Serviço de Urgência do Hospital de Braga: Especialistas debatem a «urgência dos meios complementares»
Com o propósito de melhorar as competências dos profissionais clínicos na área da medicina de agudos realizam-se, no próximo sábado, as III Jornadas de Cuidados Intermédios e Urgência do Hospital de Braga. O evento, que se realiza subordinado ao tema “Urgência dos Meios Complementares”, decorrerá nos Auditórios do Hospital de Braga e é dirigido a profissionais de saúde e estudantes da área.
Em entrevista à Just News, no âmbito do 2.º Congresso Nacional de Urgência, que se realizou exatamente em Braga, o mês passado, Jorge Teixeira, coordenador do Serviço de Urgência do Hospital de Braga, explica as vantagens do modelo de Urgência Dedicada, implementado nesta unidade hospitalar desde 2011.
Segundo o médico, “a qualidade do serviço melhora substancialmente quando se tem uma equipa dedicada”, sendo que, entre as principais vantagens está o facto de ser mais fácil para os médicos a tempo inteiro cumprir protocolos, estar dentro do espírito da equipa e divulgar conhecimento. Adicionalmente, aponta, “há mais segurança no trabalho e maior previsibilidade dos horários”.
Apesar do número de médicos dedicados ao Serviço de Urgência ter vindo a aumentar progressivamente nos últimos anos no Hospital de Braga (atualmente, 12 especialistas em Medicina Interna e 10 em Medicina Geral e Familiar), estes não conseguem atender todos os doentes que recorrem à Urgência, sendo, por isso, necessário recorrer à colaboração de médicos tarefeiros (também das especialidades de Medicina Interna e de Medicina Geral e Familiar, e outras).
Em média, procuram a Urgência do Hospital de Braga cerca de 570/580 utentes por dia, dos quais cerca de 2/3 são laranjas e amarelos (os mais prioritários) e 1/3 são verdes (pouco prioritários).
Com o objetivo de poder contar apenas com médicos a tempo inteiro, foi recentemente feita uma proposta à Administração do Hospital para aumentar o número de médicos do quadro para um total de 16 internistas e 20 especialistas em Medicina Geral e Familiar.
Além da atividade clínica, o Serviço produz trabalhos científicos, desenvolve investigação e organiza umas jornadas científicas. No futuro, pretende desenvolver a área da ecografia de cabeceira, em que já é muito forte.
Medicina da Urgência: o futuro?
Ainda que defenda a Urgência Dedicada, na opinião de Jorge Teixeira, o modelo de gestão ideal seria aquele que incluísse especialistas em Medicina de Urgência, uma especialidade que já existe na maior parte dos países da Europa, mas que não há em Portugal.
Jorge Teixeira.
De acordo com o médico, comparativamente com a Medicina Interna, a especialidade de Medicina da Urgência é mais abrangente, sobretudo no que respeita ao treino no trauma e cirúrgico que, salienta, “é importante para o médico da urgência” e é curto na formação do internista.
Segundo o diretor do Serviço de Urgência do Hospital de Braga, se existisse Medicina de Urgência, a organização do trabalho melhorava muito, sendo que a polémica que existe a nível nacional sobre o descanso compensatório não se colocava, porque a maior parte dos médicos não estava de urgência noturna. Além disso, “o trabalho tornava-se mais eficiente e libertavam-se cirurgiões e ortopedistas de atividades menos diferenciadas, que estes especialistas não estão especialmente vocacionados para realizar”.
Antes da sessão de encerramento, e sob a moderação de Jorge Teixeira, realiza-se a conferência "Ecografia Point of Care no serviço de urgência", que será proferida por José Mariz, assistente hospitalar de Medicina Interna do Hospital de Braga.
A propósito deste tema, e também no âmbito do 2.º Congresso Nacional de Urgência, José Mariz afirmava que "a ecografia à cabeceira do doente introduz algo de potente e novo na forma de abordar o doente: como uma ferramenta que aumenta o poder do exame físico, mas onde não é necessário ´guardar` imagens ou ´cobrar` o serviço correspondente à competência, da mesma forma que um médico não necessita contabilizar o uso do estetoscópio, oftalmoscópio ou otoscópio".
Na sua opinião, e em contraponto à ecografia convencional, "a ecografia à cabeceira do doente realizada pelo médico não radiologista, e particularmente no serviço de urgência (SU), destina-se a obter a informação necessária a ser usada no imediato, sem necessidade de registo, de forma a responder a questões específicas relacionadas com o problema clínico".
O programa completo das III Jornadas de Cuidados Intermédios e Urgência do Hospital de Braga pode ser consultado aqui.