Opinião

«O SNS e os portugueses merecem mais»


Miguel Guimarães

Bastonário da Ordem dos Médicos



Vivem-se tempos difíceis na Saúde em Portugal. As carências no Serviço Nacional de Saúde (SNS) estão identificadas e há muito que se ouve o Governo falar em reforço de contratação de profissionais. Clamam o ministro da Saúde e o primeiro-ministro que já foram contratados mais “nove mil profissionais”. Mas os pouco mais de (efetivamente) 8000 profissionais de saúde contratados não chegam.

E já são, inclusive, os próprios cidadãos a reclamar, em nome próprio, melhor qualidade de acesso aos cuidados de saúde.  Tal como aconteceu em setembro, com a Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo a entregar na residência oficial do primeiro-ministro um caderno reivindicativo para melhorar as condições de acesso aos serviços de saúde daquela região, no qual constavam mais de 10 mil assinaturas.

Agora chegou o tempo de passar à ação. Depois de mais de um ano de esforços para concretizar consensos, de uma primeira Convenção Nacional da Saúde, este mês de outubro será decisivo. O Orçamento de Estado deve – tem! – de refletir o “compromisso com a saúde e com a defesa do Serviço Nacional de Saúde” reafirmado pelo Dr. António Costa. Disse o Primeiro- Ministro que não dialoga comigo, enquanto bastonário da Ordem dos Médicos (OM), mas com os portugueses.

Que assim seja, efetivamente: um diálogo franco, aberto e, essencialmente, realista. Que as promessas de “salvar o SNS” que se bradam em tempo de efemérides – o SNS cumpriu a 15 de setembro 39 anos – sejam realizáveis e realizadas, concretas, como “concreto” é, diz o primeiro-ministro, o seu compromisso com os portugueses.



Numa altura em que se discute o Orçamento de Estado para o próximo ano, esperamos todos – médicos e doentes – ver, concretamente, a dotação orçamental para a Saúde. O SNS é uma das maiores bandeiras da democracia e, desde 1979, assenta essencialmente no trabalho e dedicação de várias gerações de médicos.

Foi a partir do relatório das carreiras médicas, embrião do SNS que lhe daria forma e substância, que se edificou a estrutura que hoje constitui a nossa “pérola” da Saúde, que se construíram serviços, que se ensinaram milhares de internos e salvaram milhões de portugueses, que se melhoraram os indicadores do país.

Queremos e merecemos mais: queremos melhores indicadores de igualdade no acesso, mais e melhor financiamento para o serviço público, respeito não apenas pelos médicos que estiveram na génese do SNS, mas por todos os médicos e profissionais de saúde que até hoje continuam a trabalhar – mesmo sem as condições adequadas – para cuidar dos portugueses e travar a desumanização da relação médico-doente.

O nosso SNS precisa (e merece) de muito mais. De mais médicos. De mais profissionais de saúde, em geral. De mais equipamentos. De mais financiamento. De mais respeito. Respeito por todos os portugueses, afinal!

Contamos todos com o compromisso “concreto” (nunca é demais lembrá-lo) do Governo. E a Ordem dos Médicos estará sempre disponível para o diálogo e para contribuir para a defesa do nosso SNS, devolvendo-lhe a essência da sua matriz: equidade no acesso, solidariedade e o respeito pela dignidade humana, dos doentes, mas também dos profissionais. Porque, repito-o, no dia em que o SNS não seja sustentável, esse será o dia em que a democracia também não será sustentável!




O artigo pode ser lido no Hospital Público de outubro.

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