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Opinião

«Os Cuidados paliativos não se restringem aos cuidados de fim de vida»


Elga Freire

Coordenadora do NEMPal da SPMI. Responsável pela equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos (EIHSCP) do Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP).1



De acordo com a definição de 2018 da Associação Internacional de Cuidados Paliativos (CP), trata-se de “cuidados holísticos, ativos, prestados a indivíduos de todas as idades, com sofrimento intenso decorrente de doença grave, especialmente dirigidos àqueles perto do fim de vida.

São aplicáveis durante todo o curso da doença, de acordo com as necessidades da pessoa doente. Sempre que necessário, são fornecidos em conjunto com intervenções terapêuticas modificadoras da evolução da doença. São aplicáveis em todos os contextos de prestação de cuidados (domicílio e instituições) e em todos os níveis de cuidados (primário ao terciário)”.

Esta definição esclarece muitos conceitos errados relativos ao âmbito dos CP, ainda muito comum entre os profissionais de saúde e os internistas. Os CP não se restringem aos cuidados de fim de vida, pois, sendo consensual que integram esta vertente da vida dos doentes, vão muito para além dela.

Tem sido demonstrado que os CP introduzidos numa fase mais precoce, a par dos tratamentos dirigidos à cura, melhoram a qualidade de vida e aumentam a sobrevida dos doentes.

Para além disso, os CP diminuem os tempos de internamento hospitalar, os reinternamentos, a futilidade terapêutica, o recurso ao serviço de urgência e aos cuidados intensivos, diminuindo os custos em saúde.

Assim, os CP devem ser integrados nos cuidados multidisciplinares aos doentes com doenças crónicas, oncológicas e não oncológicas, tanto em ambiente hospitalar como no domicílio.

A resposta deve passar pela mudança dos cuidados prestados aos doentes crónicos e terminais, o que implica, sobretudo, a formação e treino em CP de todos os profissionais de saúde e a criação de estruturas em número suficiente para poder responder às reais necessidades da população portuguesa.



Nem todos os doentes necessitam de uma resposta do hospital de agudos embora, muitas vezes, recorram a estas instituições por falta de estruturas comunitárias.

É urgente haver um maior empenhamento das políticas de saúde e sociais para que se implementem as várias estruturas já definidas, nomeadamente os cuidados paliativos domiciliários.

A experiência internacional demonstra que as Equipas de Suporte em Cuidados Paliativos têm grande impacto na melhoria dos cuidados, sensibilizando transversalmente outros profissionais para a sua prática. Paralelamente, também há necessidade de unidades de internamento de Cuidados Paliativos para acompanhamento dos casos mais complexos e para formação e investigação.

A falta de sensibilização dos profissionais de saúde para os CP é igualmente relevante e, na minha opinião, prende-se sobretudo com a insuficiente formação nesta área. Parece-me prioritária a reformulação dos currículos do ensino pré e pós-graduado para integrar os CP de forma transversal e adequada, incluindo a formação dos internos de Medicina Interna.

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