«Chegar a um diagnóstico definitivo de uma doença alérgica pode demorar anos…»
Identificar uma patologia do foro alergológico pode não ser uma tarefa fácil, garante Mário Morais de Almeida. Para este imunoalergologista, a dificuldade aumenta substancialmente, por exemplo, quando o doente é uma criança, constituindo, não poucas vezes, um desafio para o pediatra ou para o médico de família que a acompanha.
Na sua qualidade de cocoordenador do Allergy & Respiratory Summit, sublinha que um dos principais objetivos do evento consiste precisamente em dar ferramentas à Medicina Geral e Familiar para melhor lidar, neste caso, com as patologias alérgicas e respiratórias.
Mário Morais de Almeida
“Nalguns casos, o tempo que leva, nomeadamente na área pediátrica, desde o início das queixas até se chegar ao diagnóstico de uma doença alérgica que possamos considerar concreto e definitivo ainda é realmente tremendo. Pode demorar anos!”, reconhece Mário Morais de Almeida, imunoalergologista do Hospital CUF Descobertas e que até 2023 coordenou o Centro de Alergia daquela instituição, criado por si há cerca de duas décadas e que se tornou uma referência a nível nacional.
Como é que se reconhece, isto é, como se diagnostica, como se aborda, como se segue? Segundo Mário Morais de Almeida, estas são as três questões para as quais um médico terá que encontrar resposta quando tem um novo caso entre mãos: “Diagnosticar a doença tão cedo quanto possível, definir a terapêutica mais adequada e fazer o acompanhamento da situação.”
“Se virmos o percurso de uma criança que começa com tosse, com queixas de pieira no peito, com dificuldade respiratória, em que se coloca primeiro a possibilidade de ser uma bronquite, depois talvez uma bronquiolite, eventualmente uma tosse alérgica… até se chegar a um diagnóstico definitivo de asma pode demorar três, quatro, cinco, seis anos! Mas depois de a diagnosticar conseguimos orientar corretamente e transmitiremos aos pais, com alguma certeza, se será uma asma que vai durar toda a vida, ou se ficará limitada à idade pediátrica”, refere, prosseguindo:
“Temos que devolver qualidade de vida à criança, para que ela se sinta bem durante o dia, para que faça a sua atividade normal e tenha noites tranquilas, tal como os seus cuidadores. Mas isso passa por um programa de abordagem que, nalguns casos, é farmacológico mas também não farmacológico, envolvendo outro tipo de medidas preventivas, e isso terá que ser feito o mais cedo possível, sem receio do diagnóstico que foi feito.”
“O objetivo é essa criança retornar ao seu médico assistente"
“Mal de nós se em poucos meses não tivermos a criança a viver como se não tivesse asma, porque a condição está lá, com uma qualidade de vida muito aumentada e uma boa
probabilidade de as queixas virem a atenuar-se e até a desaparecer”, afirma Mário Morais de Almeida.
Admite, contudo, que o médico de família e o pediatra possam ter alguma dificuldade na gestão de certas situações, acabando por ter necessidade de as referenciar para o imunoalergologista.
Este, com o histórico já existente e alguma avaliação complementar, confirmará o diagnóstico e dará uma orientação terapêutica, que nalguns casos é possível que seja um pouco mais diferenciada.
No entanto, o nosso entrevistado faz questão de deixar claro que “o objetivo é essa criança retornar ao seu médico assistente, seja ele o especialista de MGF ou o pediatra”.
Aliás, “nós acreditamos, e essa também é a essência do Allergy & Respiratory Summit, que muita desta patologia pode ser seguida apenas nos CSP e na Pediatria, por ser ligeira, de
relativamente fácil abordagem, que apresenta um quadro com uma boa evolução, fácil de controlar e que não tem impacto significativo na qualidade de vida do doente. Justificar-se-á a referenciação para a Imunoalergologia sempre que haja dificuldade em obter um diagnóstico, ou pela particularidade ou gravidade do caso, nomeadamente se estiver indicado um tratamento com vacinas antialérgicas”.
