Alergia à proteína do leite de vaca: «O correto diagnóstico pode evitar muita gravidade»

“Até 1/4 das nossas crianças sofre de alguma doença alérgica nos primeiros anos de vida, e a maioria apresenta mais do que uma comorbilidade associada, pelo que é mesmo importante saber gerir a doença imunoalérgica para o melhor cuidado dos mais novos”, afirma Ana Morête, presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, em declarações à Just News.

Tal realidade justificou a decisão de dedicar uma reunião monotemática da Primavera da SPAIC ao estudo deste grupo populacional. Esta 22.ª edição aconteceu no início de maio, em Aveiro.


Além do “aumento marcado da prevalência da doença alérgica nos grupos etários pediátricos, demonstrado pelos estudos epidemiológicos”, Ana Morête fala ainda na existência de “expressões fenotípicas da doença mais grave, onde se enquadra a alergia alimentar grave, a dermatite atópica grave e a asma grave, por exemplo”.



Na sua ótica, esta evolução resultará de diversos fatores, entre os quais “o estilo de vida ocidental, marcadamente industrializado, o aumento do consumo de alimentos processados e da poluição, o aquecimento global, a alteração dos microbiomas intestinal e cutâneo e o stress.

A imunoalergologista, que dirige o Serviço de Imunoalergologia do CH do Baixo Vouga, adianta que, “como em todas as doenças, quando se consegue fazer um diagnóstico no início das primeiras manifestações, existem muito mais armas para melhorar não só a qualidade de vida dos doentes, mas também a abordagem e o tratamento destas patologias, que, em muitas situações, podem estar associados à sua completa resolução”.


Ana Morête

A título de exemplo, refere que “no caso da alergia à proteína do leite de vaca, que começa nos primeiros meses de vida, o correto diagnóstico pode evitar muita gravidade e comorbilidade, que até pode passar pela morte, associada a episódio de anafilaxia”.

Nesse contexto, a profissional adianta que “por se tratar de uma proteína muito importante da alimentação que tem evicção absoluta, é preciso apresentar estratégias e fazer um correto seguimento”. Contudo, ressalva que “geralmente, até aos três anos de idade, a alergia desaparece e, nesse momento, é necessário fazer provas de provocação oral para justificar a sua resolução”.

A cumulatividade de patologias no campo alérgico

Ana Morête destaca também que “a doença alérgica na idade pediátrica está muito associada a mais do que uma patologia, pois, enquanto doença imunológica, a sua expressão fenotípica pode envolver diferentes órgãos”. Nesse sentido, “é frequente acompanhar-se uma criança com dermatite atópica, alergia alimentar à proteína do ovo e sibilância recorrente”.

Por esse motivo, o programa da reunião procurou englobar precisamente as três patologias alérgicas mais frequentes em idade pediátrica – respiratória, cutânea e alimentar. “Pretendemos sobretudo abordar novas guidelines, mas também explorar áreas menos faladas, como a cosmética, que se relaciona com a dermatite atópica”, explica.

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