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35 anos a participar no «desenvolvimento dos Cuidados Intensivos do São João»

"O contacto frequente com a morte e os problemas éticos envolvidos" é um dos motivos que leva José Cerqueira, enfermeiro-chefe no Serviço de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), a reconhecer que "a enfermagem de Cuidados Intensivos é muito exigente física e emocionalmente".

Na sua opinião, “esta é uma área muito própria, muito específica para a enfermagem" e adianta à Just News outros motivos: “A complexidade e elevada rotação de doentes em estado grave, a tecnologia avançada e rigor de execução e a imprevisibilidade do ambiente."

Merece ainda particular destaque "os conflitos interdisciplinares, porque só se trabalha com sucesso nesta área em equipa e não existe equipa sem que todos os grupos profissionais estejam orientados em direção a um objetivo comum".


 José Cerqueira 

 “É necessário gostar de pessoas"

José Cerqueira iniciou o seu percurso em 1986 e considera que para se ser enfermeiro “é necessário gostar de pessoas”. Diz mesmo que é “condição essencial”. No seu entender, “a enfermagem constitui-se como ciência e arte do cuidado humano. Se desumanizada, definhará e deixará de ser o que é, já que “fazer cuidados” não é a mesma coisa que “prestar cuidados” de enfermagem."

O São João tem sido o seu hospital e os Cuidados Intensivos a área a que se dedicou, já lá vão 35 anos, a maior parte deste tempo naquela que era, na altura em que lá deu entrada – faz questão de sublinhar –, "a única UCI Polivalente da instituição, denominada de Reanimação Respiratória, com 8 camas e gerida pelo Serviço de Anestesiologia".

É, assim, com evidente satisfação que José Cerqueira  salienta “o privilégio de testemunhar e participar, nas últimas décadas, no desenvolvimento dos Cuidados Intensivos, materializados hoje no Serviço de Medicina Intensiva do CHUSJ".

Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, é um dos dois enfermeiros gestores da Unidade do piso 1, a que se encontra ligado há 8 anos. No total, são 54 os profissionais que integram a ala A.



"Cuidado centralizado no doente crítico"

Para José Cerqueira é notório que "a enfermagem de Cuidados Intensivos é mais do que um corpo de conhecimentos científicos. É também a socialização dos seus membros, que têm que incorporar qualidades dinâmicas que são específicas da profissão".

Nesse sentido, e olhando para o futuro, não tem qualquer dúvida: "As exigências do trabalho na Unidade de Cuidados Intensivos apontam para enfermeiros cada vez mais qualificados, capazes de se integrarem em processos de melhoria e formação constantes, onde o domínio das novas tecnologias, a participação e autonomia são traços fundamentais para o cuidado centralizado no doente crítico."

Faz ainda questão de acrescentar que "os enfermeiros de CI criaram, ao longo dos anos, uma performance e um sentido de orgulho muito próprios e muito especiais, que nos caracterizam efetivamente”.

Competências de comunicação do enfermeiro

A importância da comunicação também é, para o especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, "algo indiscutível", conforme explica: “Uma das particularidades desta área tem que ver com as dificuldades que os doentes têm normalmente em comunicar, sendo necessário que o enfermeiro desenvolva competências de comunicação para ultrapassar essa barreira."


Até porque, recorda, também o "acompanhamento das famílias/pessoas com significado para os doentes é foco de intervenção dos enfermeiros". E, nesse processo, "que se define desde o primeiro momento e se constrói a partir dele", o cuidado com a comunicação tem de ser uma realidade do dia-a-dia.



Embora os anos de experiência lhe permitam olhar para as situações do dia-a-dia com mais tranquilidade, admite não conseguir ficar imune à vulnerabilidade e fragilidade da pessoa em estado crítico. “Temos os nossos mecanismos de defesa, mas não deixamos de ter compaixão pelo outro, ou seja, mantemos o impulso de mitigar a dor do outro, de agir para ajudar, ainda assim, evitando ficar sobrecarregados ou submersos na situação do outro”, conclui José Cerqueira.



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