ACES Lezíria: ultrapassar a falta de recursos para observar e tratar o pé diabético

Apesar de não existir um espaço em todas as unidades com cadeira e micromotores que ajude na observação do pé diabético, não é por isso que se deixa de dar atenção à neuropatia diabética no ACES Lezíria. Na consulta autónoma da diabetes, a enfermeira aproveita o pouco espaço que tem para ver e ensinar as pessoas a observar os pés todos os dias e despista situações que exijam cuidados mais avançados.


O modelo da consulta autónoma - com acompanhamento simultâneo do médico e do enfermeiro – já existia na maioria das unidades do ACES Lezíria e o pé já era observado em consulta de enfermagem, mesmo antes da implementação da Unidade Coordenadora Funcional da Diabetes (UCFD), unidade que é tema de reportagem na atual edição do Jornal Médico.

“Infelizmente, não temos acesso a apoio de podologista no hospital”, desabafa Marília Boavida, coordenadora da UCFD. Dificuldades em recursos humanos e materiais que se juntam a uma população com “características preocupantes”.

A coordenadora explica que “vivemos numa região onde o índice de dependência dos idosos é muito elevado, com grande dispersão geográfica, existindo várias dificuldades na deslocação às unidades de saúde, desde o transporte aos fatores económicos, à mobilidade dos próprios doentes e à necessidade de acompanhamento nos dependentes”.



Tanto no ACES Lezíria como no Hospital de Santarém já há alguns anos que se dá resposta aos diabéticos, mas Marília Boavida admite que “o modelo UCFD permite melhorar a articulação entre cuidados primários e hospitalares, tem sido uma forma de se entender melhor as necessidades sentidas pelos profissionais de saúde no terreno e de se investir em mais formação”.

Faltam recursos materiais para tratar o pé, mas o empenho é mais forte


Cuidar dos pés devia ser um hábito de todos os diabéticos, mas ainda é preciso investir muito no ensino e na educação para a saúde. Para Albertina Mendonça, a enfermeira representante da Enfermagem nos CSP, “os maiores desafios prendem-se com estes dois itens: a adesão à terapêutica e a autovigilância”.

O que vale é o empenho dos vários profissionais, como salienta a enfermeira. “Trabalha-se com o que se tem, não podemos deixar de observar o pé do diabético, porque uma pequena ferida pode levar a amputação, se não for tratada a tempo e horas.” Os principais problemas que chegam aos centros de saúde são as calosidades e as unhas encravadas e micóticas. A falta de motivação e as dificuldades de mobilização também não ajudam.


Especialistas do Núcleo de Diabetes do Hospital de Santarém.

No Hospital de Santarém já se havia implementado também a Consulta de Diabetes em 1992, que incluía uma equipa multidisciplinar que envolvia a Enfermagem, a Medicina Interna – quatro dos médicos especializados em Diabetologia – e a Nutrição. A consulta conta ainda com a colaboração da Oftalmologia, da Cirurgia, da Cardiologia, da Urologia e da Neurologia.

Posteriormente, foi criado o Núcleo de Diabetes, um Hospital de Dia com atividades de educação para a saúde individuais e em grupo, além de uma assistência mais intensiva ao diabético e consulta de SOS com equipa de Enfermagem. E, ao longo dos anos, foram crescendo as várias valências, como a Consulta de Diabetes Materna, na qual colaboram especialistas em Diabetologia, obstetras e dietistas.

“Atualmente, a equipa inclui um conjunto de oito médicos, dois enfermeiros, um dietista e um nutricionista”, segundo Cristina Esteves, responsável pelo Núcleo de Diabetes do Hospital de Santarém. A atividade do Núcleo da Diabetes inclui consultadoria da diabetes aos diferentes serviços hospitalares.




Os números são reveladores de que a diabetes tende a crescer: “As sessões do Hospital de Dia têm atingido mais de 1700 por ano e, nos últimos cinco anos, foram efetuadas cerca de 2500 a 2700 consultas de diabetes por ano, as quais incluem um conjunto de 1200 a 1300 doentes anuais.”

Mais formação para profissionais do ACES


Com a implementação da UCFD “conseguiu-se reforçar a interligação regular entre os profissionais dos diferentes cuidados de saúde”, segundo Marília Boavida. Mas não se ficou por aí. Cristina Esteves realça a realização de estágios de profissionais do ACES “interessados em assistir às diversas atividades desenvolvidas pelo Núcleo de Diabetes, como consultas e atividades do Hospital de Dia”.

De futuro, espera-se consolidar o trabalho desenvolvido. “No Hospital, seria muito bom conseguir ter a Consulta do Pé Diabético”, apela Cristina Esteves. A nível do ACES, Marília Boavida considera que os desafios atuais e futuros passam, antes de mais, “pela identificação sistemática de diabéticos sem médico de família, que precisam ver assegurada a vigilância da sua doença no centro de saúde e a atribuição prioritária de médico”.

E acrescenta: “São necessárias equipas multidisciplinares nos CSP e melhorar o tempo de espera na referenciação para a consulta hospitalar de Oftalmologia e Cirurgia Vascular.” Até agora, tem-se assegurado o rastreio anual da retinopatia diabética através da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal.




A reportagem completa sobre a Unidade Coordenadora Funcional da Diabetes (UCFD) ACES Lezíria/Hospital de Santarém pode ser lida na edição de abril do Jornal Médico.

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