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A Cirurgia Vascular "tem tido uma evolução acentuada nos últimos 50 anos”




Professor catedrático jubilado, António Braga, primeiro presidente da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular (SPACV), foi um dos colaboradores da primeira equipa de Cirurgia Vascular no Porto, cujo responsável era António Tenreiro, integrada no Serviço de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMP), do qual Álvaro Rodrigues era diretor.

Em conversa com o Jornal do XIV Congresso da SPACV, António Braga efetua uma revisão da investigação realizada na área da Cirurgia Vascular entre a década de 60 e 70, não só no setor Cardiovascular da Clínica Cirúrgica do Hospital de São João/FMUP, mas também na unidade de cirurgia experimental do Instituto de Anatomia (Hernâni Monteiro) e noutros serviços de cirurgia deste hospital.

Começa por referir uma tese de doutoramento apresentada por Gil da Costa (Anatomia Patológica; diretor Amândio Tavares), em 1965, que incidiu sobre aterosclerose aórtica. De acordo com António Braga, o trabalho de Gil da Costa é notável na revisão do tema, no aspeto anátomo e histopatológico e nas respetivas conclusões. O especialista faz questão de sublinhar, também, a existência de três interessantes teses de licenciatura, que incidiram sobre temas vasculares, realizadas no Serviço de Clínica Cirúrgica.

E relata, sumariamente, a metodologia e as conclusões da sua própria investigação, versando o tema “Oclusão arterial fémoro-poplítea”, salientando que deve ser tida em consideração a época e o contexto em que ocorreu o respetivo trabalho (década de 60). Ao explicar a sua tese de doutoramento, realça que, apesar do grande avanço na área da Biologia Molecular no que diz respeito à aterosclerose, o trabalho “tem alguns aspetos interessantes que estão ainda por resolver ”.

Comentando as experiências que realizou no âmbito da sua tese, agora com alguma distância sobre o assunto, António Braga menciona que, “na artéria femoral (local estudado), o comportamento das lesões não é semelhante ao que se passa na carótida ou nas coronárias, conclusão já descrita por outros”. E acrescenta ter concluído, também, que a ação muscular traumática sobre a artéria tem um papel importante, senão propriamente nas alterações das artérias, mas na trombose que as complica.

Outra situação estudada pelo especialista foi o comportamento dos lipídeos (colesterol e outros) na parede vascular por meios histoquímicos e por doseamento dos lipídeos. “A informação sobre o método de extração lipídica e a elaboração de emulsões gordas para uso parentérico utilizadas no trabalho experimental foram obtidas na Faculdade de Farmácia.”

O professor catedrático jubilado fala também sobre os trabalhos experimentais que desenvolveu no cão e no coelho. “As lesões no cão e no coelho não têm semelhança total com as humanas, embora num cão tivesse encontrado uma lesão muito parecida com as que encontrou no Homem. Essa lesão era uma placa fibrolipídica na artéria femoral, curiosamente, o animal apresentava também esteatose hepática”, adianta.

A teoria de Leary (anos 40), segundo a qual macrófagos provenientes de infiltração transendotelial constituiriam a lesão inicial da aterosclerose (teoria próxima da que hoje se aceita), foi posta em causa por Gil da Costa, ao observar a evolução daqueles macrófagos para a necrobiose no sentido da profundidade para a superfície da íntima arterial.

Na sua tese, António Braga demonstrou um fenómeno que, na altura, julgou ter descoberto, mas que já tinha sido descrito por um investigador canadiano: a facilidade de acesso de elementos do sangue por infiltração preferencial ou por dissecção, a partir dos bordos, para a base da placa aterosclerótica.

“As células carregadas de gordura que o Prof. Gil da Costa viu evoluírem da profundidade para a superfície poderiam ser células infiltradas por baixo da placa aterosclerótica, um facto pouco citado. No entanto, todos os cirurgiões vasculares sabem que a aderência da íntima arterial às camadas mais profundas é muito maior nas artérias normais do que em ateroscleróticas”, conclui António Braga.

António Braga: Uma vida dedicada à Cirurgia Vascular

António Braga licenciou-se em Medicina, em 1955, e concluiu o doutoramento, em 1969, na FMUP, com 18 valores. Em 1971, foi regente de Patologia Cirúrgica na Faculdade de Medicina de Lourenço Marques, no período da sua comissão de Serviço Militar.

Depois, foi para a Universidade de Luanda em Comissão de Serviço, onde esteve três anos na Direção do Serviço de Cirurgia 1 do Hospital Universitário e onde foi regente das disciplinas de Propedêutica e de Clínica Cirúrgicas do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Luanda. Em 1974, voltou para Portugal.

Em 1975, houve um movimento no Hospital de São João no sentido de uniformizar a Cirurgia Vascular, então praticada em dois serviços de cirurgia, mas a criação oficial da especialidade e do serviço respetivo só ocorreu em fevereiro de 1978. Neste ano, efetuou as provas do Concurso para Professor Extraordinário. Em 1982, fez o concurso para professor catedrático.

Foi o criador do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital de São João, do qual foi diretor até 2001. Nessa altura, depois de ter completado 70 anos de idade, diminuiu a atividade cirúrgica, mas começou a ensinar numa instituição de ensino privada -- CESPU --, sendo nessa época o coordenador e diretor do curso técnico de Cardiopneumologia. Colabora agora como docente do Curso de Ciências Biomédicas do Instituto Superior de Ciências da Saúde da CESPU.

O professor catedrático jubilado foi um dos pioneiros da SPACV e o seu primeiro presidente (2000-2002).

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