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Opinião

Diagnósticos de Enfermagem: «É urgente a implementação de políticas salutocêntricas»


Pedro Melo

Especialista em Enfermagem Comunitária. Professor auxiliar convidado do Instituto de Ciências da Saúde / Escola de Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa



O processo eleitoral decorrente no mês de janeiro permitiu a todos os partidos apresentarem propostas nos seus programas eleitorais, onde a saúde, de uma forma mais completa nuns e mais superficial noutros, não pôde ser ignorada, pela importância epicêntrica que tem na vida dos portugueses e das portuguesas.

Independentemente do Governo constituído com os resultados de 30 de janeiro, a análise das propostas multipartidárias para o setor em saúde tem vários fios condutores comuns, havendo divergências no contexto dos eixos privado-público, onde, como se numa estrada, há partidos a conduzir em sentido contrário uns dos outros nesta matéria.

O Diagnóstico de Enfermagem, neste domínio, não pretende focar-se na análise do sentido desta circulação dos diferentes partidos, mas antes no combustível que todos usam na generalidade para alimentar os seus veículos de decisão: “o medicocentrismo plus”.

Senão, vejamos: apesar da clara indicação (mais objetiva nuns partidos que noutros) do investimento na promoção da saúde, na descentralização e nos cuidados de proximidade (ora privados, ora públicos, dependendo da direção do sentido), o combustível aditivado com ideologia medicocêntrica, continua a encarar a saúde como sinónimo de doença e a prevenção da saúde em detrimento da promoção da saúde, conceitos comummente confundidos, mas tão diversos.

Priorizar o acesso a médico de família a todos os portugueses é importante, sem dúvida. Mas há uma série de cuidados que não são centrados na doença e na sua prevenção, mas nas infirmezas e na promoção da saúde. Priorizar o acesso ao enfermeiro de família, não confundindo cuidados de enfermagem com cuidados médicos, seria fundamental para garantir o acesso dos portugueses e das portuguesas aos cuidados de que efetivamente precisam.


Pedro Melo

O envelhecimento da população, a clara dificuldade na gestão da pandemia (associada à carência de conhecimentos, crenças comprometidas, autocontrolos da infeção ineficazes), a gestão da doença crónica (com a demanda da otimização da gestão do regime terapêutico e dos comportamentos de procura de saúde), os processos de tomada de decisão comprometidos relacionados com os estilos de vida são apenas alguns exemplos das evidentes infirmezas dos portugueses e portuguesas, que demandam o acesso a cuidados de Enfermagem, principalmente cuidados especializados.

É preciso priorizar o acesso aos cuidados de Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública, otimizando os recursos especializados das unidades de Saúde Pública (para garantir a saúde mais do que apenas prevenir a doença nas populações).

É preciso priorizar o acesso aos cuidados de Enfermagem de Saúde Familiar (para garantir a promoção da saúde das células da sociedade que são as famílias). É preciso priorizar o acesso a cuidados de enfermagem de saúde infantil e pediátrica e de saúde materna e obstétrica, aproveitando o potencial das UCC.

Garantir enfermeiros especialistas de Saúde Mental e Psiquiátrica para efetivamente desinstitucionalizar os doentes e para promover a saúde mental nas comunidades (mais uma vez um potencial a garantir nas UCC). É preciso assegurar o acesso a cuidados de enfermagem de reabilitação (nos idosos e nos mais novos, pois, desde as dependências no autocuidado aos problemas posturais nas crianças em idade escolar, há um grande caminho a percorrer).

É preciso melhorar os cuidados de enfermagem às pessoas em situação paliativa (para garantir, efetivamente, a qualidade de vida e o controlo do sofrimento) e às pessoas em situação crónica, mas também crítica (com grandes carências nos serviços de Urgência ou nas unidades de Cuidados Intensivos. E assegurar a segurança dos cuidados especializados às pessoas em situação perioperatória.

Nada destes contextos é evidente nos programas eleitorais e quando se fala mais na valorização das especialidades em enfermagem ainda é mais evidente o discurso “para libertar o médico para outras funções diferenciadas”. Este conceito erróneo de mistura centrifugada de tarefas com competências é inimigo do foco nas necessidades reais de saúde das pessoas.

Os enfermeiros não substituem. Os enfermeiros oferecem cuidados especializados de acordo com diagnósticos que só eles podem fazer: os diagnósticos de Enfermagem. São, por isso, urgentes políticas salutocêntricas.

Os combustíveis aditivados de medicocentrismo corroem os motores do Sistema de Saúde.

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