«É crucial a participação multidisciplinar na gestão dos doentes com insuficiência cardíaca»
“Aliados para cuidar” foi o mote da IV Reunião do Núcleo de Estudos de Insuficiência Cardíaca (NEIC), e é precisamente a “participação multidisciplinar na gestão dos doentes com insuficiência cardíaca” uma das ideias defendidas por Joana Pimenta, a coordenadora do NEIC da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, em declarações à Just News. O evento decorreu em meados de junho, no Porto.
“Cada vez mais os doentes são complexos, não só em termos das patologias que têm além da insuficiência cardíaca, mas também relativamente a outras necessidades, seja de reabilitação, nutrição ou enfermagem”, começa por contextualizar Joana Pimenta, que também dirige o Serviço de MI do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho.
Nessa ótica, foi desenhada uma sessão que visou precisamente abordar a experiência de vários agentes em equipas multidisciplinares hospitalares, concretamente, a enfermagem, a reabilitação, a nutrição, a farmácia e o próprio doente.
No caso da enfermagem, a internista realça “o seu papel extremamente importante no trabalho do autocuidado, na gestão da medicação e na monitorização dos sinais de descompensação junto dos doentes, ainda que muito reduzido, devido à falta de recursos humanos adstritos a estas estruturas”.
Joana Pimenta
Reconhece existir também uma “resposta deficitária ao nível do acesso dos doentes com insuficiência cardíaca a programas de reabilitação”, notando tratar-se de uma “resposta muito benéfica principalmente para aqueles que têm um perfil de obesidade, casos que são cada vez mais frequentes”.
A intervenção dos farmacêuticos hospitalares nas equipas é também “pouco explorada, em Portugal, quando, noutros países, já é uma realidade, de forma a ajudarem no processo de reconciliação terapêutica e na procura de interações entre as várias classes farmacológicas, dado tratarem-se de doentes que, geralmente, fazem muita terapêutica”.
Os doentes, por sua vez, também “devem ser uma voz ativa, pois, sendo o centro do trabalho das equipas, importa ouvi-los e perceber qual é o impacto que a doença tem no seu dia-a-dia, indo além dos resultados colhidos tradicionalmente ao nível de hospitalizações, mortalidade e morbilidade”.
Com um leque de palestrantes que já trabalham de perto com este tipo de doentes, o objetivo foi “reforçar a necessidade de essa colaboração ser mais difundida, tendo de haver, para tal, mais meios que permitam aos profissionais integrar equipas multidisciplinares”.
Contudo, pretende-se também que esta colaboração se verifique entre as várias especialidades médicas, e, nesse sentido, foi desenhada uma sessão sobre IC com fração de ejeção reduzida, que juntou representantes das três especialidades médicas mais envolvidas – Medicina Interna, Cardiologia e Medicina Geral e Familiar. “É muito importante o papel de todos na gestão destes doentes, não só ao nível das várias profissões, como no seio das várias especialidades médicas”, reforça Joana Pimenta.
Elementos do NEIC: Pedro Morais Sarmento, Irene Marques, Inês Araújo, Luís Santos, Vanessa Carvalho, Joana Pimenta, Ana Nascimento (Ausente na foto: César Lourenço)
O desafio de fazer chegar os fármacos aos doentes de forma rápida e adequada
A primeira conferência desta reunião contou com a participação da cardiologista Shelley Zieroth, diretora da Clínica de Insuficiência Cardíaca e Transplante do St. Boniface Hospital e presidente da Sociedade Canadiense de Insuficiência Cardíaca, que procurou “fazer uma revisão da introdução de novos fármacos, partilhar uma visão futura quanto à forma de tratar e de implementar a terapêutica”.
A internista salienta que esta última componente é “uma questão cada vez mais discutida, porque, apesar de existirem muitos e bons fármacos, há alguma dificuldade em fazê-los chegar aos doentes de forma rápida e adequada”.
A reunião encerrou com a apresentação dos dois melhores trabalhos submetidos, sobre a realidade da Medicina Interna em Portugal, sendo que um deles abordou a organização de cuidados, enquanto outro visou um caso clínico. A coordenadora do NEIC destaca a “considerável participação que existiu, em número e qualidade, demonstrando que são várias as equipas que trabalham e pensam neste tipo de cuidados aos doentes”.
Além da boa afluência presencial, registou-se também uma boa adesão de forma digital, levando a que o NEIC conseguisse “cumprir o objetivo de levar esta matéria a um considerável número de colegas com interesse na área”.