ACES Cascais já tem Unidade de Medicina do Viajante e Centro de Vacinação Internacional

Os utentes do ACES Cascais têm agora à sua disposição, desde abril, uma Consulta muito mais organizada no âmbito da Medicina do Viajante e já não precisam sair do concelho para que lhes sejam administradas as vacinas prescritas em função das viagens programadas para determinados destinos.

Médicos internos com papel importante na criação do projeto

À semelhança do que sucede muitas vezes no SNS, tanto a nível dos cuidados de saúde primários como hospitalares, também nesta circunstância houve médicos internos (dois) – neste caso, de formação específica em Medicina Geral e Familiar – que tiveram um papel importante em todo o processo que conduziu à criação da Unidade de Medicina do Viajante e do Centro de Vacinação Internacional do ACES Cascais.

Diga-se, em abono da verdade, que a eles se juntaram com evidente entusiasmo três jovens médicos especialistas de MGF e um de Saúde Pública, mais cinco enfermeiras com interesse na área área, e ainda duas assistentes técnicas e uma assistente operacional que, em conjunto, asseguram o funcionamento das duas estruturas.

Também parece não existirem dúvidas quanto ao apoio das unidades em que cada um dos profissionais se mantém integrado e, principalmente, da Direção Executiva e do Conselho Clínico e de Saúde do Agrupamento de Centros de Saúde de Cascais.

Feitas as contas, estamos a falar de uma equipa constituída por 14 elementos.



Reforçar a capacidade de resposta

No entanto, tendo em conta o balanço que o coordenador da Unidade de Medicina do Viajante (UMV) e do Centro de Vacinação Internacional, Vítor Trindade Pedrosa, faz destes primeiros meses de atividade, é muito possível que, num futuro mais ou menos próximo, se venha a sentir a necessidade de reforçar a capacidade de resposta em termos de recursos humanos.


De referir que tanto as consultas como a inoculação das vacinas acontecem num espaço que estava relativamente subaproveitado no denominado Centro de Saúde de São João do Estoril, um edifício que acolhe no seu interior, nomeadamente, três USF (São João do Estoril, Costa do Estoril e Marginal), um Centro de Diagnóstico Pneumológico e a Unidade de Saúde Pública do ACES Cascais, sendo também a sede do Agrupamento.

Evitar a referenciação para fora do ACES

E como começou esta aposta do ACES Cascais na Medicina do Viajante? João R. Nunes Pires, médico interno de MGF e um dos dois impulsionadores iniciais do projeto, explica:

“Eu e a Dr.ª Mariana Coelho, na altura internos do 2.º ano, discutíamos a possibilidade de fazer uma pós-graduação em Medicina do Viajante, uma área desconhecida, mas que nos despertava muito interesse. Frequentemente confrontados nas consultas com questões dos utentes ligadas a viagens e para as quais não tínhamos resposta, acabávamos por referenciá-los para Lisboa (Sete Rios) ou Oeiras, os locais mais próximos com Consulta de Medicina do Viajante."

Em plena pandemia, foi no 1.º semestre de 2021 que ambos fizeram, em formato online, a sua pós-graduação em Medicina do Viajante, pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical – Universidade Nova de Lisboa. Sentiam-se então preparados para, pontualmente, atender utentes que careciam de resposta a este nível e que, desta forma, não necessitavam de ser referenciados para fora do ACES.


João R. Nunes Pires

Conscientes da necessidade que o ACES Cascais tinha de uma Consulta de Medicina do Viajante devidamente estruturada e até mesmo de um Centro de Vacinação Internacional, “até pela proporção de população estrangeira e do fluxo migratório que existe no concelho”, os dois internos – exatamente por serem “apenas internos!” – sentiram-se impelidos a encontrar um colega especialista em MGF que acreditasse e “desse a cara pelo projeto”.

É assim que surge neste processo a recém-especialista Magda Coutinho, da USF Costa do Estoril, também com uma pós-graduação em Medicina do Viajante e que, segundo João R. Nunes Pires, “desde o início adorou a ideia, curiosamente algo que havia também ela idealizado enquanto interna”.

“Inicialmente, estávamos fragmentados”


O coordenador da UMV, Vítor Trindade Pedrosa, confirma que a Consulta de Medicina do Viajante começou a ser disponibilizada aos utentes do ACES Cascais em novembro de 2021, prolongando-se pelo ano 2022 e acabando por dar origem à Unidade de Medicina do Viajante que, como já se viu, foi oficialmente inaugurada no início de abril último. Como também já se percebeu, durante todo esse período, o Centro de Vacinação Internacional não existia ainda.

“Foi uma fase de consolidação do projeto. A diretora executiva do nosso ACES, a Dr.ª Bárbara Carvalho, deu-nos um voto de confiança inicial para, autonomamente, com o seu aval, montarmos a consulta e foi isso que fizemos”, resume Vítor Trindade Pedrosa.


Vítor Trindade Pedrosa

Recorda que, “inicialmente, estávamos fragmentados" e explica o motivo:

"Como éramos de unidades de centros de saúde diferentes, ou seja, em instalações distintas, cada um de nós montava a sua consulta no edifício onde trabalhava. Foi assim até percebermos que já estávamos preparados, enquanto equipa, para avançar no sentido de termos um espaço próprio, reforçando a nossa capacidade de resposta e passando a assegurar a componente da vacinação, o que exigia obter as indispensáveis autorizações da DGS e da ARSLVT para avançar com o Centro de Vacinação Internacional.”