Modelo híbrido da reunião vai manter-se
Partilhando a organização do Allergy & Respiratory Summit com o médico de família Rui Costa, excoordenador do Grupo de Estudos das Doenças Respiratórias (GRESP) da APMGF, Mário Morais de Almeida recorda o êxito da 1.ª edição, que teve lugar em Lisboa, no início de fevereiro de 2024. E destaca os mais de 700 participantes, na sua maioria internos e especialistas de MGF, que se associaram ao evento, parte deles usufruindo do facto de o mesmo ter sido híbrido, acessível online para quem se inscreveu nessa opção.
“Nós entendemos que este é o modelo que deve continuar a ser usado. Por um lado, a formação presencial é, sem dúvida, importante, mas esta distribuição mais alargada do conhecimento, aproveitando a via virtual, é algo em que, decididamente, continuaremos a apostar, pois, é assim possível facilitar o acesso às sessões a muito mais participantes,
permitindo igualmente a sua visualização posterior”, afirma Mário Morais de Almeida, que salienta:
“Partilha-se informação e orientações práticas que, no caso da MGF, serão úteis na atividade diária, com benefício para os seus utentes. Seja para a abordagem a uma criança ainda
muito pequena, mas já com manifestações de patologia respiratória ou alérgica em geral, seja a um seu bisavô, tendo em conta que estamos muitas vezes a lidar com doenças crónicas de elevada prevalência em todos os grupos etários. Aos colegas inscritos na reunião são-lhes dadas, de facto, muitas ferramentas importantes para o seu desempenho e é isso mesmo que nos é transmitido pelos próprios, o que justifica a elevada adesão a este programa formativo.”
Entretanto, comparativamente com o que se verificou em 2024, espera-se para este ano uma presença reforçada de médicos internos que estão no início da sua formação em diversas outras especialidades, entre as quais se destaca a Imunoalergologia, a Pneumologia e a Pediatria. “Para além da óbvia transmissão de conhecimentos de que usufruem, não é de desprezar a possibilidade de estes elementos mais jovens começarem a estabelecer contacto com outros profissionais e realidades, nomeadamente a dos CSP”, reforça o nosso
interlocutor.
Importa referir que o programa da edição de 2025 do Allergy & Respiratory Summit inclui a realização, no seu terceiro e último dia, de dois cursos especificamente dirigidos a enfermeiros e farmacêuticos, na lógica de se procurar agregar a esta reunião profissionais que não apenas da Medicina, contando com formadores das respetivas áreas.
Mário Morais de Almeida: “Só se justifica a referenciação imperiosa para a Imunoalergologia quando houver dificuldade em obter um diagnóstico, ou pela particularidade ou gravidade do caso”
O curso sobre vacinação do adulto “visa preparar enfermeiros e farmacêuticos para desempenharem um papel mais ativo e formativo no processo de vacinação, com base em evidências atualizadas e práticas de comunicação eficazes”.
Quanto ao curso dedicado à técnica inalatória, está bem demonstrado que o uso correto de dispositivos inalatórios é essencial para maximizar a eficácia terapêutica e reduzir as taxas de agudização. Daí que seja “fundamental formar aqueles profissionais na técnica adequada para a sua utilização, assegurando que possam transmitir corretamente as orientações aos doentes”.
Mário Morais de Almeida confirma ainda a presença no Porto do imunoalergologista espanhol Ignacio Ansotegui, que no seu currículo inclui a presidência da Organização Mundial de Alergia no mandato 2018-2019. Será palestrante nas sessões “Rinite alérgica / rinossinusite” e “10 mandamentos da asma e da DPOC”.
A assistir a estas comunicações poderão estar os mais de 1200 inscritos nas Jornadas – presenciais e online –, número que já tinha sido atingido no início de dezembro.
Podem ser consultadas mais informações aqui.