«A cirurgia da hérnia e da parede abdominal deixou de ser o parente pobre da Cirurgia Geral»
A 2.ª Reunião da Sociedade Portuguesa de Hérnia e Parede Abdominal (SPHPA) veio confirmar o "crescente interesse nesta área" por parte dos cirurgiões, afirma André Oliva, um dos sócios fundadores da sociedade científica e médico de Cirurgia Geral no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
O evento reuniu 150 especialistas em Peniche e decorreu sob o lema "Surfing the new waves of hernia surgery". Em declarações à Just News, o médico explica que "a Cirurgia Geral tem tido, particularmente no campo da parede abdominal, uma evolução muito significativa em termos técnicos e científicos na última década".
E, nesse sentido, "as ´novas ondas` têm de ser dadas a conhecer e dominadas por todos aqueles que têm interesse nesta área", afirma o cirurgião.
André Oliva
O empenho e perspetivas dos médicos internos
O programa da reunião contou com uma mesa redonda dedicada exclusivamente aos médicos internos. De acordo com André Oliva, tal não foi "uma medida avulso", mas é antes parte de uma constante preocupação da SPHPA em dar o melhor acompanhamento possível aos jovens médicos, mas também em potenciar o seu empenho.
Na sua opinião, "os internos são essenciais ao funcionamento dos serviços, no sentido que são eles que, para além de assegurarem o futuro da saúde em Portugal, são muitas vezes quem traz novas ideias e força para as implementar".
E, especificamente "num campo da Cirurgia em profundo crescimento e desenvolvimento, este aspecto é fundamental e é extremamente importante perceber as suas dúvidas, dificuldades e sugestões."
Especialidades cirúrgicas: sobrecarga dos orientadores
Por outro lado, para uma formação de qualidade, é necessária disponibilidade dos próprios orientadores de formação e tal é um grande desafio:
"Como é do conhecimento geral, a recente tendência para a saída de um número considerável de especialistas do SNS, bem como o maior numero de medicos formados em Portugal, coloca a formação dos internos em risco, nomeadamente em termos de qualidade."
Contudo, no caso concreto de especialidades cirúrgicas, "este facto tem ainda uma relevância especial, pois a quantidade e especificidade de algumas técnicas e a sua constante evolução coloca uma maior carga de trabalho nos orientadores que, só por si e pelas razões já explicadas é cada vez maior".
A reunião incluiu uma vertente muito prática, com a realização de cursos pré-congresso com os temas "Abdomen Aberto" e "Encerramento da parede abdominal", que contaram com um "número de inscritos muito significativo"
"Há um crescente interesse nesta área"
Apesar dos desafios identificados na formação dos internos e desta ser apenas a 2.ª Reunião da SPHPA, o facto é que a cirurgia da hérnia e da parede abdominal em Portugal tem assumido um "crescente protagonismo", de que é até reflexo a "grande participação de oradores estrangeiros" nesta reunião.
De facto, entre os 150 inscritos na reunião, estiveram presentes vários convidados internacionais de renome. André Oliva menciona alguns desses especialistas: David Chen (EUA), Conrad Ballecer (EUA), Marja Boermeester, (Países Baixos), Salvador Morales-Conde (Espanha), Filip Muysoms (Bélgica), Javier Lopez-Monclus (Espanha), René Fortelny (Áustria), Manuel Lopez-Cano (Espanha), Silvana Peretta (Itália), Fernando Ferreira e Jorge Maciel, entre outros.
António Ferreira, Marja Boermeester e Sónia Ribas
Segundo o cirurgião, "foi muito importante perceber a receptividade que tivemos por parte dos convidados nacionais e internacionais de renome a estarem presentes e participar activamente nesta 2.ª Reunião, bem como o número de inscritos, número de trabalhos científicos submetidos e qualidade das apresentações realizadas".
E que ilação tirar? "Significa que temos feito um bom trabalho mas, mais do que isso, significa que há um crescente interesse nesta área e esse é o grande propósito da SPHPA."
Surf: palestra e "aula prática"
Além de vários temas científicos, a SPHPA decidiu incluir na reunião uma palestra do surfista João Macedo:
"A partilha de experiências com outras profissões ou actividades que lidam diariamente com stress é extremamente importante por forma a lidar com essa ´ansiedade` da melhor forma e não deixar que ela afecte o nosso dia a dia e a qualidade com que tratamos e nos relacionamos com os nossos doentes. A palestra de João Macedo foi excelente."
A par do programa científico, a reunião incluiu ainda alguns momentos de convívio pouco habituais: "Os participantes tiveram oportunidade de ter aulas de surf e organizámos um sunset party, com a participação da Dj e cirurgiã Marja Boermeester."
"Vamos continuar a apostar na formação e na multidisciplinaridade"
É com evidente satisfação que André Oliva faz um balanço "profundamente positivo" do trabalho desenvolvido pela SPHA ao longo destes três primeiros anos da sua existência: "Os objectivos a que nos propusemos aquando da sua fundação foram atingidos, mas não podemos parar ou relaxar, uma vez que temos de continuar a merecer a confiança e respeito dos nossos sócios e parceiros nacionais e internacionais."
Assim, e olhando para o futuro, assegura que "vamos continuar a apostar na formação, mantendo os cursos presenciais e online; na divulgação científica e troca de experiências, através das redes sociais e reunião anual; na multidisciplinaridade, contando com varias outras especialidades médicas e outros grupos profissionais da área da saúde".
E acrescenta: "Queremos também ter, cada vez mais, um papel relevante não só a nivel nacional, mas também a nivel internacional."
Marcelo Furtado, René Fortelny, Sónia Ribas, Carmen Maillo, Filip Muysoms e Manuel Lopez-Cano.
Caminhar em direção à subespecialidade
De acordo com o médico, "nos últimos anos, assistimos a um crescente interesse nesta área por parte da comunidade cirúrgica", em boa parte fruto da intensa atividade da SPHPA. E vai mais longe na sua apreciação: "Podemos dizer que a cirurgia da hérnia e da parede abdominal deixou de ser o parente pobre da Cirurgia Geral."
Contudo, fica a mensagem final: "É necessário manter o foco e o esforço para que esta seja de facto considerada uma sub-especialidade dentro da Cirurgia Geral, pois há um grande volume de doentes e técnicas cirúrgicas complexas que exigem grande treino e dedicação."
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