Opinião
Consulta de Enfermagem de Hipertensão Pulmonar «é fundamental para a autonomia do doente»
Andreia Bernardo
Enfermeira responsável pela Consulta de Enfermagem de Hipertensão Pulmonar do CTHAP - Centro de Tratamento de Hipertensão Arterial Pulmonar do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte - Hospital Pulido Valente.
A realização da Consulta de Enfermagem de Hipertensão Pulmonar do Centro de Tratamento de Hipertensão Arterial Pulmonar (CTHAP) do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte - Hospital Pulido Valente (CHULN-HPV) é assegurada por cinco enfermeiras.
Esta área constitui um grande desafio para as enfermeiras pelas suas especificidades, o que exige uma constante atualização de conhecimentos. A HP, sendo uma doença crónica, provoca grandes limitações na vida do doente, com forte impacto familiar, social e profissional, exigindo da enfermeira uma grande disponibilidade e um acompanhamento regular, onde a relação terapêutica tem um papel crucial.
A Consulta de Enfermagem tem como objetivo promover a excelência na prestação de cuidados de enfermagem ao doente com HP e sua família, tendo como foco a autonomia daquele na gestão da sua patologia e a melhoria da sua qualidade de vida.
A intervenção da enfermeira passa por realizar uma avaliação global do doente. O objetivo é identificar sinais e sintomas da descompensação da doença, bem como as limitações decorrentes da mesma na realização das atividades de vida, e estabelecer um plano de cuidados de enfermagem, no sentido de capacitar o doente para o autocuidado.
Na consulta, é efetuado o ensino de estratégias para minimizar o cansaço do doente no dia-a-dia, em atividades da vida como higiene pessoal, vestir/despir, caminhar, atividades domésticas e outras.
Em todas as consultas é efetuada uma avaliação hemodinâmica não invasiva com avaliação de sinais vitais, oximetria e da escala de Borg e é aplicado o questionário de qualidade de vida (SF 36 v2), na primeira consulta e anualmente.
Andreia Bernardo
Consideramos fundamental que o doente esteja informado sobre a sua situação de saúde, pelo que na consulta a enfermeira informa sobre a doença e explica quais os sinais e sintomas a que deve estar atento e quais as situações em que deve entrar em contacto com a equipa de saúde.
Uma das áreas de intervenção da equipa de enfermagem é a promoção e a supervisão da adesão do doente ao regime terapêutico, incluindo tratamentos adjuvantes tais como oxigenoterapia, ventilação não invasiva e inaloterapia.
Atualmente, a medicação específica disponível para a HP pode causar marcados efeitos secundários, levando a alterações na vida familiar, social e profissional, o que poderá condicionar a adesão à terapêutica instituída.
Embora a maior parte da medicação específica seja oral, existem outras formas de administração, no caso dos prostanóides – inalada, subcutânea e endovenosa –, em que o papel da enfermeira é muito importante. Nestes casos, é ensinada ao utente a preparação do fármaco (inalado e subcutâneo), a realização correta da inalação, a substituição da seringa e da cassete de perfusão e a programação das bombas de perfusão subcutânea e endovenosa, de modo a promover a sua autonomia no domicílio.
O papel da enfermagem é fundamental na sensibilização do doente para a importância da toma correta da medicação (dosagem e horários), no acompanhamento de forma continuada do doente, ajudando-o a adequar e a adotar estratégias direcionadas e individualizadas para minimizar o impacto negativo dos efeitos secundários e, consequentemente, melhorar o nível de adesão à terapêutica.
Uma intervenção precoce e contínua na otimização da terapêutica, na gestão de efeitos secundários e na identificação de sinais e sintomas de descompensação da doença contribuem para diminuir a sua agudização, as complicações e o número de reinternamentos e melhorar a qualidade de vida da pessoa.
Sempre que se justifique, a enfermeira realiza o ensino sobre a importância da adoção de estilos de vida saudáveis, nomeadamente, com uma alimentação equilibrada, cessação tabágica, redução de ingestão de bebidas alcoólicas e a prática de atividade física regular e adequada à situação clínica.
Em cada consulta é feita ainda a avaliação dos apoios sociais e familiares e identificadas situações a serem encaminhadas para o assistente social. A referenciação para outros profissionais de saúde da equipa, como o psiquiatra, a psicóloga ou o nutricionista, é feita em articulação com o médico.
De realçar a articulação existente com a farmacêutica, sendo uma mais-valia na monitorização destes doentes, para aumentar a segurança e eficácia dos tratamentos.
Em algumas situações é também realizada a articulação com o ACES da área de residência do doente, para garantir a continuidade na prestação de cuidados.
Cuidar de doentes com HP tem sido, durante estes cinco anos, uma experiência muito enriquecedora para a equipa de enfermagem. São doentes que necessitam de muito apoio e com os quais se estabelece uma relação de ajuda que é fundamental, pois, através dela, transmitimos informação, segurança e confiança.
Neste sentido, a parceria com o doente e a família e a articulação entre os vários elementos da equipa multidisciplinar potenciam o sucesso da prestação de cuidados de saúde.
Artigo publicado na edição de maio/agosto de 2020 da revista Coração e Vasos.