Uma procura que "superou as expectativas"

Vítor Trindade Pedrosa explica que, ao longo de 2022, “fomos percebendo qual o volume de pedidos que tínhamos e de consultas que realizávamos. Então, quando abrimos o acesso aos utentes de todo o ACES, ficámos com uma perceção mais real da quantidade de pedidos que haveria para estas vacinas”.

Aliás, acabaria por se constatar, por exemplo, que “talvez 50% das pessoas atendidas no Centro de Vacinação Internacional do vizinho ACES Lisboa Ocidental e Oeiras eram, afinal, utentes pertencentes ao ACES Cascais”.

Com uma procura que, ao longo deste período de menos de cinco meses de existência da UMV e do CVI, e de acordo com o coordenador, “superou as expectativas”, é dada resposta a dois conjuntos de utentes.



O primeiro grupo é o daqueles que, numa única deslocação, comparecem na consulta, previamente agendada, e são logo de seguida vacinados. No segundo grupo incluem-se todos os que marcam uma data para a vacinação estando na posse de uma prescrição obtida em Consulta de Medicina do Viajante realizada no privado ou noutra entidade do SNS que não o ACES Cascais.

Vítor Trindade Pedrosa considera que o facto de a equipa que dirige incluir um médico de Saúde Pública só pode ser considerada “uma mais-valia”, acrescentando que “gostaria que ela fosse ainda mais diversificada.

Note-se que as especialidades que mais se dedicam à Medicina do Viajante são, para além da MGF e da Saúde Pública, a Infeciologia e também a Medicina Interna, “sendo possível encontrar até colegas obstetras e pediatras que a ela se dedicam igualmente”.

Profissionais da UMV e do CVI do ACES Cascais: Atrás – João R. Nunes Pires, Magda Coutinho, Vítor Trindade Pedrosa, Mariana Coelho e Vítor Cabral Veríssimo (médicos); À frente – Patrícia Cunha, Susana Alvites, Celeste Moniz (enfermeiras) e Adriana Ribeiro (assist. técnica); Ausentes na foto – Catarina Catroga (médica), Maria José Guerreiro, Ana Isabel Pereira (enfermeiras), Carla Lopes (assist. técnica) e Rita Eusébio (assist. operacional)

“Na altura da vacinação, importa reforçar os ensinos”

Quatro dos seis elementos que constituem o corpo de enfermagem da Unidade de Saúde Pública do ACES Cascais dedicam uma parte do seu horário de trabalho ao Centro de Vacinação Internacional criado este ano, entre os quais se encontra a própria coordenadora, Celeste Moniz, para além de Ana Isabel Pereira, Susana Alvites, Maria José Guerreiro e ainda Patrícia Cunha, que colabora com a Unidade.

Se há coisa que a nossa entrevistada faz questão de sublinhar é a circunstância de a maior parte delas terem a especialidade de Saúde Comunitária/Saúde Pública e ainda o mestrado respetivo, a que se deve acrescentar o facto de Celeste Moniz e uma outra colega terem ainda no seu currículo um mestrado de Gestão em Saúde.

Antes do CVI ter começado a funcionar, as enfermeiras passaram por um período que se pode classificar de formação e que consistiu, basicamente, em explorar a componente observacional, isto é, verificar localmente o funcionamento de outros CVI de ACES vizinhos, como o de Lisboa Ocidental e Oeiras ou o da Amadora.

Celeste Moniz

“Pretendeu-se perceber a dinâmica da consulta de enfermagem, como é que se desenvolvia. As minhas colegas foram observar como era feita a abordagem aos utentes, como é que se faziam os ensinos, quais os tipos de vacinas inoculadas, etc.”, explica Celeste Moniz, que já uns anos antes tinha tido ela própria experienciado essa componente formativa.

“Nós verificamos que muitas vezes o utente sente-se retraído durante a consulta médica e até tem, por vezes, uma certa vergonha de questionar o médico, de admitir que não percebeu bem o que lhe foi transmitido. O nosso papel, na altura da administração da vacina, é reforçar novamente os ensinos, perguntar ao utente se percebeu tudo o que lhe foi transmitido pelo médico”, refere.


O médico “triador”


Tendo em conta que a grande maioria das pessoas que recorrem a um CVI são jovens – porque, afinal, são quem mais viaja –, faz todo o sentido que uma das formas de tentar marcar uma consulta na Unidade de Medicina do Viajante envolva o recurso a um código QR, que permite o acesso a um formulário.

Este deverá ser devidamente preenchido, podendo ser logo nessa altura ativado algum critério de exclusão que encaminhe o utilizador para, por exemplo, uma consulta noutro local.

Conseguida com êxito a submissão do pedido de consulta, este vai parar, com grande probabilidade, às mãos de Vítor Cabral Veríssimo, o especialista de Saúde Pública conhecido no seio da equipa como o médico “triador”.

É fácil de perceber porquê – a maior parte desses pedidos, a ele chegados por esta ou por outra via, são submetidos a uma triagem rigorosa antes de passarem para a assistente técnica, que tem a tarefa de agendar a consulta médica (mais a vacinação), ou de informar o interessado sobre a razão da impossibilidade de a mesma ser feita.



“Há aqui um foco muito importante, que tem que ver com a proteção da saúde da população. Quando alguém vai viajar para um país especialmente atingido por uma determinada doença que possa ser trazida para o seio da minha comunidade, que são os meus utentes, é muito importante que eu, como médico de Saúde Pública, consiga fazer alguma coisa no sentido de que tal não aconteça.”



A reportagem completa pode ser lida na edição de setembro do Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários.

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