Alterar a realidade da obesidade, «começando pelas crianças, o motor da mudança»
Para Davide Carvalho, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), Portugal tem de apostar mais na educação para a saúde junto das crianças, que “são motor de mudança”. Entrevistado pela Just News, no âmbito do 19º Congresso Português da Obesidade, que começou hoje, em Lisboa, o especialista afirma que é preciso rever o urbanismo e facilitar a prática de exercício físico. Dá também a sua perspetiva sobre temas como as campanhas de prevenção e o papel da cirurgia.
Obesidade: "uma doença que contribui para outras"
Na entrevista, publicada no Jornal do 19.º Congresso Português da Obesidade, distribuída aos participantes da reunião, Davide Carvalho começa por explicar o motivo pela escolha do lema do evento: "Obesidade, não é só uma questão de peso":
"Quando se optou por este tema, pensou-se em como é essencial realçar a importância deste problema de saúde, que também é causa de outras patologias crónicas e que põe em causa a sobrevida e qualidade de vida da população. A obesidade é uma doença crónica, que implica mudanças no estilo de vida permanentes, e que está implícita no surgimento de comorbilidades que podem ser graves, como a hipertensão, a dislipidemia, a diabetes melittus e até o cancro, nomeadamente o do cólon e o da mama."
Acrescenta ainda o presidente da SPEO que as doenças cardiovasculares são outra das complicações subjacentes: "Não nos podemos esquecer que mais de 50% da população portuguesa apresenta excesso de peso e obesidade! Pior, o mais dramático é que a OMS estima que, em 2030, 27% dos homens e 26% das mulheres sejam obesas. É preocupante! É urgente combater a ideia de que a obesidade é apenas uma questão de peso. É mais que isso: é uma doença que contribui para outras, também graves."
Populações mais pobres "são mais atingidas pela obesidade"
Relativamente à realidade da obesidade em Portugal, comparativamente a outros países, Davide Carvalho indica que "é preciso distinguir entre adultos e crianças. No primeiro caso, a média de Portugal ronda a europeia. Na idade pediátrica, Portugal e Malta lideram os países da Europa com mais casos de obesidade. Se se pensar que destes 75% vão continuar a ter peso a mais na idade adulta… Inevitavelmente ficamos bastante preocupados, é necessário tomar medidas."
Chama ainda a atenção para o facto de que a obesidade "tem aumentado nos países do sul da Europa, o que se deve às condições socioeconómicas. Vários estudos comprovam que as populações mais pobres são as que mais são atingidas por esta doença. E porquê? Porque os pais e os avós tiveram bastante dificuldade em ter acesso a determinados ´mimos` na infância, o que os leva a dar aos seus filhos demasiados refrigerantes, doces e alimentos gordos."