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Opinião

Acompanhamento dos doentes hipertensos: «O médico de família tem uma posição privilegiada»


Ana Correia de Oliveira

Coordenadora da USF Cedofeita. Membro da Comissão Organizadora das II Jornadas Multidisciplinares de MGF



A hipertensão arterial é o fator de risco cardiovascular mais prevalente a nível mundial, aumentando significativamente com o envelhecimento. Portugal não é exceção, traduzindo uma fatia significativa das consultas de MGF.

O médico de família tem uma posição privilegiada no acompanhamento dos doentes hipertensos, pois, é o profissional de saúde que mais conhece o seu contexto pessoal, familiar e a interação do doente com a sociedade.

Mas essa posição traz também uma elevada responsabilidade, pois, tem um papel fundamental na literacia em saúde do doente hipertenso, abordando os riscos inerentes ao mau controlo da pressão arterial e a interação com outras doenças sinérgicas, como diabetes, dislipidemia e obesidade, entre outras.

A adesão terapêutica deve ser sempre um tema abordado na consulta, assim como a vigilância da pressão arterial e a necessidade de controlar outros fatores de risco cardiovasculares.

A proximidade com o doente permite ao médico ser um parceiro na adoção de estilos de vida saudáveis, baseados na cessação tabágica, na restrição de sal, na moderação do consumo de álcool, no aumento do consumo de legumes e frutas, em dietas com baixo teor de gordura, na redução de peso e respetiva manutenção e no exercício físico regular.

No entanto, estas medidas demonstram um baixo nível de adesão ao longo do tempo, pelo que o doente necessita frequentemente de medicação anti-hipertensora.

A covid-19 veio alterar o acompanhamento dos doentes hipertensos em muitos aspetos. Primeiro, observou-se a desmarcação das consultas de hipertensão e o seu reagendamento em data posterior, reduzindo assim as consultas de seguimento dos doentes.



Ana Correia de Oliveira

Depois, pela incerteza do futuro, muitos doentes adquiriram a medicação crónica para vários meses, sendo prejudicial na medida em que a medicação anti-hipertensora pode, a qualquer momento, ser modificada, caso se verifique alteração da sua doença.

Mesmo entre a comunidade científica, por ser uma doença recente, surgiu a hipótese de que alguns medicamentos anti-hipertensores fossem prejudiciais ao doente, sendo posteriormente desmentido pela evidência científica. Todos estes fatores levaram a um período de menor acompanhamento dos doentes, com prejuízo para a sua saúde.

No entanto, a adaptação dos médicos de família e respetivos utentes a esta nova realidade foi quase imediata. Foi adotada a teleconsulta e foi reforçada a partilha de informação por correio eletrónico.

A MGF está em constante adaptação e, provavelmente, a teleconsulta será um complemento a adotar no futuro às consultas presenciais dos doentes hipertensos. Mas nada substitui uma consulta presencial, com a devida avaliação do doente, incluindo a medição da pressão arterial e a partilha de experiências, utilizando a linguagem verbal e não verbal.

E é essa adaptação a novas realidades e a compreensão das necessidades dos doentes que reforça a relação médico-doente, tão característica desta especialidade.



Artigo publicado na edição de maio do Jornal Médico dos cuidados de saúde primários, no âmbito de um Suplemento dedicado às II Jornadas Multidisciplinares de MGF, que se realizam em novembro.

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