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Opinião

«A anemia não reflete um processo de envelhecimento normal»


Ana Bela Sarmento Ribeiro

Prof. associada com agregação. Diretora da Clínica Universitária de Hematologia e do Laboratório de Oncobiologia e Hematologia da FMUC. Especialista em Hematologia, CHUC. Investigadora do CIMAGO/FMUC e do CIBB



A população mundial está a envelhecer, em particular no Mundo Ocidental, no qual aproximadamente 10% da população tem idade superior a 65 anos. Este processo de envelhecimento da população acompanha-se de um aumento da prevalência da incapacidade, dependência funcional e doenças crónicas, assim como de um aumento do risco de morbilidade e mortalidade por situações agudas.

A anemia, definida pela OMS como uma concentração de hemoglobina inferior a 12 g/dl em mulheres não grávidas e inferior a 13 g/dl em homens, afeta negativamente a saúde da população idosa, estando associada a pior qualidade de vida e a maior morbilidade e mortalidade.

A anemia surge com muita frequência na prática clínica, podendo afetar cerca de dois biliões de pessoas em todo o mundo, em particular os adultos mais velhos, e com estimativas de prevalência crescente em função da idade. Estudos populacionais como o NHANES III (The third National Health and Nutrition Examination Survey) verificaram que a prevalência de anemia varia de acordo com o sexo, raça, cor e idade, sendo superior a 20% nos indivíduos com idades superiores a 85 anos.

Neste estudo as deficiências nutricionais representavam um terço de todas as anemias, metade das quais eram secundárias à deficiência de ferro. Um terço da população estudada tinha anemia por doença crónica, anemia por doença renal crónica, ou ambos, e o terço restante foi designado como anemia inexplicável.

No entanto, nos idosos, a anemia pode ser multifatorial. Neste sentido, é fundamental identificar a causa da anemia, pois, a escolha da intervenção terapêutica adequada depende da etiologia da mesma, devendo sempre que possível tratar-se a doença de base, pois, muitas vezes esta medida permite a correção da anemia.

Em Portugal, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a anemia possa atingir 15% da população. O estudo EMPIRE revelou que a prevalência da anemia é superior à estimada pela OMS para o nosso país, atingindo valores próximos de 20% na população em geral. Um subestudo do EMPIRE mostrou que a anemia foi mais prevalente em indivíduos com idade superior ou igual a 80 anos, atingindo os 31,4%.

A anemia não reflete um processo de envelhecimento normal, mas é um marcador de patologia subjacente e/ou a causa de desregulação fisiológica, sendo considerada um importante fator independente que contribui para a morbilidade, mortalidade e fragilidade em doentes idosos.


Ana Bela Sarmento Ribeiro

Além do impacto do envelhecimento na hematopoiese em geral, as repercussões na eritropoiese podem ocorrer por alterações intrínsecas da célula estaminal hematopoiética, ou das células progenitoras eritroides e/ou do microambiente hematopoiético local, e por alterações nos mecanismos de controlo humorais.

A anemia não é uma consequência pura do envelhecimento e nunca deve ser considerada normal e inerente a este processo, uma vez que o seu tratamento pode ser simples e eficaz, com grandes benefícios para a vida do idoso. Dado que a anemia não é uma condição benigna na velhice, é necessário maior atenção ao diagnóstico e tratamento da anemia na população idosa.

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