Medicina Familiar: A necessidade de novas USF obriga agora «a uma nova metodologia de trabalho»

O presidente da APMGF aproveitou a cerimónia de encerramento do 20.º Congresso Nacional de Medicina Geral e Familiar, no último domingo, em Castelo Branco, para enviar alguns recados ao ministro da Saúde e ao Governo. Rui Nogueira deixou claro que a criação de uma nova USF obriga hoje a aplicar uma “receita” muito diferente da que foi válida há 10 anos.



Depois de Viseu, em 2016, foi agora a vez de a capital da Beira Baixa receber o Congresso anual da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, em simultâneo com o 15.º Encontro Nacional de Internos e Jovens Médicos de Família.


Susete Simões

Presidida por Susete Simões, uma médica de Castelo Branco, a reunião científica da APMGF continua a dar muita importância à discussão de temas clínicos, tendo os trabalhos decorrido em seis salas em simultâneo, com cerca de 700 participantes.

Na sessão de encerramento, onde não faltou o presidente da câmara e o bastonário da Ordem dos Médicos, o ministro da Saúde fez-se representar por Henrique Botelho, coordenador Nacional da Reforma do SNS para os Cuidados de Saúde Primários. Rui Nogueira aproveitou para lhe pedir que transmitisse a Adalberto Campos Fernandes algumas das preocupações que trazem os seus colegas médicos de família insatisfeitos, cansados, mesmo exaustos. “Nós temos hoje um panorama instalado de insatisfação”, disse.



Computador passou a ser "um intruso que nos incomoda"

O primeiro recado do presidente da APMGF prendeu-se com o parque informático. “O computador deixou de ser uma ajuda na nossa consulta para ser um intruso que nos incomoda. É difícil trabalhar”, reclamou, lembrando que “o doente é o mais importante, o computador é secundário, é uma esferográfica, uma ferramenta secundaríssima”.

A questão da formação médica é algo que preocupa sobremaneira Rui Nogueira, para quem o poder político parece “não saber ainda que nós temos excesso de alunos, apesar de termos falta de médicos”. E mais: “Criam uma ilusão de incentivos para os médicos irem para o interior, mas, na nossa especialidade, o interior é na Amadora, Sintra, Mafra, Seixal, Vila Franca de Xira ou no Algarve.”

“Não nos iludamos, não há falta de médicos de família em qualquer sítio”, sublinhou, defendendo que “temos que ser mais cirúrgicos”, até porque “há excesso de médicos no Norte e eles faltam em Alcoutim”. Quanto a incentivos, Rui Nogueira alega que eles também terão que ser criados “para apoiar os que já trabalham no interior, para que não fujam”.



Outra das preocupações do presidente da APMGF prende-se com o seguinte: “A receita que foi válida para a criação das USF, no início, não é a mesma que deve ser aplicada para resolver a necessidade que temos de criar novas USF.” Isso mesmo fez questão de dizer ao representante do ministro da Saúde, lembrando que passaram dez anos desde que as primeiras unidades de saúde familiares abriram portas, em 2006.

"Criação de unidades dinâmicas"

“Estamos a formar 400 médicos de família por ano e não vamos ter a capacidade de os absorver se não conseguirmos desenvolver novas metodologias de trabalho e de criação de unidades dinâmicas que consigam fazer as suas tarefas e desenvolver as suas expectativas de trabalho e assistência aos doentes”, afirmou Rui Nogueira, concluindo:

“Precisamos de acoplar a necessidade que temos de médicos com a realidade que existe de criação de USF, de novas unidades de saúde de proximidade, se quisermos usar um termo mais abrangente, para não ferir suscetibilidades.”

O 21.º Congresso Nacional de Medicina Geral e Familiar, que acontecerá por esta altura do ano em 2017, realizar-se-á em Vila Real de Trás-os-Montes, tendo como presidente a médica Manuela Castanheira.


Rui Nogueira, José Manuel Silva e Luís Campos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, que proferiu a conferência de encerramento.


Comissão Organizadora.


Rui Nogueira e Manuela Castanheira, presidente do próximo Congresso.