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Tratamento cirúrgico da obesidade: «Mais uma importante diferenciação neste hospital do SNS»

“A obesidade não é apenas uma questão de peso, mas um problema de saúde complexo e grave”, refere César Alvarez, responsável técnico do Centro de Tratamento Cirúrgico da Obesidade do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa (CHTS). As suas palavras têm como alvo a população em geral, mas também os profissionais de saúde, que podem participar, amanhã, num evento sobre a temática, no Hospital Padre Américo, Penafiel. Organizado pelo Serviço de Cirurgia do CHTS, insere-se nas atividades do Dia Mundial da Obesidade.

“A saúde mental é muito afetada"

Há 2 anos, César Alvarez iniciou, com mais dois cirurgiões, o Centro de Tratamento Cirúrgico da Obesidade (CTCO) do CHTS, contando sempre com o apoio de uma equipa de Enfermagem e de diferentes especialidades. Até hoje já foram intervencionados 151 doentes.

“A obesidade é uma doença crónica, complexa e multifatorial, que está associada a várias comorbilidades, tais como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, alguns tipos de tumores, entre outros. Exige, obviamente, a intervenção de todos”, afirma César Alvarez, em declarações à Just News.


César Alvarez

Assim, cirurgiões gerais, cirurgiões plásticos, endocrinologistas, anestesiologistas, psiquiatras, psicólogos, nutricionistas, entre outros, "são necessários para dar resposta a um doente que viu o seu peso aumentar ao longo dos anos, impedindo-o muitas vezes de realizar as tarefas mais básicas do dia-a-dia, como atar uns sapatos".

César Alvarez alerta também para o facto da saúde mental ser muito afetada, sendo "comuns os casos de depressão e perturbações da ansiedade, por causa de todo o estigma que existe em torno do peso na nossa sociedade.”

Como acrescenta: “Não basta fechar a boca para emagrecer, é preciso outro tipo de ajuda. Infelizmente, existem ainda muitos profissionais de saúde que veem o excesso de peso desta forma errada, de que basta controlar a alimentação.”




“O tratamento cirúrgico não vai resolver tudo”

Tal como as restantes áreas da Saúde, a atividade do Centro também acabou por ser afetada com a pandemia, mesmo assim, pararam por pouco tempo, podendo fazer história nestes dois primeiros anos. “A vida destas pessoas muda radicalmente para melhor, quer em termos de saúde física como psicológica, por isso era preciso continuar”, salienta César Alvarez.

As técnicas utilizadas são aquelas que dão resposta a 95% dos casos de obesidade: o sleeve gástrico e o bypass gástrico. A primeira consiste na ressecção de aproximadamente 80% do estômago, transformando-o numa espécie de tubo, e a segunda na redução do estômago em 90% - cria-se uma pequena bolsa gástrica, associada a uma alteração do percurso alimentar no intestino delgado.

Os casos mais complexos continuam a ser referenciados ao Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ), no Porto. “Temos sempre a porta aberta para podermos, também, esclarecer dúvidas e discutir situações mais complicadas com uma equipa multidisciplinar do São João.”

Apesar das mais-valias da cirurgia, o responsável relembra que não é o suficiente para se controlar a doença, sendo fundamental ter um plano dietético adequado e praticar exercício físico. “Logo na primeira conversa, avisamos que o tratamento cirúrgico não vai resolver tudo.”

"É importante dar a conhecer os critérios de referenciação"

Estas e outras questões vão ser abordadas no evento científico desta sexta-feira, que tem como mentora Goreti Carvalho, enfermeira gestora do Serviço de Cirurgia II do CHTS.

A responsável sublinha a importância de se dar a conhecer o trabalho que desenvolvem, "sobretudo os critérios de referenciação, junto da população e de outros profissionais". E esse é mesmo o principal propósito da iniciativa, daí estar aberta a profissionais e ao público em geral.

Goreti Carvalho refere ainda que o contacto no pré e pós-operatório com o doente não a deixa indiferente e dá o exemplo do caso de um pai que queria ser operado para poder brincar com o filho. “É preciso falar e alertar para a gravidade e para o impacto da doença, mostrando que existe uma solução, uma equipa que os pode ajudar.”


Goreti Carvalho

O evento conta com o apoio do Serviço de Ensino, Formação e Investigação do CHTS. Num futuro próximo, a equipa do Centro espera avançar com o que a pandemia tem impedido: ações informativas nos cuidados de saúde primários.

"O hospital cresceu muito na diferenciação"

Em declarações à Just News, o presidente do Conselho de Administração do CHTS, Carlos Alberto Silva, explica que a criação do Centro de Tratamento Cirúrgico da Obesidade surge "na sequência de um grande esforço de investimento em diferenciação que temos vindo a fazer nesta instituição do SNS".



O responsável faz questão de recordar a fase inicial desta valência e o "empenho e total disponibilidade dos profissionais em irem ter formação ao São João, que nos permitiu, aos poucos, tornarmo-nos autónomos".

E acrescenta: "Ainda que sejam situações que custam muito dinheiro, temos de pensar verdadeiramente é no tratamento dos doentes. A obesidade suscita uma grande preocupação a nível nacional pela falta de capacidade de resposta. Nós também não fugimos à regra, até porque temos uma grande população para servir, 520 mil pessoas em 12 concelhos e 4 distritos."

Contudo, há boas notícias. Carlos Alberto Silva adianta que, nos últimos anos, "de 2016 até hoje, o nosso case-mix aumentou 30%, o que significa que doentes cada vez mais complicados estão a ser tratados aqui. Há doentes que iam sistematicamente para os grandes hospitais do Porto e começam a ficar aqui."

Uma realidade transversal a outros doentes. É o caso da nova unidade de hemodiálise, "que passou também a tratar cá os doentes sem necessidade de irem para o porto". Mas não só. A Hemodinâmica, a Pneumologia e a Cirurgia vascular desenvolvem atividades "cada vez mais sofisticadas". O que isso significa? "Que o hospital cresceu muito na diferenciação. "

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