Asma grave: «as exacerbações podem dever-se à não adesão terapêutica»
“Asma de difícil controlo” foi a temática em destaque na 21.ª Reunião Primavera da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), que decorreu no final de março, na Figueira da Foz.
Para Ana Mendes, coordenadora do Grupo de Interesse dedicado à Asma da SPAIC, foi a oportunidade para abordar "as dificuldades de diagnóstico e tratamento de uma doença tão impactante e, por vezes, incapacitante, quando não bem tratada”.
Ana Mendes
“A asma é uma das doenças crónicas mais prevalentes, afetando muitos jovens e adultos em idade ativa, e, 5 a 10% dos doentes têm asma grave”, assinalou Ana Mendes.
A imunoalergologista, responsável pela Unidade Funcional de Asma Grave do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN), realçou a relevância de se fazer, atempadamente, o diagnóstico, "para se evitar problemas mais graves".
Asma grave vs não adesão à terapêutica
Contudo, reconheceu que nem sempre é fácil destrinçar se se está perante "um caso de asma grave por si só ou se a falta de controlo dos sintomas respiratórios se deve, antes, à não adesão terapêutica". E recorda que se trata de uma doença crónica "e mesmo quando os sintomas desaparecem, é preciso manter a medicação, já que a inflamação vai perdurar.”
Ou seja, de acordo com a médica, "as exacerbações que levam às urgências e a uma pior qualidade de vida poderão dever-se unicamente à descontinuação da terapêutica". Torna-se, assim, fundamental que os médicos consigam discernir o que pode estar a correr menos bem, conforme explica:
“Será que a técnica inalatória está a ser bem feita? Por vezes, o problema é este e a solução passa, inevitavelmente, por uma monitorização por parte dos médicos e enfermeiros, inclusive em contexto de cuidados de saúde primários.”
Mesa da sessão de abertura: Pedro Martins, Olga Brás, Manuel Branco Ferreira, Ana Mendes e Mariana Couto
Na sua opinião, "este tipo de ensinos deveriam ser também possíveis nas farmácias comunitárias, como acontece a nível internacional, para facilitar o acesso".
Unidades multidisciplinares de asma grave
Outro tema abordado foi a necessidade de se criarem unidades multidisciplinares de asma grave em Portugal, que já existem noutros países, nomeadamente em Espanha. “O ideal é contar com um grupo de diferentes especialidades e grupos profissionais a trabalharem em conjunto para se dar uma resposta integrada aos doentes.”
Para já, enquanto não é possível ter esta Unidade formalizada, os especialistas abordaram os diferentes critérios a que devem responder a estas unidades em Portugal.
Na sessão de abertura, além de Ana Mendes, marcaram presença Manuel Branco Ferreira, presidente da SPAIC, Pedro Martins, vice-presidente da Sociedade, Olga Brás, vereadora da Câmara Municipal da Figueira da Foz e Mariana Couto, editora da Revista Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (RPIA).