Centros de Responsabilidade Integrados: «É necessária uma unidade técnica de apoio aos CRI»
"Os Centros de Responsabilidade Integrados (CRI) são um dos pilares mais importantes na reforma da Saúde", afirma João Varandas Fernandes, presidente da CCRIA - Convergência dos Centros de Responsabilidade Integrados Associação, criada há pouco mais de um ano.
Em declarações à Just News, o médico, que dirige o Centro de Responsabilidade Integrado (CRI) de Traumatologia Ortopédica na ULS de S. José, revela que foi solicitada há dias à ministra da Saúde "a criação de uma Unidade Técnica de Apoio ao Desenvolvimento deste tipo de gestão", no decorrer de um Encontro dedicado precisamente ao "presente e futuro dos CRI" e que contou com a participação de vários conselhos de administração de ULS do país.
Segundo João Varandas Fernandes, "a ministra mostrou interesse e recetividade a esta proposta apresentada, considerando que os CRI são um dos modelos que merece ser refletido e pensado para a sua divulgação".
Desta forma, faz questão de sublinhar que, por parte da CCRIA, "temos toda a disponibilidade para, quando solicitados, apoiar de perto o incremento desta unidade na organização dos CRI, quer nos que já estão formados, assim como nos que estão a ser formados".
João Varandas Fernandes
Desafios do SNS
Criada em junho de 2023, a CCRIA arrancou com "18 fundadores de vários pontos do país". No entanto, a sua origem resulta de "uma iniciativa de voluntarismo individual de três médicos, eu, Dr. Nuno Campos e Dr.ª Leonor Manaças".
E porque surgiu a necessidade desta associação? João Varandas Fernandes lembra que "o SNS enfrenta riscos e incertezas que condicionam muito o desempenho do curto e médio prazo, bem assim como a sua sustentabilidade futura. E os risco são transversais, quer no plano assistencial, quer na execução orçamental."
Considerando mesmo o SNS como "um pilar importante no nosso país em termos de assistência e também em termos sociais, sendo um dos grandes pilares da democracia", reconhece, no entanto, os "gravíssimos problemas de assistência e a nível orçamental". E dá, como exemplo, "os 1,6 milhões que não têm médico de família atribuído, um número ainda mais preocupante pois, face a 2022, há mais 230 mil utentes nessa situação".
E, se é certo que "o orçamento contempla mais verba para a saúde, a verdade é que não se consegue atenuar os problemas que o SNS tem, do ponto de vista da acessibilidade, do ponto de vista da sua eficácia e do ponto de vista da sua responsabilidade".
Assim, foi "face a este cenário que decidimos, no decorrer de conversas que fomos tendo ao longo do tempo, fazer uma associação. Apelámos a uma série de colegas, que aderiram de forma espontânea". A Associação tem como missão principal "a representação, acompanhamento, dinamização e promoção dos Centros de Responsabilidade Integrados".
Convergência
A palavra convergência destaca-se no nome da associação. A sua escolha explica-se, desde logo, porque "aqui convergem dezenas e dezenas de CRI". Por outro lado, refere que "ainda hoje reina alguma incerteza, algumas dúvidas sobre o esclarecimento cabal da sua legislação. Apesar da legislação ser clara, a sua interpretação ainda suscita algumas discussões".
Assim, a CCRIA é uma associação que procura "reunir todos os profissionais de saúde que estejam interessados no tema. Sejam médicos, administradores, técnicos, etc. Ou seja, não é algo corporativo".
E João Varandas Fernandes faz questão de reforçar esta ideia: "Abrimos as portas a todas as classes profissionais que trabalham no Serviço Nacional de Saúde. Porque os CRI são isso mesmo. É um conjunto, é uma convergência de profissionais que estão ligados à saúde, independentemente de serem médicos ou não. E que têm o mesmo objetivo. E só se consegue atuar, resolver uma boa parte dos problemas que o SNS hoje tem, se houver um processo de convergência."
Relativamente aos sócios da CCRIA, sendo de diversas especialidades médicas e das mais variadas áreas profissionais, um dos elementos em comum é seguramente o seu interesse pelo tema da gestão, conforme explica o presidente da CCRIA:
"Primeiramente, têm interesse em novos modelos de gestão. Em discutir novos modelos de gestão que possam melhorar estes indicadores: melhorar a acessibilidade, existir verdadeiramente uma responsabilidade, existir autonomia na negociação e, por sua vez, existir uma qualidade na remuneração mais um incentivo que seja apelativo para reter os profissionais no SNS."
"Temos ido a vários hospitais pelo país"
Questionado sobre a recetividade da CCRIA no terreno, João Varandas Fernandes indica que "para uma associação com um ano e pouco de existência, tem sido bem aceite", mas afirma igualmente que "é óbvio que todos estes modelos de gestão, apesar de já estarem a funcionar há vários anos, quando são postos em prática de forma inovadora, há sempre resistências, dúvidas".
Na sua opinião, "é preciso uma grande resiliência, é preciso acompanhar e esclarecer. E, mediante as nossas disponibilidade na associação, temos ido a vários hospitais pelo país. Há vários CRI que estão a ser formados neste momento que nos têm consultado e temos dado apoio e esclarecimento, sendo incentivados por nós para avançar".
Especificamente da parte de conselhos de administração das ULS, João Varandas Fernandes manifesta "a sorte que tenho de estar a trabalhar na ULS S. José, onde a recetividade do Conselho de Administração é muito grande".
Contudo, mesmo em outros conselhos de administração, "onde a reação não é tão entusiasta", salienta que "fica evidente um grande interesse em ficarem a par do que vai acontecendo e inteirarem-se das informações disponíveis".
Estratégias de gestão dos CRI - Formação
O presidente da CCRIA faz também questão de lembrar os parceiros que aderiram a este projeto da CCRIA "e que têm sido muito importantes para nós. É o caso da Prológica, Lean Health Portugal, Novartis, Sinase."
Já especificamente por parte da Academia, adianta que têm vindo a ser desenvolvidos esforços que permitem facultar mais formação na área. "Estamos em contacto com o ISCTE, com a ENSP e com a AESE, com quem realizámos, dia 2 de outubro, o Encontro CRI: Presente e Futuro", adiantando qual será a próxima atividade da CCRIA:
"Vamos arrancar, em janeiro, em conjunto com a AESE, o 1.º curso sbre Estratégias de Gestão do CRI, justamente para dar esclarecimentos e diferentes perspetivas, porque tem que se combater este pessimismo generalizado que existe na área da saúde". E o que será abordado? "Vamos divulgar os métodos de comunicação mas, acima de tudo, dar formação sobre este tipo de modelos de gestão."
E acrescenta: "É uma ação que vai ao encontro de um dos propósitos da associação: Prestar esclarecimento e apoio aos colegas que têm a ambição de criarem um CRI."


