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A única USF de Castelo Branco celebra 1.º aniversário: «Foram 8 anos de luta»

Num dia de celebração, que não deixou de ser de intenso trabalho, a Just News foi conhecer a equipa que lutou durante 8 anos para concretizar o sonho de criar a USF Beira Saúde, a primeira e ainda única USF da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco. Além dos desafios do passado e do presente, preparam-se para mais um longo caminho: a transição para modelo B.



“Desde 2010 que luto por esta unidade contra todos os ventos e marés. Este era o único distrito de Portugal que não tinha ainda uma USF”, conta José Sanches Pires, coordenador da unidade. A ideia surgiu por considerar que tinha que haver mudanças que beneficiassem os profissionais de saúde e, sobretudo, os utentes:

“É um modelo organizacional que se baseia no trabalho em equipa, de complementaridade, o que permite prestar cuidados de saúde de maior proximidade e qualidade.” Inicialmente, não foi fácil avançar com a ideia, por causa da “habitual resistência à mudança”, tendo sido necessário esperar 8 anos para abrir a USF Beira Saúde.

Entretanto, foi fazendo convites. “A equipa atual é praticamente a que pensei desde o início. Somos 5 médicos, 5 enfermeiros e 4 secretárias clínicas para 9120 utentes, o que corresponde a 11.700 unidades ponderadas.”



Muito trabalho que tem valido a pena. “Estamos todos mais satisfeitos, mais motivados e mesmo os utentes notam diferenças”, garante o coordenador. 

Situada no Centro de Saúde de São Miguel, na zona central da cidade de Castelo Branco, a USF Beira Saúde partilha o espaço com a UCSP São Miguel – de onde vieram muitos dos atuais profissionais da equipa – e com a Unidade de Saúde Pública (USP) da ULSCB.


José Sanches Pires

Estagnação das USF é uma preocupação

Ao fim de 1 ano, o médico de família está satisfeito e faz um balanço positivo da atividade da USF Beira Saúde, esperando servir de exemplo para que possam surgir outras USF na região. Mas alerta: “Ainda aguardamos por material básico, como balanças pediátricas e esfigmomanómetros. Isso não faz sentido!”

Nunca deixando de acreditar no modelo USF, como coordenador de uma unidade, está preocupado com a estagnação que se vê na reforma dos cuidados de saúde primários (CSP):

“As questões burocráticas continuam a ter um enorme peso, mesmo após a constituição da USF, e isso pode ser um fator desmotivante para quem quer apostar num projeto. Não faz sentido, tendo em conta os benefícios que as USF trazem à saúde da população.”

E se o processo de constituição não é fácil, a transição para modelo B é ainda mais complexa. “Não se constitui uma USF para nos mantermos eternamente em modelo A...”, desabafa.

José Sanches Pires realça ainda outro aspeto que pode pôr em causa o crescimento das USF: “Não se pode impor este modelo de cima para baixo, porque assim acaba-se por mudar apenas o nome, mantendo-se o funcionamento de UCSP. Basta que um elemento não esteja dentro deste espírito de trabalho para que as coisas corram mal.”



O responsável critica também as listas de utentes: “Temos todos 1800 ou 1900, o que exige uma enorme sobrecarga de trabalho, além da tal burocracia que a Tutela nos exige. Acresce a isso a problemática de se tratar de listas com muitos idosos, com doença crónica, multimorbilidades...”

Olhando ainda para o estado da Saúde, o médico, que foi diretor da Sub-Região de Saúde de Castelo Branco e presidente do Conselho de Administração do Hospital Amato Lusitano, considera que os problemas dos CSP devem passar também por uma maior articulação com os cuidados hospitalares.



“Quando estive à frente do hospital propus ao então ministro da Saúde, Prof. Correia de Campos, um projeto inovador para a região, que visava precisamente uma maior interligação entre cuidados. Não foi aceite, mas caminhou-se para a ULS. Aliás, posso dizer que sou o pai da ULSCB”, comenta José Sanches Pires.

Continuando: “O meu objetivo sempre foi abolir barreiras, evitando que os doentes andem de um lado para o outro. O médico de família enviava para o hospital, este enviava para o centro de saúde... Assim não se consegue dar uma resposta adequada.”

A articulação entre os dois níveis de cuidados, na sua perspetiva, tinha ainda outro propósito: “Sempre fui contra a subalternização – inclusive em termos de investimento financeiro – dos CSP face aos cuidados hospitalares. Quando existe uma verdadeira articulação, todos são importantes, contribuindo cada um com as suas competências.” E, nesse âmbito, “ainda há muito a fazer...”


O 1.º aniversário da USF Beira Saúde foi assinalado precisamente um ano após a inauguração, a 26 de novembro

Futuro: “Chegar a modelo B”

Apesar do que corre menos bem, José Sanches Pires não desiste de acreditar que o modelo USF é o que melhores cuidados de saúde pode prestar à população. “Tanto eu como a equipa estamos muito motivados. É desta forma que se prestam cuidados de saúde de qualidade, tendo como centro as necessidades das pessoas.”

Perspetivando o futuro da USF Beira Saúde, e após este primeiro ano de consolidação, o coordenador espera poder apostar nalguns projetos:

“Queremos investir mais na educação para a saúde fora das quatro paredes da unidade. No Dia Mundial da Criança tivemos ações coordenadas com as escolas e no Dia Mundial da Diabetes também organizámos, juntamente com a autarquia, uma escola profissional e ginásios, iniciativas de promoção de uma alimentação saudável e de uma vida menos sedentária. Mas queremos mais.”



No futuro, irão também manter a sala de realização da Monitorização Ambulatória da Pressão Arterial (MAPA). Além deste meio complementar de diagnóstico, outro objetivo da USF é, segundo José Sanches Pires, “chegar a modelo B.” E, para isso, muito irá contar o espírito da equipa:

“Somos uma família, damo-nos todos bem, é muito agradável.  Trabalhar assim é mais fácil, mais motivador.”



E foi precisamente nesse ambiente familiar que quis assinalar o primeiro ano de vida, com um almoço e com um bolo de aniversário. Mas a festa durou pouco tempo porque à tarde já havia mais utentes à espera de cuidados.



A reportagem completa pode ser lida no Jornal Médico dos cuidados de saúde primários de janeiro.

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