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«Cirurgia de obesidade devia ser vedada a entidades não acreditadas pela DGS»

Os primeiros centros de tratamento cirúrgico de obesidade surgiram em Portugal há cerca de uma década, com o grande objetivo de “concentrar experiência”. Não só por parte do cirurgião, mas de todos os elementos que integram a denominada equipa multidisciplinar, onde não faltam, por exemplo, o psicólogo, o nutricionista, o endocrinologista, ou o gastrenterologista.

“Um centro que trata 20 doentes por ano poderá não estar habilitado para lidar com patologia mais complexa”, diz António Albuquerque, cirurgião do Curry Cabral, hospital que integra o CH Universitário de Lisboa Central, e presidente do próximo Congresso Português de Obesidade, a acontecer no final de novembro.


António Albuquerque com elementos da sua equipa, na preparação de mais uma cirurgia no Hospital de Curry Cabral

“Os centros que operam mais também conseguem ter experiência para realizar cirurgia revisional, porque nem sempre se tem sucesso com uma única intervenção”, diz. E apresenta como exemplo o caso dos doentes que “colocaram bandas gástricas há 15 ou 20 anos e que, devido a falência na perda ponderal, ou por outro tipo de complicações associadas, têm estado a converter essas situações”.

“Como são cirurgias mais complexas, exigem mais experiência, daí a importância da acreditação por parte da DGS”, frisa. No entanto, António Albuquerque considera que “deveria haver uma acreditação superior” à Direção-Geral da Saúde, tendo em conta que “esta atividade é, de certa forma, regulamentada pela Federação Internacional de Cirurgia de Obesidade”, entidade que acredita centros em diversos países.

“Além da DGS, também temos, de certa forma, o aval da Sociedade Portuguesa de Cirurgia de Obesidade, como membro da Federação, mas não é esta que define se os centros estão habilitados”, diz o nosso interlocutor.

E o médico sublinha que a avaliação implica verificar requisitos que incluem o total de cirurgias realizadas, o número de intervenções por cirurgião, as características da equipa multidisciplinar, os recursos materiais existentes, a adaptação das enfermarias a estes doentes, etc.



Na opinião de António Albuquerque, “a acreditação da DGS tem de ser levada um pouco mais a sério e até diria que às entidades por ela não acreditadas deveria ser vedada a prática da cirurgia de obesidade”. Até porque “podem existir boas instalações adaptadas a doentes obesos, mas não bastam os recursos materiais. É, aliás, mais importante ter uma equipa multidisciplinar que saiba tratar estes doentes, realizando um número significativo de cirurgias por ano”.

Ao contrário do que sucede no Serviço Nacional de Saúde, em que todos os centros de tratamento cirúrgico de obesidade públicos têm de estar acreditados pela DGS para poderem realizar cirurgias e ter acesso a financiamento, os centros privados não são obrigados a tal, sendo que a lista oficial atualizada apenas integra três.

"estamos muito presos a aspetos burocráticos"


Para António Albuquerque, os centros de tratamento cirúrgico de obesidade “poderiam, eventualmente, ser em menor número no SNS e haver mais no privado”, mas de uma coisa tem a certeza: “Só temos um centro de elevada diferenciação, no Hospital de São João, mas deveríamos ter, pelo menos, mais um a nível nacional.”

Quanto a centros de referência, “não há, mas devia haver, no entanto, ainda nenhum avançou nesse sentido”.



O cirurgião do Curry Cabral sublinha haver “vários requisitos a preencher”, sendo que, “em Portugal, estamos muito presos a aspetos burocráticos e esquecemo-nos de agilizar o que permite dar resposta mais célere a doentes em lista de espera que pode chegar a 2 ou 3 anos…”

A cirurgia bariátrica no Curry Cabral é assegurada por seis cirurgiões, o triplo dos elementos disponíveis noutros centros, mas a carência de recursos humanos é uma realidade, nomeadamente em termos de endocrinologistas, psicólogos e nutricionistas. “Esta gestão de recursos tem de ser feita, numa primeira linha, pelas administrações hospitalares, e depois a um nível intermédio, pelas próprias direções dos vários serviços envolvidos”, lembra António Albuquerque.
 
“Infelizmente, as mentes não estão despertas para o problema da obesidade e ainda se acredita que basta fechar a boca, achando que há problemas muito mais graves. Existe um estigma mesmo por parte dos profissionais de saúde. Considera-se que estas pessoas que nos procuram são gordas porque não tratam de si”, desabafa.

“Obesidade: um peso a reduzir”

Integrando o Centro de Tratamento Cirúrgico da Obesidade do CHULC, António Albuquerque é membro da atual Direção da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) e tem este ano a particular responsabilidade de presidir à Comissão Organizadora do 22.º Congresso Português de Obesidade.

A reunião magna da SPEO vai decorrer em Lisboa, mais precisamente no Hotel Tivoli Oriente, entre os dias 23 e 25 do próximo mês de novembro, sob o lema “Obesidade: um peso a reduzir”.



A entrevista completa pode ser lida na edição de outubro do Hospital Público.

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