Opinião
«A Revolução dos Chatbots na Saúde: entre a eficiência e os desafios éticos»
Ricardo Queirós
Docente na ESMAD e na ESS do Politécnico do Porto, onde leciona as disciplinas de Introdução à Programação em Saúde Digital e Tecnologias Móveis Aplicadas à Saúde. Autor do livro Saúde Digital - Desenvolvimento de Soluções com o Node-RED (FCA)
A inteligência artificial (IA) está a transformar rapidamente o setor da saúde, trazendo consigo mudanças profundas. Desde a automação de tarefas administrativas simples até à análise avançada de dados médicos para auxiliar no diagnóstico e na personalização de tratamentos, a IA tem o potencial de melhorar a eficiência dos sistemas de saúde em várias frentes.
A capacidade de processar grandes volumes de dados, aliada a algoritmos de aprendizagem profunda e processamento de linguagem natural, está a abrir novos horizontes na medicina, oferecendo soluções mais rápidas e eficazes.
No centro desta revolução digital encontram-se os chatbots – assistentes virtuais altamente sofisticados, capazes de interagir com pacientes e profissionais de saúde de forma natural e contextualizada. Embora os chatbots já existissem, com o exemplo pioneiro de Eliza, criado na década de 1960, foi com o advento da IA generativa que esses sistemas se tornaram muito mais inteligentes e capazes de compreender e responder de forma mais precisa e personalizada.
O desenvolvimento de modelos de linguagem de grande escala (LLM – Large Language Models), como o ChatGPT e outros, tem sido um marco importante nesta evolução, permitindo que chatbots realizem uma vasta gama de funções, desde o apoio na gestão de consultas até à recomendação de tratamentos.
Ricardo Queirós
Além disso, a democratização da IA, proporcionada por modelos como o DeepSeek, tem permitido que mais instituições de saúde integrem essas soluções inovadoras nos seus serviços, acessíveis a custos mais baixos e com maior facilidade. Com isso, a IA começa a desempenhar um papel central na redefinição dos cuidados de saúde, mas também desafios que exigem cautela e responsabilidade.
Chatbots na Saúde: oportunidade ou risco?
Em Portugal, já existem exemplos concretos do uso de chatbots na saúde. A Tonic App, por exemplo, desenvolveu uma aplicação com chatbot de IA que auxilia médicos em tarefas clínicas e administrativas. Mais recentemente, a Unidade Local de Saúde (ULS) de Santo António lançou o "Antonius", um assistente digital que fornece informações em tempo real aos utentes, com base em LLMs e processamento de linguagem natural (NLP - Natural Language Processing).
Contudo, o uso de IA generativa na saúde apresenta riscos. A personalização dos diagnósticos requer um controlo rigoroso de qualidade e validação médica. Erros de interpretação, vieses nos dados de treino e falta de transparência nos algoritmos podem comprometer a segurança dos pacientes. Além disso, a integração desses sistemas com bases de dados clínicas exige alta interoperabilidade e proteção da privacidade. A legislação europeia, como o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) e o AI Act, procura regular esses aspetos, garantindo os direitos dos cidadãos.
A necessidade de profissionais especializados em Saúde Digital
A implementação de soluções baseadas em IA na saúde requer que os profissionais adquiram competências em saúde digital. Médicos e enfermeiros precisam de compreender o funcionamento dos modelos de IA, os seus limites e riscos. A formação em interoperabilidade de sistemas, ética da IA e validação de algoritmos clínicos deve ser uma prioridade na educação médica. Sem esse conhecimento, pode surgir uma medicina dependente da tecnologia, incapaz de questionar os resultados e garantir a segurança dos pacientes.
O livro Saúde Digital explora muitos desses desafios, abordando como a tecnologia pode ser uma aliada poderosa na transformação do setor. O sucesso depende de encontrar o equilíbrio entre inovação e responsabilidade, de forma a assegurar que a IA seja uma ferramenta de apoio, e não um risco para pacientes e profissionais.
O futuro: IA como complemento, não substituição
Embora os chatbots, com o seu poder de processamento e resposta rápida, ofereçam avanços significativos, é fundamental lembrar que o controlo humano deve permanecer no centro para garantir que a tecnologia seja usada de forma ética e responsável, especialmente quando se trata de decisões críticas para a saúde e bem-estar dos pacientes.