CHS lança Estomatomedicina: médicos de família «poderão trabalhar em equipa com a Estomatologia»

O Serviço de Estomatologia do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) realizou recentemente o 1.º Encontro de Estomatologia para Medicina Geral e Familiar. "Fruto do dinamismo deste encontro surgiu a ideia de criar a Estomatomedicina, projeto em que iremos realizar consultas de telemedicina com os diferentes centros de saúde", explica David Ângelo, membro da Comissão Organizadora desta reunião.

Em entrevista à Just News, o especialista refere que o principal benefício da Estomatomedicina "é para o doente, que pode evitar uma deslocação desnecessária ao hospital ou ser visto com urgência, caso haja necessidade", sublinhando que "os médicos de família poderão trabalhar em equipa com a Estomatologia".



Questionado sobre outros projetos semelhantes no nosso país, David Ângelo refere não ter conhecimento da sua existência, mas acredita ser "uma questão de tempo, porque há imenso potencial neste projeto. É preciso ter consciência que a Telemedicina nunca irá substituir uma consulta presencial mas pode ser um complemento favorável na triagem dos doentes e no follow-up".

"Melhorar a comunicação com a MGF"

O 1.º Encontro de Estomatologia para Medicina Geral e Familiar do CHS realizou-se o mês passado com o propósito de "melhorarmos a nossa resposta nos cuidados de saúde oromaxilares", afirma David Ângelo.

De acordo com a sua experiência, "a referenciação dos doentes para os Hospitais é, muitas vezes, realizada de forma empírica", sendo que, "em muitas áreas, não estão definidos critérios de referenciação, os médicos de medicina geral e familiar (MGF) não conhecem as competências dos diferentes serviços, não conhecem o corpo clínico". Todos esses fatores "podem contribuir negativamente para a progressão do SNS e dos cuidados de saúde aos doentes".



Assim, "melhorar a comunicação com a MGF foi o nosso principal objectivo". Perceber quais as dificuldades sentidas nos Centros de Saúde, dar a conhecer as patologias que deve ser rapidamente referenciadas aos Serviços de Estomatologia, clarificar os critérios de referenciação, assumir compromissos de resposta e tentar melhorar a articulação entre os Centros de Saúde e o Centro Hospitalar de Setúbal.

Para David Ângelo, "só assim podemos oferecer cuidados de excelência aos nossos doentes. Por outro lado foi importante mostrar aos MGF qual é a nossa realidade no Hospital."

Adesão supera expectativas

Apesar de, inicialmente, estar prevista a presença de participantes apenas do CHS e das unidades de saúde da região, o encontro acabou por contar com médicos de várias cidades do país: "Fomos surpreendidos com colegas de MGF de Coimbra, Figueira da Foz e até de Braga".

O motivo deste elevado interesse no tema e forte adesão à reunião é explicado por David Ângelo da seguinte forma: "Uma colega no final do Encontro disse que veio da Figueira da Foz pois sentia que havia uma dificuldade em ter formação nesta área que considera ser de extrema importância. Isto deve ser um alerta para necessidade de mais eventos deste tipo nos diferentes Serviços de Estomatologia Nacionais".


Organizadores e participantes do encontro.

Relativamente ao feedback dos participantes, foram efetuados inquéritos pós-congresso com resultados "muito satisfatórios". Do 68 participantes, 87% gostaria de participar num novo Encontro na área da Estomatologia.

O estomatologista refere que os participantes "foram pró ativos e até sugeriram novos temas para o próximo encontro". Contudo, o aspecto que mereceu maior destaque foi o facto da média de idades ser de 38 anos, o que o leva a afirmar: "Acredito que a nossa geração que está a renovar o SNS com a orientação e experiência dos colegas mais velhos poderá contribuir favoravelmente para o progresso da Medicina em Portugal". 

Contribuir para "melhorar a referenciação"

O diretor do Serviço de Estomatologia do CHS, Carlos Matos, partilha do mesmo entusiasmo no que às vantagens do encontro diz respeito: "reuniões como esta são importantíssimas pela possibilidade de dar a conhecer aos colegas de MGF patologias da estomatologia e , ao mesmo tempo, a atividade do Serviço de Estomatologia do CHS."

Considera ainda que "facilita-se a comunicação e pode melhorar-se a referenciação de pacientes", pelo que "há toda a vantagem na realização de novas e melhores reuniões e já estamos a trabalhar para isso".


David Ângelo e Carlos Matos.

De que forma uma comunicação mais eficiente entre Estomatologia e MGF pode contribuir para melhorar a qualidade dos cuidados de saúde prestados aos doentes? David Ângelo dá alguns exemplos concretos: 

"Se os colegas de MGF anexarem uma foto das lesões oromaxilares ao pedido de consulta, isso facilita a nossa decisão. Outro exemplo, se um colega de MGF no pedido para consulta de ATM, referir a intensidade da dor numa escala de 0-10 (VAS) e a o grau de limitação de abertura da boca podemos dar uma resposta mais adequada."

Acrescenta ainda: "nas lesões intra-orais, se um colega de MGF referir que a lesão tem mais de 15 dias de evolução no pedido, isso para nós é uma informação muito importante e orienta-nos na marcação da consulta. E, por último, diria que os colegas ficaram a saber que em lesões suspeitas de cancro oral damos resposta em 7 dias, facto que muitos desconheciam por não haver uma boa comunicação."  



