A epidemia de VIH em Portugal «sofreu alterações significativas nas suas características»

Em entrevista à Just News, Joaquim Oliveira, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA (APECS), fala sobre a epidemiologia da infeção por VIH em Portugal. De acordo com o especialista, nos últimos anos, “a epidemia de VIH em Portugal sofreu alterações significativas nas suas características”, sendo, atualmente, em 90% dos casos, uma doença de transmissão sexual.

“No início, a infeção por VIH afetava mais frequentemente utilizadores de drogas por via endovenosa (UDEV ) e homens que têm sexo com homens (HSH). Atualmente, é, em 90% dos novos casos, uma doença de transmissão sexual – relações heterossexuais (HTS) em 61% e HSH em 29%”, adianta o presidente da APECS, desenvolvendo que, se olharmos apenas para a população masculina, os HSH representam cerca de 43% dos novos casos.

A epidemia nestes dois grupos apresenta também características diferentes. Segundo refere, “nos HSH afeta cada vez mais os jovens, muitas vezes no início da vida sexual”. Por outro lado, “os heterossexuais são mais infetados na idade média da vida, embora não esquecendo que os mais velhos são cada vez mais atingidos”.

Joaquim Oliveira indica que nos HTS o diagnóstico é, em regra, mais tardio, particularmente nos mais velhos, porque não se sentem em risco e, por isso, não procuram os cuidados médicos. Além disso, “também os clínicos não estão sensibilizados para propor a realização do teste de rastreio de forma alargada e em todas as idades, atitude que urge modificar”.

De acordo com o médico, os UDEV são, atualmente, responsáveis por apenas cerca de 7% dos novos casos de infeção por VIH, “resultado das medidas de redução de danos (troca de seringas e programas de substituição de opiáceos)”.

Outro sucesso, que “vale a pena registar”, conseguido pelo rastreio universal da infeção por VIH nas grávidas, é a “quase” eliminação da transmissão vertical. Para o especialista, “faltará, eventualmente, alargar este rastreio aos respetivos companheiros para se obter um sucesso ainda mais completo, uma vez que se têm registado alguns casos de infeção vírica aguda durante a gravidez, com um risco aumentado de transmissão à criança”.



Na edição de abril do Jornal Médico é publicado um Dossier SIDA, com entrevistas a de uma dezena de especialistas, nomeadamente Joaquim Oliveira.

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