«A gestão da dor é uma parte essencial da prática clínica do médico de família»

Rui Costa faz questão de ressalvar quão importante é que o médico de família faça uma gestão correta e eficaz da dor, seja ela crónica ou não, pois, “pode ajudar a melhorar significativamente a qualidade de vida dos doentes que dela sofrem”. A temática da dor estará em destaque logo no primeiro dia da próxima edição das Jornadas Multidisciplinares de MGF, de que o nosso entrevistado é um dos presidentes.

Frequentemente confrontado com queixas de dor por parte de utentes de todas as idades, “a sua gestão acaba por representar uma parte essencial da prática clínica do médico de família”, afirma Rui Costa. O facto de a dor crónica afetar uma grande parte da população contribui em algum momento da vida, para se perceber que isso aconteça, isto é, que seja tão alta a sua prevalência na consulta dos cuidados de saúde primários.

Um aspeto positivo prende-se com o facto de essa elevada procura de auxílio “fazer com que o médico de família esteja, de uma forma geral, perfeitamente capacitado e bem preparado para poder gerir de forma correta a dor crónica”. E o utente que dela sofre recorre à ajuda médica “porque, efetivamente, o impacto na sua qualidade de vida é enorme, sentindo dificuldade em realizar as atividades diárias, vendo diminuída a capacidade para trabalhar, etc.”

A sessão das Jornadas Multidisciplinares dinamizada por Raul Marques Pereira, coordenador do Grupo de Estudos de Dor da APMGF, vai centrar-se nas cervicalgias e nas lombalgias. “Se nos focarmos na coluna vertebral, estas são situações clínicas extremamente comuns e representam das principais causas de consulta na MGF. Afinal, a maior parte de nós, em algum momento da vida, irá ter um episódio de dor na coluna cervical ou na coluna lombar, originando um quadro álgico que poderá ter um impacto significativo, podendo até comprometer o caminhar normalmente”, sublinha Rui Costa.



Rui Costa

No seu entender, aliás, não é de desprezar o próprio custo económico muitas vezes associado a este tipo de problemas, “com um grande número de dias de trabalho perdidos, devido a situações de baixa médica, e tratamentos que podem incluir sessões de fisioterapia ou até alguma intervenção cirúrgica”.

“É importante que o médico de família esteja capacitado para fazer o diagnóstico correto e para implementar depois uma estratégia terapêutica que possa ser eficaz na resolução de determinada situação”, salienta, acrescentando:

“Torna-se necessário, por vezes, disponibilizar apoio emocional e psicológico a estes doentes porque os quadros álgicos de dor crónica estão muitas vezes associados também a uma depressão ou a um estado de ansiedade a que é preciso dar resposta.”



Torna-se fundamental que se faça, desde logo, a identificação do tipo de dor que está em causa, pois, haverá terapêutica mais indicada para cada caso, consoante, por exemplo, se a mesma é nociceptiva, neuropática, ou até se tem um componente misto no que à sua origem diz respeito.

Rui Costa deixa bem claro que, “no fundo, o médico de família faz uma abordagem holística do doente, avaliando não só a dor como também o impacto social e psicológico que essa dor possa causar. Assume-se como um verdadeiro coordenador de cuidados, socorrendo-se complementarmente, se for caso disso, de outras especialidades para resolver as situações mais específicas que necessitem de um apoio multidisciplinar”.

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