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Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar celebra «20 anos a criar laços»

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem futuro, mas deverá transformar-se para acompanhar os desafios dos tempos atuais, como o acesso e a partilha de informação clínica. Esta foi das principais conclusões a que se chegou no debate que assinalou os 20 anos da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), presidida por Carlos Pereira Alves.

“20 anos com a APDH. Criar Laços. Continuar pelo SNS” foi a temática central da sessão comemorativa da APDH, que decorreu dia 4 de abril.

A iniciativa contou com um conjunto de convidados no auditório do IPO de Lisboa e online, para debaterem o estado de saúde do SNS: Carmo Gouveia, enfermeira do CHULN, Luís d’Orey Manoel, diretor do Bloco Operatório do IPO Lisboa, Carla Araújo, internista no Hospital Beatriz Ângelo, António Melo Gouveia, farmacêutico hospitalar do HFA, Iria Cristina Velez, vogal executiva da ULSBA, e Daniel Ferro, presidente do CA do CHULN.



Num momento de partilha de opiniões, os representantes dos diferentes grupos profissionais lembraram como é preciso reforçar a aposta nos sistemas de informação. Segundo a vogal Iria Cristina Velez, “o futuro do SNS passa por se adaptar à saúde digital, de modo que se consiga maior sustentabilidade, qualidade, igualdade e inclusão”.

Tal como os restantes oradores, considera que nos últimos 20 anos se têm dado passos importantes na informatização dos processos em saúde, contudo, ainda falta ter sistemas interoperáveis e o processo clínico único. O mesmo defendeu Daniel Ferro, mas deixando um alerta: “É preciso evitar que a transição digital se limite à aquisição de hardware, correndo-se assim o risco de se perder capacidade de inovação e de a mesma não dar resposta ao cidadão.”

Em suma, acrescentou: “Tem que se planear bem, caso contrário corre-se o risco de se gastar muito dinheiro e de não se otimizar a prestação de cuidados.”
Neste campo, todos os intervenientes concordaram que a digitalização tem benefícios para utentes e para profissionais de saúde, que podem aceder mais facilmente à informação clínica nas tomadas de decisão.



Carreiras e retenção de médicos

Outro ponto considerado como um desafio e, simultaneamente, uma fragilidade é a retenção dos quadros, sobretudo médicos, no SNS. Com a pandemia, mais que nunca se tem falado do que Iria Cristina Velez disse ser “uma concorrência feroz”.

Para a internista Carla Araújo, a resposta este problema está na agilização dos concursos públicos para que haja mais facilmente progressão na carreira, mas também deve passar pela Medicina Baseada no Valor. “O objetivo desta filosofia é envolver o doente, perspetivando-se cuidados de qualidade ao custo mais adequado e uma medição contínua do desempenho, no sentido de mudar o que corre menos bem. É também uma forma de motivar os profissionais.”

Daniel Ferro defendeu, ainda, que a retenção de recursos humanos tem de assentar na melhoria das condições de trabalho e nas chefias intermédias, que devem estar atentas às expectativas de quem integra os serviços. “O aumento dos salários é importante, mas não basta.”

Falou ainda de um outro desafio dos administradores hospitalares: a falta de autonomia para poderem contratar recursos sempre que seja necessário.

Ainda no âmbito das carreiras, interveio António Melo Gouveia, que alertou para o facto de esse ser “um conceito mítico” na Farmácia Hospitalar. “Na prática, nada acontece, apesar de sermos tão importantes a diferentes níveis e de a nossa área ter forte impacto por causa dos custos dos medicamentos.”

Nesse âmbito, o farmacêutico aproveitou para deixar um alerta: “O investimento e aprovação em medicamentos deve ter em conta a qualidade de vida, não basta viver mais.”



Literacia em saúde para gestão partilhada da doença

Mais do ponto de vista do cidadão, Luís d’Orey Manoel focou-se na literacia em saúde, para que quer doentes como cuidadores colaborem na gestão da doença. “Este é um papel que cabe a todos, inclusive aos profissionais de saúde; costumo dizer aos internos que temos que apostar neste ponto, sendo empáticos, escutando e esclarecendo dúvidas.” Todavia, “isso não significa passar a responsabilidade para a pessoa, mas partilhá-la”, como acrescentou.

Para a enfermeira Carmo Gouveia, a literacia e a educação para a saúde são essenciais também por “a última decisão ser a do doente”.

Houve ainda tempo de ouvir alguns participantes que assistiam, presencialmente, à sessão, e que têm sido figuras de destaque na saúde: o ex-ministro da Saúde Correia de Campos, o ex-secretário de Estado e Adjunto da Saúde, Francisco Ramos, e Constantino Sakellarides, professor jubilado da Escola Nacional de Saúde Pública.

No final, todos subscreveram as palavras de Iria Cristina Velez: “O Serviço Nacional de Saúde vai manter-se, mas é preciso pensar no que vai ser o seu futuro”.

Quanto à APDH, o presidente Carlos Pereira Alves, garantiu que a associação irá manter o seu contributo para “a inovação do SNS”, criando “laços entre diferentes grupos profissionais e setores” tal como quando começou a sua atividade, em 2002.


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