Acompanhamento da mulher em menopausa: «A base da pirâmide são os cuidados primários»
Cláudio Rebelo, presidente da Secção Portuguesa de Menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, alerta para o papel central da Medicina Geral e Familiar (MGF) na menopausa, desde logo, no processo de sensibilizar as mulheres para a adoção de hábitos de vida saudáveis.
Na sua opinião, esta ação contribui para que "a transição para a menopausa decorra de forma mais serena, ao mesmo tempo que permite que a eventual intervenção do ginecologista se centre na sintomatologia de mais difícil controlo ou nas mulheres com múltiplas comorbilidades".
Cláudio Rebelo defende que “as mulheres têm de ter as suas equipas dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) habilitadas a olhar para elas conforme vão amadurecendo e a garantir respostas às suas queixas”.
Por esse motivo, enquanto presidente da Secção Portuguesa de Menopausa, tem procurado levar informação aos colegas de MGF, também por identificar “um maior interesse desta nova geração de médicos de família em saberem mais sobre menopausa e em terem mais respostas para dar às mulheres em (pré) menopausa, algo que foi ligeiramente perdido nos currículos do curso de Medicina e do internato”.
E considera que um dos motivos que terá contribuído para essa realidade foi a inclusão da Consulta de Menopausa na Consulta de Ginecologia Geral, na grande maioria dos hospitais centrais do SNS.
Cláudio Rebelo
"A maioria (das mulheres) irá recorrer aos Cuidados de Saúde Primários”
Apesar de reconhecer que “esta não é uma tarefa fácil para o médico de família, quando lhe é solicitado um leque de atividades tão grande”, o nosso interlocutor salienta a “necessidade de voltar a discutir esta fase da vida das mulheres, porque a maioria irá recorrer aos CSP”.
Cláudio Rebelo alerta que “é preciso perceber que não é a mulher que está diferente; ela é a mesma. Trata-se, sim, de uma fase de três a cinco anos em que a flutuação hormonal, nomeadamente a nível central, gera mais sintomas. Adicionalmente, muitas vezes, a mulher já chega deprimida à menopausa e a situação agrava-se porque deixa de se conhecer”.
Outro dos desafios relaciona-se com o facto de se tratar de “um tipo de consulta que exige tempo, quando a pressão do cumprimento de 15 minutos nos CSP é grande, além de terem uma série de objetivos a cumprir, onde, dada a visão do poder político, não se integra ainda nas grelhas ter a mulher em menopausa bem tratada e com qualidade de vida”.
Neste contexto, sublinha que, “se a base da pirâmide são os Cuidados de Saúde Primários, é preciso dar ferramentas aos colegas para tratarem as principais patologias e garantir que ninguém fica sem resposta”.
O facto de a maioria dos pedidos de referenciação serem canalizados para a Consulta de Ginecologia Geral, dada a extinção da Consulta autónoma de Menopausa em muitos hospitais, tem dificultado, na sua ótica, a garantia de resposta a esta população:
“A mulher em menopausa que não vê a sua resposta nos CSP dificilmente chegará a uma consulta hospitalar em tempo útil para ser tratada. Quando tem sintomas de difícil controlo, não consegue esperar e, se tiver capacidade financeira, recorre à medicina privada.”
“A população em menopausa do sul da Europa é diferente”
Acreditando que “a população em menopausa do sul da Europa é diferente da anglo-saxónica ou da nórdica”, a Secção Portuguesa de Menopausa juntamente com a Associação Espanhola para o Estudo da Menopausa e a Sociedade Italiana de Menopausa formaram o grupo POESI, cujo nome resulta da junção das iniciais dos países.
O intuito é “promover mais publicações e colaborações entre todos, a fim de garantir um melhor e mais personalizado cuidado às mulheres em menopausa”.
Um dos trabalhos em desenvolvimento consiste na criação de uma aplicação móvel com um score de sintomas baseado na Escala Cervantes, “para tentar dar respostas mais personalizadas na terapêutica individualizada a cada mulher”.