Articulação temporomandibular: sintomas podem ser enganadores


O último tema abordado no Encontro foi desenvolvido por David Ângelo e centrado nas disfunções da articulação temporomandibular (DTM). Podem os sintomas ser enganadores para os médicos de família, sendo difícil perceber a quem referenciar? "Absolutamente", afirma o especialista, indicando o que foi desenvolvido na reunião:

"Tentamos clarificar alguns conceitos sobre a disfunção da articulação temporomandibular (DTM) e abordar a ATM de forma simplificada. A DTM pode ter vários tipos de manifestações. Por exemplo, grande parte das cefaleias são cefaleias de tensão e estão muitas vezes associadas às DTM. Tratando a DTM, o doente reverte completamente o quadro de cefaleia. Abordamos como reduzir uma luxação aguda da ATM, procedimento que pode e deve ser feito por MGF."



DTM: uma patologia "muito subdiagnosticada"

Foi também apresentado na reunião um questionário com 11 perguntas "em que rapidamente qualquer clínico conseque perceber, apenas pela história clínica se é uma DTM ou não", bem como "uma escala de severidade da DTM para orientar as referenciações, sendo que os MGF poderão acompanhar as DTM ligeiras".

David Ângelo acrescenta ainda que foram abordados "os diferentes diagnósticos diferenciais e mostramos os tratamentos que podemos oferecer aos doentes no CHS" e sublinha: "para mim este tema é particularmente importante, numa altura em que estamos a tentar que o nosso serviço seja uma referência nacional nesta área específica".

O médico considera importante ressalvar que a DTM é uma patologia "muito subdiagnosticada". Na sua opinião, "os clínicos não estavam sensibilizados para este problema mas acredito que estamos a fazer progressos. Quanto mais precoce for feito o diagóstico melhor será a resposta ao tratamento."

E tem toda a certeza de que os médicos de família "podem perfeitamente orientar estes doentes nas fases iniciais e ter bons resultados evitando a progressão da patologia articular. Gostaria de trabalhar nesse sentido."


Equipa do Serviço de Estomatologia do CHS: Dinora Martins, Carlos Matos, Manuel Tolentino e  David Ângelo.


No que diz respeito ao empenho dos profissionais do Serviço e da Administração do CHS ao projeto da Estomatomedicina, David Ângelo não hesita na resposta: 

"A nossa adesão será alta. O interesse é no sentido de melhorarmos os cuidados de saúde do doente. Haverá um horário adstrito a cada médico para dar resposta a estes pedidos. O Conselho de Administração partilha desta nossa motivação para o projeto andar, pois será uma mais valia para os doentes da zona de Setúbal."

Projeto "poderá arrancar a curto prazo"

Em declarações à Just News, o presidente do Conselho de Administração do CHS, Manuel Roque, recorda que este centro hospitalar dispõe, desde 2016, da Consulta de Telerastreio de Dermatologia e que, "no caso da Consulta de Teleestomatologia, esta é uma área com grande potencial de crescimento que poderá arrancar a curto prazo, uma vez que as tecnologias já estão instaladas quer no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) quer no CHS".

O responsável adianta que "o Despacho 3571/2013 refere que existe evidência que a utilização dos diferentes tipos de teleconsulta aumenta a acessibilidade dos doentes a consultas médicas especializadas, principalmente quando distantes". Nesse sentido, "e garantido que for o financiamento e pagamento deste tipo de atividade ao CHS, no âmbito do seu contrato programa, estamos em condições de poder arrancar durante o segundo semestre de 2017".

Manuel Roque sublinha igualmente os benefícios deste projeto: "a telemedicina visa aumentar a acessibilidade às consultas de especialidade, aumentar a equidade, proporcionando a possibilidade de todos os utentes receberem a melhor qualidade dos cuidados de saúde." 

Assim, e no caso específico da teleconsulta de Estomatologia, "este sistema vai permitir a deteção precoce de algumas patologias e responder com maior brevidade às necessidades dos utentes". E acrescenta: "Referenciar correctamente, evitar deslocações desnecessárias aos cuidados de saúde, reduzir a duplicação de exames complementares de diagnóstico e terapêutica são também claramente vantagens a apontar."


Carlos Matos e David Ângelo com o diretor clínico do CHS, Nuno Fachada.

Principal obstáculo

Para David Ângelo, o principal problema na implementação da Estomatomedicina "será ter uma plataforma informática adequada para o efeito e que funcione de maneira eficiente". Ultrapassado esse obstáculo, "vai funcionar bem de certeza". Quanto à qualidade das câmaras para visualizar correctamente determinadas lesões, tal "será um problema minor, porque partilhamos o mesmo princípio da Dermatologia, onde o projeto já funciona".


Relativamente à sua operacionalização, "ao observarem lesões suspeitas, os médicos de família "poderão gravar as fotografias/vídeo da lesão e enviarem as imagens acompanhadas da informação clínica. A partir desse momento nós orientamos o doente que pode ter alta, marcação de consulta ou podemos dar indicação aos colegas de como proceder e reavaliar."





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