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Apneia do sono: «Temos uma avalancha de doentes com suspeita de diagnóstico de SAOS»

Aproximadamente meio século depois da síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) ter sido descrita pela primeira vez, os doentes e os médicos estão mais alerta para os sinais desta patologia. Assim, a referenciação para os centros onde o problema pode ser diagnosticado é maior, afirma Marta Drummond, responsável pelo Laboratório de Fisiopatologia, Sono e Ventilação Não Invasiva do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar de São João (CHSJ).


"A obesidade é o principal fator"

“Temos uma avalancha de doentes com suspeita de diagnóstico de SAOS nos centros de patologia respiratória do sono e, portanto, neste momento, há em Portugal uma situação difícil de resolver. A lista de espera para as consultas é cada vez maior, porque não temos capacidade de responder à quantidade de doentes que nos enviam para diagnóstico”, afirma a docente da FMUP.

A SAOS está muito associada à epidemia da obesidade. “Com o aumento do número de obesos no mundo ocidental, vamos ter cada vez mais doentes com apneia do sono, porque a obesidade é o principal fator”, destaca.

De acordo com Marta Drummond, trata-se de uma situação complexa que mereceria da parte das autoridades um aumento de recursos humanos e técnicos nesses centros, de modo a tentar minorar a lista de espera.

Seguimento dos doentes: o desafio de ser "uma doença muito recente"

Na sua opinião seria importante, também, que "houvesse alguma articulação" entre os centros de patologia respiratória do sono que, no SNS, em regra, são unidades hospitalares, e as unidades de cuidados de saúde primários.

“Muitas vezes, verificamos que há pedidos dos centros de saúde que não fazem muito sentido (para prescrever receituário ou para avaliar um doente que está bem diagnosticado, controlado e medicado, ou seja, que não tem necessidade de ser visto num centro especializado”, aponta.

Segundo Marta Drummond, o facto de ser uma doença muito recente "resulta no facto de alguns médicos de família e de outras especialidades que concluíram o curso há mais tempo e que não tiveram contacto com a patologia não se sintam tão à vontade para fazer o seguimento destes doentes".




Outra questão apontada por Marta Drummond prende-se com o facto de a DGS ter criado uma plataforma eletrónica de prescrição dos cuidados respiratórios domiciliários que “nem sempre é amiga dos utilizadores” (médicos e doentes).

A título de exemplo, a médica refere que, recentemente, houve uma atualização dessa plataforma em que o histórico de prescrição do doente foi apagado, em muitos casos, impossibilitando o médico de família de renovar o receituário e tendo, assim, "de reenviar os doentes a um centro de patologia respiratória do sono, onerando, ainda mais, a lista de espera destas consultas".

Daqui se depreende que "são vários os problemas a necessitar de resolução para que esta avalancha seja contida".

"Passámos o limite da nossa capacidade"

No Laboratório de Fisiopatologia, Sono e Ventilação Não Invasiva do Serviço de Pneumologia do CHSJ o número de pedidos de consulta tem vindo a aumentar de forma exponencial, de acordo com Marta Drummond. No entanto, este acréscimo não tem sido acompanhado de um aumento do número de médicos que trabalham nesta área, nem de equipamentos que permitam diagnosticar mais doentes, nomeadamente polissonógrafos.

Neste momento, o Laboratório tem uma lista de espera de mais de dois anos, uma situação que Marta Drummond classifica como preocupante, sobretudo quando se pensa que existem mais de 1000 doentes em lista que, refere, “provavelmente podem vir a ter consequências da SAOS, só porque não está diagnosticada nem convenientemente tratada”.

“Já passámos o limite da nossa capacidade de ver doentes, de marcar consultas, de fazer exames. Não conseguimos dar uma resposta adequada se não formos injetados com recursos humanos e técnicos“, garante.

O Laboratório tem, atualmente, dois polissonógrafos nível 1 (os equipamentos mais diferenciados para diagnóstico de SAOS), que possibilitam a realização de duas polissonografias nível 1 por noite (de segunda a sexta-feira). Tem, ainda, 10 polissonógrafos nível 3 que, apesar de serem menos diferenciados para o diagnóstico, dão resposta em doentes com grande probabilidade de SAOS.

No Laboratório trabalha um médico a tempo inteiro (Marta Drummond) e quatro em tempo parcial. Há, depois, uma equipa de nove técnicos que não estão só ligados apenas à patologia respiratória do sono – fazem provas de função respiratória e provas de marcha, entre outros exames.

Projeto para 2018 de resolução de lista de espera

O horário do Laboratório já foi alargado, mas, ainda assim, "isso não é o suficiente para resolver a situação da lista". Marta Drummond conta que foi delineado um projeto para o ano de 2018 para resolver o problema, no qual se pedem mais médicos e técnicos e mais um polissonógrafo nível 1 e que prevê a realização de horas extra.

“Estou crente que a Administração do CHSJ vai acolher esta ideia e nos vai dar a capacidade de podermos pôr em prática a tentativa de resolução de lista de espera”, conclui.



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