda não é o centro dos cuidados, a integração só faz sentido se for para reforçar as equipas, não para as diluir, e precisamos de proximidade”. Salientando que “as USF não podem ser todas iguais”, destacou, nomeadamente, as características sociodemográficas, culturais ou religiosas que as diferenciam, concluindo que “a receita que faz a maioria não pode ser aplicada a todas as realidades”.
Nota: A notícia completa pode ser lida no Jornal Médico, edição de dezembro 2025.


