«A vigilância de uma grávida com doença crónica deve ser sempre especializada e multidisciplinar»
A internista Inês Palma dos Reis sublinha ser “particularmente desafiante” a adaptação à gravidez em mulheres com doença crónica, alertando para a importância de se promover um acompanhamento especializado e multidisciplinar das mesmas.
“De uma forma geral, na doença crónica grave, quanto mais bem controlada aquela estiver melhor correrá a gravidez”, garante a especialista de Medicina Interna da Maternidade Dr. Alfredo da Costa, instituição que integra a ULS de São José. E acrescenta que uma grávida nessa situação “não deve deixar de ser apoiada, vigiada e tratada, no entanto, tem que ser escolhida a terapêutica eficaz que apresente um melhor perfil de segurança fetal”.
Para além de ser necessária uma intervenção obstétrica diferenciada, que “garanta a otimização e a individualização dos cuidados médicos”, Inês Palma dos Reis faz questão de frisar: “A vigilância e orientação das decisões das mulheres com doença crónica grave, nesta fase mais sensível, deve ser sempre especializada e multidisciplinar.”
O programa das 4.as Jornadas do Núcleo de Estudos de Medicina Obstétrica (NEMO) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, evento realizado recentemente em Lisboa, refletiu isso mesmo.
As sessões incluíram oradores de diferentes áreas, para além da própria Medicina Interna, como a Ginecologia/Obstetrícia, a Gastrenterologia, a Hematologia, a Endocrinologia ou a Nutrição. E outros núcleos da SPMI também estiveram representados, como os que se dedicam ao estudo das doenças respiratórias e das patologias do fígado.
Inês Palma dos Reis
“A presença destes colegas é importante porque nos ajudam a perceber melhor como podemos otimizar o acompanhamento das grávidas”, afirmou Inês Palma dos Reis, ao intervir na sessão de abertura da reunião, na qualidade de coordenadora do NEMO. A seu lado, na mesa, tinha Pedro Correia Azevedo, internista do Hospital CUF Tejo e coordenador adjunto do Núcleo, e ainda Anabela Oliveira, da ULS de Santa Maria, representando a Direção da SPMI.
Dirigindo-se à assistência presente na sala, a especialista da Maternidade Dr. Alfredo da Costa fez questão de salientar que, embora a prestação de cuidados na gravidez tenha evoluído substancialmente nos últimos séculos, a exigência é grande:
“Mesmo com artigos científicos que não param de sair, há sempre dúvidas e questões que se nos colocam, fazendo com que cada vez mais precisemos de estar bem apoiados e certos do que estamos a fazer.”
Pedro Correia Azevedo, Inês Palma dos Reis e Anabela Oliveira
Otimizar os resultados com uma gestão cuidadosa e uma colaboração interdisciplinar
Inês Palma dos Reis lembra haver determinadas doenças crónicas graves que contraindicam mesmo a gravidez, “seja por implicarem uma terapêutica que representa um perigo inaceitável para o feto, seja pelo risco de descompensação, falência de órgão e morte materna”.
Neste caso, são exemplos a doença cardíaca grave (estenose valvular, dilatação aórtica aneurismática, hipertensão pulmonar), a diabetes mal controlada, uma infeção ativa grave ou um distúrbio psiquiátrico de maior gravidade e não controlado.
“Nestas circunstâncias, é imperioso o adequado aconselhamento da mulher em idade fértil desde o diagnóstico e em cada introdução de medicação com potencial teratogénico, apoiando a escolha de contraceção segura e eficaz. Este também pode ser o caso após uma complicação grave de uma gravidez prévia”, afirma a internista.
O conselho que deixa expresso é claro: “Todos os médicos com doentes em idade fértil devem estar alerta para os diagnósticos e tratamentos com impacto na fertilidade e na segurança de uma gravidez e, sempre que necessário, deverão referenciar a consultas preconcecionais diferenciadas.”
“Importa considerar sempre os riscos da doença crónica para a gravidez mas também os riscos da própria gravidez para a doença, devendo ser feito o estadiamento e o estudo do envolvimento dos órgãos alvo”, aconselha Inês Palma dos Reis, concluindo:
“Com uma gestão cuidadosa e uma colaboração interdisciplinar, é geralmente possível otimizar os resultados materno-fetais e minimizar os riscos associados às doenças mais complexas.”
Elementos do NEMO: (atrás) Filipa Lourenço, Natália Marto, Alice Sousa e Ana Oliveira; (à frente) Anna Taulaigo, Inês Palma dos Reis, Augusta Borges e Pedro Correia Azevedo
Núcleo de Estudos de Medicina Obstétrica
Este Núcleo da SPMI é constituído por internistas dedicados às grávidas/puérperas em toda ou em parte da sua atividade, para melhorar a formação e os cuidados nesta área emergente da Medicina Interna.
Mandato 2024-2025
Coordenadora:
Inês Palma dos Reis (ULS de São José)
Coord. adjunto:
Pedro Correia Azevedo (H. CUF Tejo)
Consultora sénior:
Augusta Borges (H. CUF Tejo)
Secretariado:
Ana Oliveira (ULS da Lezíria)
Anna Taulaigo (ULS de São José)
Alice Sousa (ULS de Lisboa Ocidental)
Catarina Conceição (ULS de Lisboa Ocidental)
Filipa Lourenço (H. CUF Descobertas)
Inês Felizardo (ULS do Oeste)
José Guia (ULS de Lisboa Ocidental)
Natália Marto (H. Luz Lisboa)
Sofia Mateus (H. CUF Tejo)