Casos de paralisia cerebral em prematuros podem aumentar com maternidade tardia

Foram registados menos casos de paralisia cerebral nos prematuros com mais de 28 semanas, entre 2001 e 2007, mas “esta realidade pode alterar-se com o adiamento da maternidade para idades que rondam os 39/40 ou mais anos”, segundo Daniel Virella, coordenador do Programa de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral aos 5 anos em Portugal (PVNPC5A).

O relatório foi apresentado na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, quando se assinalam 10 anos sobre a criação do sistema de vigilância nacional deste problema de saúde.



Daniel Virella ficou satisfeito com a diminuição dos casos de paralisia cerebral (PC), mas tem receios face ao futuro. “Não se trata apenas da maternidade tardia, mas também de outras causas preveníveis, como infeções, quedas, acidentes rodoviários, etc.”

Apesar de se terem registado menos casos nos prematuros com mais de 28 semanas, Daniel Virella salientou que houve “um aumento da proporção de casos de PC com afetação dos dois membros (hemiparesia), contrariamente a uma diminuição da proporção da PC espástica bilateral com 2 ou 3 membros afetados”. Situação idêntica à de outros países desenvolvidos, como se pode constatar nos relatórios da Surveillance of Cerebral Paralisy in Europe (SCPE), entidade com a qual o PVNPC5A tem uma parceria.

No relatório também se destaca a necessidade de aumentar o conhecimento sobre a causa e tratamento do acidente vascular cerebral (AVC) fetal, perinatal e infantil, indicou ainda Daniel Virella.

O responsável referiu-se ainda aos casos nascidos no estrangeiro, “não apenas pela sua gravidade como pela concentração em algumas regiões, especialmente a Grande Lisboa”.

Outro dado importante é que Portugal consegue, apesar de algumas assimetrias regionais, que a PC seja diagnosticada e avaliada através de ressonância magnética. “É a melhor forma de se saber exatamente quais são as lesões, o que ajuda os profissionais e os pais a fazer prognósticos, a preparar o futuro.”



Mas este avanço não se faz sentir noutras áreas. “Existe uma grande carência de métodos de avaliação funcional (audição, visão, cognição, etc.), assim como materiais que permitam avaliar o peso e a estatura das crianças para se ter noção do seu estado nutricional”, alertou.

As dificuldades também abrangem, “e de forma muito preocupante”, os casos de crianças com PC espástica com afetação bilateral e a PC disquinética, que apresentam limitações funcionais graves. “As intervenções que os podem ajudar a ser autónomos e a sentirem-se incluídos na sociedade ainda escasseiam em Portugal, estando disponíveis apenas em poucas instituições”, denunciou Daniel Virella.

Nesse sentido, apelou a que “as tutelas promovam o desenvolvimento integrado e fundamentado de redes de promoção da inclusão das crianças e adultos com PC”.

O PVNPC5A iniciou-se em 2006, sendo Portugal o primeiro país europeu com um programa de vigilância da PC de dimensão nacional. O relatório apresentado é da iniciativa da Federação Portuguesa de Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral (FAPPC) e contou com a parceria da SCPE e o apoio da Unidade de Vigilância Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria (UVP – SPP), da Secção de Pediatria do Neurodesenvolvimento da SPP, da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação – incluindo a Secção Pediátrica --, do Centro de Reabilitação Calouste Gulbenkian e da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.


Andreia Silva, Ana Sofia Antunes, Abílio Cunha (presidente da Direção da FPAPC) e Daniel Virella.

Além dos vários profissionais de saúde e de familiares, na apresentação do relatório marcaram presença Andreia Silva, em representação da Direção-Geral da Saúde (DGS) e Ana Sofia Antunes, secretária da Inclusão das Pessoas com Deficiência do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social. 


Equipa da Coordenação do PVNPC5A: Teresa Folha, Joaquim Alvarelhão, Ana Cadete, Teresa Gaia, Rosa Gouveia, Daniel Virella, Eulália Calado e Maria da Graça Andrada.

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