Alentejo: falta de cirurgiões vasculares afeta Via Verde do Pé Diabético
A falta de cirurgiões vasculares é uma das principais razões para que a Via Verde do Pé Diabético ainda não tenha avançado o suficiente, nomeadamente no Alentejo, segundo Isabel Ramôa. A coordenadora regional da Diabetes da ARS Alentejo falou à Just News à margem das V Jornadas de Diabetes do Alentejo, que decorreram em Évora.
Isabel Ramôa considera que a Via Verde do Pé Diabético, para funcionar em pleno, tem de dar resposta, em simultâneo, a vários níveis. E justifica: “Parcialmente, no Alentejo, já temos uma ‘via verde’, ou seja, diagnostica-se o problema, prestam-se os primeiros cuidados, mas falta um apoio mais eficaz por parte da Cirurgia Vascular.”
A especialista apresentou, inclusive, um exemplo: “Tratamos a ferida ou o edema, mas, quando surgem casos graves no pé diabético, tudo é catastrófico e o cirurgião precisa encontrar uma solução imediata.” Logo, “quando o Hospital de Évora tinha cirurgião vascular, o trabalho estava facilitado, mas, atualmente, estamos a referenciar para Lisboa e a resposta é mais tardia.” Contudo, Isabel Ramôa está confiante de que esta situação possa mudar face às notícias de que o Hospital do Espírito Santo de Évora vai voltar a ter Cirurgia Vascular.
Quanto ao papel das unidades coordenadoras funcionais da diabetes (UCFD), que começaram a ser implementadas em 2013, a responsável está satisfeita: “Sou também coordenadora da UCFD da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo e posso dizer que tem sido feito um bom trabalho, apesar de as UCFD terem começado mais tarde no Sul.”
E continuou: “Já se começou a reconhecer que o trabalho desenvolvido nestas unidades tem de ser incorporado, procurado, acarinhado e multiplicado, não esquecendo que as decisões não têm de ser todas tomadas no topo.”
A responsável reconheceu que “existem sempre assimetrias regionais” e que é preciso ajudar a replicar as boas práticas. Quanto às dificuldades sentidas no terreno, uma das que destacou foi a falta de tempo. “Não é fácil gerir uma doença tão exigente quando, além do trabalho da UCFD, se têm outras tarefas assistenciais e, por vezes, também a acumulação de cargos de topo.”
No evento, o modelo UCFD esteve em debate aberto. Na mesa sobre “UCFD – Que papel?”, Isabel Ramôa moderou um painel com elementos médicos e de enfermagem do hospital e dos cuidados de saúde primários e um representante da Saúde Pública.
No final, concluiu-se que as UCFD trouxeram benefícios, sobretudo na articulação entre cuidados hospitalares e primários, mas ainda há falhas em determinadas especialidades – como na Cirurgia Vascular --, além de “falta de tempo, falhas na organização e de vários documentos apresentados pelas equipas continuarem na gaveta”, concluiu Isabel Ramôa.
Nas V Jornadas, foram ainda apresentados casos clínicos, além das mesas-redondas, que versaram sobre diversas temáticas, destacando-se a diabetes no internamento, “o momento de ouro para a educação terapêutica”, segundo a coordenadora.
O evento teve o patrocínio científico da ARS Alentejo, da Sociedade Portuguesa de Diabetologia e do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, além do apoio da Liga de Amigos do Hospital do Espírito Santo de Évora.


