A Medicina Interna «não é devidamente respeitada pelos pares»

Aos 68 anos, e depois de ter abraçado alguns desafios ao longo da sua vida, Armando Massalana, assistente graduado sénior de Medicina Interna, iniciou uma nova etapa da sua vida. Deixou Elvas, cidade que o viu crescer no campo profissional, e partiu para os Açores, para integrar a equipa de Medicina Interna do Hospital da Horta.

Quatro meses depois dessa grande mudança, em entrevista de fundo à Just News, publicada na atual edição de LIVE Medicina Interna, o internista falou, entre outros assuntos, sobre o tempo em que viveu em Moçambique (local onde nasceu), da sua vinda para Portugal, da família, da sua paixão pela música clássica e pelas línguas e sobre o que, na sua opinião, necessita de mudar na Medicina Interna.

Intervir "na orientação da estratégia terapêutica do doente pluripatológico"

Para o internista, "tempos houve em que a Medicina Interna era uma especialidade de topo. O internista era procurado pela sua visão abrangente e profunda do doente, sendo apreciado pela sua capacidade de integrar o conhecimento médico, o que lhe permitia fazer diagnósticos difíceis."

Contudo, considera que "não é essa a ideia que transparece da atividade do internista nos nossos dias. De facto, para as outras especialidades, a MI é o ´saco` onde cabe tudo o que já não pode ser resolvido pela mão habilidosa do cirurgião, ou pela intervenção altamente qualificada deste ou daquele especialista. É o refugo das outras especialidades. Estas podem selecionar o objeto das suas intervenções. O resto fica para o internista resolver."

Na sua opinião, a Medicina Interna "devia estar omnipresente nos serviços hospitalares, não para fazer o trabalho básico para as outras especialidades, mas para intervir de modo especializado na elaboração do diagnóstico difícil e, sobretudo, na orientação da estratégia terapêutica do doente pluripatológico."

E sublinha, "hoje, ninguém pergunta ao internista o que pensa desta ou daquela situação difícil. O doente é ´deixado` para a MI porque se ´descartou` patologia para esta especialidade, ou tão simplesmente porque as especialidades já nada têm a oferecer."




Construir "pontes" e criar sinergias

Armando Massalana foi diretor do Serviço de Medicina do Hospital de Santa Luzia de Elvas e depois diretor do Departamento de Medicina da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA). Questionado sobre como foram essas experiências, afirma que o sucesso, "se algum sucesso houve, deveu-se à competência e tenacidade da extraordinária equipa que tive a sorte de dirigir."

Na sua opinião, "o grande desafio que se colocou no meu consulado como diretor de departamento foi o de tentar criar as condições para que um conceito novo de pertença, subjacente à criação das ULS, pudesse ter consistência e fluidez, permitindo a construção de pontes e o estabelecimento de sinergismos que potenciem a atividade de cada serviço. É um desiderato ambicioso que não pode ser conseguido sem o empenho dos profissionais envolvidos."

Acrescenta ainda que teve "a sorte de poder contar com uma equipa de profissionais motivados e que proporcionaram uma caminhada construtiva e enriquecedora. Não posso deixar de assinalar, com satisfação, o apoio inequívoco com que a administração da ULSNA fez questão de acompanhar esta minha atividade."


Açores: "aventura na reta final da carreira"

Armando Massalana está, desde setembro de 2015, no Hospital da Horta, nos Açores. O internista explica que esta oportunidade "surgiu como uma aventura na reta final da carreira" e que respondeu positivamente "a um desafio lançado pela Administração do Hospital da Horta para me juntar à equipa de Medicina Interna desta unidade hospitalar e colaborar num projeto de dinamização do Serviço de Medicina, que quer aproximar os seus serviços às populações que serve, nomeadamente às da vizinha Ilha do Pico."

Assume que esta é "uma grande mudança e um grande desafio. Mas adoro desafios e, por isso, cá estou, para o que der e vier. O ambiente profissional é bom, a motivação é muita. Julgo que é uma mudança que valeu a pena fazer. É uma terapia sã e rejuvenescedora, que me atreveria a recomendar aos deprimidos, pela inexorável aproximação da reforma."



A entrevista completa pode ser lida na atual edição de LIVE Medicina Interna. 

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