Associações lançam «Respostas para a Síndrome da Bexiga Hiperativa»
No âmbito da Semana Mundial da Continência, que se assinala de 16 a 22 de junho, um conjunto de associações portuguesas – a APDPI (Associação Portuguesa para a Disfunção Pélvica e Incontinência), a APU (Associação Portuguesa de Urologia) e a APNUG (Associação Portuguesa de Neurourologia e Uroginecologia) – unem-se para apresentar um "documento inovador elaborado por um conjunto de associações internacionais que visa apoiar pessoas que vivem com síndrome da bexiga hiperativa".
Em Portugal, estima-se que cerca de 600 mil pessoas vivam com esta disfunção e que entre 5% a 15% da população sofra de incontinência fecal.
As Associações lembram que o peso da doença vai muito além do desconforto físico e destacam que "a perda de controlo sobre funções básicas do corpo tem repercussões profundas na autoestima, na autonomia e na qualidade de vida dos doentes. Muitos evitam sair de casa, reduzem a sua vida social, seguindo rotinas restritas e sentem vergonha, ansiedade ou mesmo depressão."
“Respostas para BHA”
É neste contexto, e de forma a "dar algum suporte aos doentes", as três associações portuguesas juntaram-se para lançar em Portugal um guia elaborado por Associações estrangeiras com o apoio da European Association of Urology.
O documento “Respostas para BHA” pretende ajudar os doentes a "compreender melhor a sua patologia e a tomar decisões informadas sobre o seu tratamento". É também adiantado que o documento aborda "de forma simples os sintomas da síndrome da bexiga hiperativa, as opções terapêuticas disponíveis e inclui, também, ferramentas para facilitar a comunicação com os profissionais de saúde e promover decisões partilhadas".
Uma síndrome "ainda marcada por estigma e tabu"
Joana Oliveira, presidente da APDPI, salienta que, no âmbito desta Associação, "trabalhamos todos os dias para dar visibilidade a condições que continuam envoltas em silêncio, vergonha e desinformação. A síndrome da bexiga hiperativa é ainda marcada por estigma e tabu, o que leva muitas pessoas a sofrerem em silêncio".
E acrescenta: "Com este guia, queremos ajudar a quebrar essas barreiras, promovendo o acesso à informação, reforçando o direito de cada doente a ser ouvido e envolvido nas decisões sobre o seu tratamento, e incentivando uma relação mais aberta, empática e colaborativa com os profissionais de saúde. Falar abertamente sobre incontinência é um ato de coragem — e também de cuidado.”
Participação "ativa" no tratamento
De acordo com Ricardo Pereira e Silva, vice-presidente da APNUG, “em 2025, os doentes querem – e devem – estar bem informados. Um doente que compreende a sua condição participa ativamente nas decisões sobre o seu tratamento, o que permite uma melhor adequação das opções terapêuticas e, muitas vezes, melhores resultados.”
Desta forma, a partilha deste documento simboliza, assim, "um grande passo na promoção da literacia em saúde e no reforço do papel ativo do doente na gestão da sua condição".
Com este recurso, pretende-se contribuir para uma maior consciencialização sobre a síndrome da bexiga hiperativa, combater o estigma associado à incontinência e apoiar uma abordagem mais informada, humanizada e colaborativa entre doente e profissional de saúde.
Miguel Ramos, presidente da APU reitera que “o impacto da incontinência na vida dos indivíduos e das suas famílias pode ser devastador. A Semana Mundial da Continência pretende reduzir o estigma em torno da incontinência e incentivar as pessoas afetadas a procurar ajuda e tratamento.”
"A prevalência está consideravelmente subestimada"
A propósito da Semana Mundial da Continência, Ana Sofia Oliveira, especialista em Cirurgia Geral, no Hospital Dr. Nélio Mendonça, refere ainda o peso da incontinência fecal que “afeta entre 5% e 15% das pessoas em todo o mundo".
No entanto, sublinha que, "sendo o seu diagnóstico difícil pelo componente íntimo e pessoal, a prevalência está consideravelmente subestimada".
De acordo com a médica, "na maioria dos casos, a pessoa com incontinência fecal sofre em silêncio, muitas vezes ocultando os sintomas da própria família e amigos próximos. Esta patologia está associada a um impacto significativo em termos sociais, psicológicos e económicos."
Ana Sofia Oliveira alerta também para o facto de que, "estando muitas vezes presente na população ativa, é causa não só de absentismo e diminuição da produtividade, mas também de elevados custos de saúde a curto e longo prazo. É essencial a sensibilização de todos para melhor compreender, aceitar e acompanhar estes doentes, permitindo que estes sintam segurança em procurar ajuda.”