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30 anos depois, Unidade de Pé Diabético do CHP continua a ser referência nacional

Pela Unidade de Pé Diabético do Centro Hospitalar do Porto (CHP) - Hospital de Santo António (HSA) já passaram mais de 600 profissionais de saúde que ali fizeram estágios, entre médicos, enfermeiros, podologistas, técnicos e cirurgiões. “É ótimo ver consultas noutros locais, cujos profissionai se formaram connosco e que neste momento também funcionam muito bem”, realça Rui Carvalho, coordenador da Unidade.

A ausência de lista de espera é um dos motivos de orgulho daquele responsável. O endocrinologista, que integrou a Consulta Multidisciplinar de Pé Diabético do CHP-HSA em 1990, afirma que tal implica “um esforço grande” das pessoas que ali trabalham.

Para se ter uma ideia, em 2016, efetuaram-se, no total, mais de 6600 consultas, das quais 615 foram de primeira vez. No dia em que a Just News esteve na Unidade, por exemplo, a manhã ainda ia a meio e já tinham sido efetuadas 13 primeiras consultas.




O também coordenador do Grupo de Estudo do Pé Diabético da Sociedade Portuguesa de Diabetologia recorda que a Consulta Multidisciplinar do Pé Diabético do CHP-HSA foi criada por Beatriz Serra (endocrinologista), Mergulhão Mendonça (cirurgião vascular) e Luís Serra (ortopedista). A primeira foi responsável pela mesma até 2004, altura em que Rui Carvalho assumiu a função.

A Unidade está capacitada para ver todos os casos complexos de pé diabético. A Consulta está, desde sempre, dividida segundo uma classificação simples: em pé neuropático, complicação crónica frequente da diabetes; e em pé neuroisquémico/isquémico, em que existe sobreposta uma doença vascular periférica.

Por questões logísticas, realiza-se em dois dias da semana (a segunda-feira de manhã é dedicada ao pé neuroisquémico/isquémico, com presença física de cirurgiões vasculares, e a quinta-feira de manhã ao pé neuropático, com a presença de ortopedistas).

Porém, nenhuma pessoa que se desloque à Unidade fica sem consulta de avaliação. “Se for uma situação urgente, o doente é avaliado e são feitos os procedimentos necessários”, explica.



Quando Rui Carvalho iniciou atividade, havia mais pés neuropáticos (dois terços) do que isquémicos. Atualmente, devido ao envelhecimento da população e consequente existência de um maior número de complicações vasculares, há mais pés isquémicos, que têm um prognóstico pior.

Nas 615 primeiras consultas realizadas em 2016, os indivíduos tinham, em média, 69,5 anos, a maioria era do sexo masculino (56,7%), com hemoglobina glicada mediana de cerca de 8%, o que indicia um mau controlo glicémico crónico, e mais de 50% apresentavam diabetes com mais de 15 anos de evolução.

Em 541 das primeiras consultas os indivíduos eram analfabetos ou com o ensino primário. Adicionalmente, 22,5% dos indivíduos apresentavam várias comorbilidades e eram isolados socialmente, aspetos que dificultam o autocuidado dos pés.

Os doentes são maioritariamente provenientes da região Norte, havendo, contudo, referenciações de todo o país, sobretudo para uma segunda opinião.


Tempo médio de internamento é dos mais baixos no país


O pé diabético é, dentro do problema da diabetes, a maior causa de internamentos prolongados. Na Unidade há a possibilidade de internamento imediato quando necessário, existindo no Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo seis camas destinadas, preferencialmente, ao internamento destes doentes.

Quando necessário, também são feitos internamentos nos serviços de Ortopedia e de Cirurgia Vascular. Tem uma mediana de internamento das mais baixas do país, situando-se, neste momento, próxima dos 17 dias (a nível nacional, a mediana é de aproximadamente 19 dias).



Outro dado que Rui Carvalho realça é o facto de a taxa de amputações dos membros inferiores no Norte ser de 5,1%, tendo contribuído, para tal a existência da consulta multidisciplinar no CHP-HSA, que atualmente é secundada por outras consultas.

“Logo no primeiro ano de atividade, houve uma redução de 50% das amputações nos doentes diabéticos”, diz, acrescentando que o seu desejo é que, no futuro, todos os hospitais deste país tenham uma equipa apropriada para dar resposta a estes doentes.

A Unidade também tem participado e mesmo organizado congressos (por exemplo, em 2017, a Unidade teve a seu cargo a organização local do Congresso Europeu de Pé Diabético) e cursos. A publicação de trabalhos é outra vertente importante.

Questionado sobre as maiores necessidades, Rui Carvalho refere, sem hesitar, os recursos humanos, mas, também, de cadeiras de observação e de equipamento de avaliação vascular.

"Faz todo o sentido uma Via Verde do Pé Diabético"

O grande problema no pé diabético é, segundo Rui Carvalho, o facto de muitas vezes não haver sintomatologia e, por isso, os doentes não se aperceberem da gravidade. “Os doentes fazem traumatismos/feridas no dia-a-dia e nem notam”, diz.

Na sua ótica, é essencial que os centros de saúde apostem mais na prevenção (primária, secundária e terciária). “Os médicos de família deverão efetuar uma primeira triagem e referenciar todos os doentes que tenham uma ferida do pé que evolui desfavoravelmente. Três dias à espera poderá ser o suficiente para levar a uma amputação do pé”, indica.



Rui Carvalho realça que a multidisciplinaridade não deve estar presente apenas a nível hospitalar, onde podem existir consultas de nível 2 (hospitais de média dimensão) e de nível 3 (como aquela que existe no CHP-HSA), mas também nos cuidados de saúde primários, onde deverá haver uma equipa composta por especialistas em MGF, um enfermeiro e um podologista, de acordo com a norma 005/2011 da DGS.

A sua grande preocupação prende-se com a mortalidade destes doentes, estimada em 50% ao fim de cinco anos, um número que, conforme refere, é superior ao que se verifica nos cancros da próstata, da mama e colorretal, por exemplo.

Neste contexto, defende a criação de uma Via Verde do Pé Diabético: “Um doente que tenha uma ferida e uma doença vascular que seja seguido nos cuidados de saúdes primários deve ser visto por uma equipa especializada em 24 horas. Faz todo o sentido que haja uma Via Verde do Pé Diabético.”



A reportagem completa pode ser lida na edição de fevereiro do Hospital Público.

Distribuído de forma transversal nas unidades hospitalares do SNS de todo o país, o jornal Hospital Público promove a partilha de boas práticas, processos de melhoria contínua, projetos inovadores e iniciativas implementadas por profissionais dos hospitais públicos.

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