Opinião

«Experiências locais que demonstram todo o potencial dos cuidados de saúde primários»


Luís Pisco

Presidente do Conselho Diretivo da ARS de Lisboa e Vale do Tejo



Realising the Potential of Primary Health Care é o nome de um estudo recentemente divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que, não obstante ter dados recolhidos antes da pandemia, torna-se ainda mais pertinente no momento que atravessamos, por força da covid-19.

O estudo elaborado pela equipa de políticas de saúde da OCDE conclui que há várias experiências locais que conseguem demonstrar todo o potencial dos cuidados de saúde primários (CSP) no reforço da efetividade, eficiência e equidade dos sistemas de saúde. Para que os países possam, de forma estruturada e abrangente, concretizar oportunidades para melhorar os seus CSP, há que considerar alguns dos elementos-chave que são comuns às já referidas experiências promissoras.

Desde logo, há que apostar em modelos de prestação de cuidados que assentam em equipas multiprofissionais que tiram vantagem da tecnologia digital e se articulam de forma efetiva com os cuidados hospitalares e continuados. “Capacitar os utentes e medir de que forma os CSP geram resultados que realmente fazem a diferença para os utilizadores dos serviços também são essenciais para a prestação de cuidados com um nível elevado de desempenho”, refere o estudo.

Por último, defende-se a existência de incentivos económicos de modo a encorajar o trabalho em equipa e a coordenação entre vários níveis de cuidados, bem como para reforçar a prevenção e a continuidade dos cuidados, especialmente junto dos doentes crónicos.

O exemplo de Portugal é analisado como tendo uma boa experiência de articulação entre CSP e cuidados hospitalares, através dos projetos de telemedicina na área da Dermatologia, por exemplo.


Luís Pisco

Também é referenciado como sendo um sistema com equipas multidisciplinares pagas por desempenho e até unidades móveis que, sobretudo em meios rurais, levam os cuidados primários até comunidades vulneráveis -- com maiores dificuldades de acesso e necessidades de saúde muito específicas. Outro aspeto positivo do sistema de saúde português reporta à existência de indicadores de desempenho clínico e de eficiência.

Mas o nosso País também é referenciado como sendo um dos estados da OCDE onde os médicos de família têm maior carga de trabalho, onde os cidadãos esperam mais tempo por uma consulta e onde é mais elevado o recurso às urgências hospitalares. Segundo o relatório, “as idas ‘evitáveis’, ‘inadequadas’ ou ‘não urgentes’ aos serviços de Urgência representam 31% em Portugal, só ultrapassado pela Bélgica, com 56%.

Há esperança de que a pandemia tenha tido um papel importante na educação da população relativamente às situações que efetivamente justificam uma ida às urgências hospitalares e formas diferentes de contactar os serviços de saúde.

Também sabemos que há aspetos a melhorar no Serviço Nacional de Saúde (SNS) que são anteriores ao contexto pandémico e que se tornaram ainda mais evidentes na atual realidade. Por isso, este é mais um estudo que merece a atenção de profissionais, investigadores e decisores políticos, ao apresentar soluções interessantes para retirar todo o potencial dos CSP.

Em suma, o estudo Realising the Potential of Primary Health Care demonstra que cuidados de saúde modernos, robustos e eficientes reduzem as hospitalizações desnecessárias de pessoas que podem ser tratadas e acompanhadas na comunidade, além de reforçarem a capacidade dos sistemas de saúde em conter e gerir futuras crises, tornando-os mais resilientes.



Artigo publicado na edição de junho do Jornal Médico dos cuidados de saúde primários

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