A entrada na vida adulta da adolescente com diabetes «obriga a um acompanhamento adequado»
Inteiramente dedicada ao debate em torno da mulher com diabetes, abordando as várias fases de vida da mesma, a última reunião temática do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus da SPMI foi “globalmente um sucesso”, de acordo com a médica Mónica Reis.
Realizada em Fátima no primeiro sábado de maio, a 10.ª Reunião Temática do NEDM, um dos núcleos da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, contou com quase centena e meia de participantes. “Um número bastante elevado para um evento com estas características, subordinado a um único tema”, segundo Mónica Reis, a coordenadora do NEDM.
O tema suscitou muita curiosidade e interesse: “Notava-se na assistência um elevado interesse, mantendo-se a sala sempre repleta de participantes, em escutar e adquirir mais conhecimento sobre as particularidades que envolvem a diabetes na mulher. O contributo da abordagem multidisciplinar dado pela presença dos colegas de Ginecologia e Obstetrícia que integravam o painel de palestrantes foi uma mais-valia fundamental para nós internistas”, afirmou à Just News a especialista.
Mónica Reis sublinhou ainda o envolvimento do Núcleo de Estudos de Medicina Obstétrica da SPMI no programa do evento, participando numa mesa sobre diabetes gestacional, “dando continuidade a um dos objetivos do NEDM de uma maior proximidade e parceria com os outros núcleos da SPMI”.
Mónica Reis e Fátima Pinto, coordenadora adjunta do NEDM
A entrada na vida adulta, em particular das adolescentes com diabetes tipo 1, habitualmente seguidas em consultas de Pediatria, e depois pela Medicina Interna ou pela Endocrinologia, “coloca-nos a nós internistas desafios sobre os quais importa refletir e aferir modos de abordagem”, considera Mónica Reis.
“No início da fase da sua vida adulta enquanto mulher, ao mesmo tempo que surgem questões relacionadas com a sua vida sexual e o planeamento familiar, verifica-se um natural crescimento da própria. Passa a recair sobre si a gestão da diabetes, deixando de haver a partilha de responsabilidades com os pais, o que acontecia anteriormente enquanto criança e adolescente”, sublinha a médica, que coordena a Unidade Integrada de Diabetes da ULS do Estuário do Tejo, a funcionar no Hospital de Vila Franca de Xira.
“A forma como se faz o acompanhamento e a transição para outra especialidade e, portanto, outro médico assistente, dessa jovem mulher que, entretanto, fica responsável pela sua própria condição de saúde, é extremamente importante, podendo ficar comprometido o próprio controlo metabólico, com eventuais consequências, se esse acompanhamento não for adequado”, alerta Mónica Reis.
A menopausa, tão relevante e frequentemente esquecida, não podia deixar de ser debatida na 10.ª Reunião Temática do NEDM. “A maioria das mulheres que abordamos nas nossas consultas encontra-se nesta fase da vida e colocam-nos questões para as quais os internistas devem estar preparados para responder”, refere Mónica Reis.
Coordenação e Secretariado do NEDM: Rita Nortadas, Rita Paulos, Mónica Reis, Isabel Lavadinho, Fátima Pinto, Conceição Escarigo, Mário Esteves, Edite Nascimento, José Guia e Rúben Reis
O “papel preponderante” da Medicina Interna
Em declarações à Just News, a presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna consideraria “muito interessante” o tema escolhido para este evento do NEDM. Lembrando que os internistas estão muito associados às consultas dirigidas a grávidas com diabetes, Lèlita Santos não hesita em admitir que, “realmente, pensar na mulher com diabetes que não está grávida é importante, apresentando particularidades que a diferenciam do homem, mas a verdade é que o assunto não é debatido como devia ser”.
Com uma ligação ao NEDM desde a primeira reunião realizada com vista à formação deste Núcleo da SPMI, em 1991, e continuando a ser uma das suas áreas de trabalho, Lèlita Santos reconhece que, embora sejam várias as especialidades médicas envolvidas no acompanhamento dos doentes com diabetes, nessa matéria, “a Medicina Interna tem um papel preponderante”:
“A MI está muito presente logo no diagnóstico da diabetes, bem como na quantidade de doentes que nós seguimos e que temos internados nas nossas enfermarias, maioritariamente por outras patologias, sendo que estas acabam por estar, de uma forma geral, associadas à diabetes.”
Intervenção de Lèlita Santos
Prestes a terminar o seu mandato de três anos como presidente da SPMI, com a particularidade de ter sido a primeira mulher presidente desta Sociedade, Lèlita Santos aceitou o convite para ser a figura central da tertúlia que animou a parte final da 10.ª Reunião Temática do NEDM, rodeada por todos os elementos do sexo feminino que integram a Coordenação e o Secretariado do Núcleo.
Lembrando os “desafios constantes” que foi necessário encarar durante este triénio à frente da estrutura representativa dos internistas portugueses, “enfrentando algumas dificuldades que, afinal de contas, são partilhadas por toda a classe médica e pelos profissionais de saúde em geral, a responsável sublinhou que as mulheres já representam mais de 55% dos especialistas de Medicina Interna.