«A Medicina Familiar tem um papel absolutamente central na abordagem à enxaqueca»
“Reduzir a dependência da referenciação” e contribuir para “um sistema de saúde mais fluido, resolutivo e próximo das pessoas” é, no entender de Lucie Perrin, diretora-geral da Abbvie Portugal, o caminho a seguir, nomeadamente, para enfrentar uma das doenças mais incapacitantes do mundo: a enxaqueca. Para a responsável, é preciso, por isso, “capacitar os médicos de família com o conhecimento e os recursos necessários para intervirem de forma eficaz”.
Numa altura em que se assinala o Dia Europeu da Enxaqueca (12 de setembro), importa recordar que estamos perante uma das doenças mais incapacitantes em todo o mundo, apesar de ainda hoje ser, muitas vezes, subvalorizada.
Em Portugal, estima-se que mais de dois milhões de pessoas sofram com esta condição neurológica, marcada por crises de dor intensa, sintomas associados como náuseas, fotofobia e fonofobia, e um impacto profundo na sua vida pessoal, profissional e social. O peso da doença é ainda mais significativo quando se constata que a maioria dos casos ocorre em idade ativa, com maior prevalência entre as mulheres.
Apesar da sua elevada frequência, muitas pessoas com enxaqueca demoram anos até obter um diagnóstico correto e, mais ainda, até receberem um plano terapêutico eficaz.
Em entrevista à Just News, Lucie Perrin, diretora-geral da AbbVie Portugal, sublinha que “esta realidade não se deve apenas à natureza complexa da patologia, mas também à forma como o sistema de saúde tem, historicamente, encarado a enxaqueca, mais como um incómodo episódico do que como uma doença crónica incapacitante”.
É neste aspeto que, garante, os cuidados de saúde primários (CSP) “podem e devem fazer a diferença”, com a Medicina Geral e Familiar (MGF) a assumir “um papel absolutamente central na transformação da abordagem à enxaqueca em Portugal”.
“O médico de família, pela sua proximidade, pela visão longitudinal da saúde dos seus utentes e pela capacidade de agir com autonomia na gestão de condições crónicas, está numa posição privilegiada para reconhecer padrões, estabelecer diagnósticos precoces e iniciar medidas eficazes de controlo. Esta capacidade de intervenção é essencial para evitar o agravamento da doença e melhorar a qualidade de vida dos doentes logo desde os primeiros sintomas”, afirma.
Lucie Perrin reforça a importância de “trazer esta patologia para o centro da atenção clínica nos CSP”. E reconhece que, durante muitos anos, “a enxaqueca foi remetida quase exclusivamente para uma resposta ao nível hospitalar, o que terá contribuído para a criação de barreiras no acesso ao diagnóstico e ao tratamento”. No entanto, sublinha, “é nos cuidados primários que se encontram as condições ideais para intervir atempadamente, acompanhar a evolução da doença e ajustar abordagens terapêuticas de forma contínua”.

Promover o acesso dos doentes às terapias inovadoras
Esta visão está em linha com a nova fase que a AbbVie vive em Portugal, marcada pela entrada no mercado ambulatório, após uma longa trajetória focada essencialmente no contexto hospitalar, como refere Lucie Perrin:
“A empresa mantém a sua vocação para o desenvolvimento de terapias inovadoras em áreas complexas, mas amplia agora o seu alcance com o objetivo de estar mais próxima dos doentes desde os primeiros pontos de contacto com o sistema de saúde. Isso é essencial para garantir que os benefícios da inovação cheguem mais cedo e com maior equidade a quem mais precisa.”
A aproximação da AbbVie aos cuidados primários tem sido acompanhada por diversas iniciativas que “procuram reforçar o papel da MGF na resposta à enxaqueca”. E a diretora-geral destaca os programas de formação médica contínua, o apoio a projetos digitais que promovem o acesso remoto a profissionais capacitados e a disponibilização de conteúdos educativos que ajudam os doentes a reconhecer os seus sintomas, a monitorizar as crises e a dialogar melhor com os seus médicos.
Lucie Perrin considera que estas ações “são fundamentais para criar uma cultura clínica mais informada e mais confiante na abordagem à enxaqueca fora do hospital”. O objetivo é claro: “Capacitar os médicos de família com o conhecimento e os recursos necessários para intervir de forma eficaz, reduzindo a dependência de referenciação e contribuindo para um sistema mais fluido, resolutivo e próximo das pessoas.”
Este modelo de atuação, que “privilegia a proximidade, a formação e a integração”, estende-se a outras áreas em que a AbbVie tem presença ativa, como a Imunologia, a Oncologia, a Virologia e a Oftalmologia.
“A aposta no ambulatório é, assim, mais do que uma mudança de mercado. É uma afirmação de compromisso, com uma visão mais integrada da saúde, onde os diferentes níveis de cuidados trabalham em articulação e com o foco no doente”, frisa.
Num momento em que os sistemas de saúde enfrentam desafios significativos, como o envelhecimento da população, a escassez de profissionais e o aumento da carga das doenças crónicas, Lucie Perrin defende que “a indústria farmacêutica deve assumir um papel de parceria ativa”. E acrescenta: “Isso implica ir além da disponibilização de medicamentos, envolvendo-se na partilha de conhecimento, no apoio à inovação organizacional e na construção de soluções que valorizem o tempo e o trabalho dos profissionais de saúde.”
“A enxaqueca é, neste contexto, uma condição paradigmática, combinando elevada prevalência, impacto funcional e atraso histórico na resposta clínica. Por isso mesmo, simboliza bem a necessidade de um novo modelo de intervenção, mais precoce, mais próximo e mais centrado no doente. E é justamente esse o caminho que a AbbVie procura percorrer nesta nova etapa em Portugal”, conclui.

A notícia completa pode ser lida na edição de setembro do Jornal Médico.

