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Obesidade: técnica cirúrgica a utilizar depende da «avaliação multidisciplinar do doente»

Esclarecer os doentes com obesidade de que não existe uma cirurgia ideal para todas as pessoas foi um dos objetivos de António Albuquerque, cirurgião geral dedicado à cirurgia bariátrica, ao participar na iniciativa online “APOBARI esclarece com …”, promovida pela Associação Portuguesa dos Bariátricos.

O médico começou por alertar para o facto de que a escolha da técnica cirúrgica deve basear-se, antes de mais, “numa avaliação multidisciplinar do doente, que deve envolver a Nutrição, a Psicologia, a Endocrinologia e a Cirurgia, entre outras valências, para que se possa optar pela intervenção cirúrgica que irá proporcionar os melhores resultados para determinada pessoa em específico”.

Sublinhou que “não há uma cirurgia milagrosa que cure a obesidade, contudo, esta opção terapêutica é a melhor solução quando o tratamento farmacológico, a dieta e o plano intensivo de exercício físico não conduzem a bons resultados”.

António Albuquerque, que integra o Centro de Tratamento Cirúrgico de Obesidade do Centro Hospitalar Lisboa Central, fez ainda questão de salientar que é “falsa a ideia de que ‘basta fechar a boca’ para emagrecer, como ainda se ouve de parte de alguns profissionais de saúde”. E explicou porquê:

“A obesidade deve-se a um conjunto de fatores, inclusive genéticos, que ao longo do tempo não são controláveis e que conduzem ao aparecimento de várias comorbilidades, tais como diabetes, hipertensão e dislipidemia, entre outras.”



Na sua intervenção em direto na página do Facebook da APOBARI, especificou ainda as diferenças entre as várias cirurgias, tendo realçado, numa fase inicial, que a banda gástrica é cada vez menos uma opção. “Não obstante ser aceite como técnica cirúrgica a nível internacional, é de longe a menos adequada”, garantiu.

Sleeve bypass gástrico

O cirurgião acabou, assim, por se focar no sleeve e no bypass gástrico. Quanto à primeira técnica, trata-se de uma cirurgia que reduz o tamanho do estômago, transformando-o num tubo estreito, ou manga (em inglês: sleeve), com o objetivo de o doente ingerir um menor volume alimentar e, concomitantemente, diminuir a quantidade da hormona grelina. Segundo o cirurgião, o sleeve é considerado menos complexo do que o bypass gástrico, “porque não existe rearranjo intestinal e há menor hipótese de défices nutricionais”.

Quanto às possíveis complicações desta técnica, destaca-se a incidência de fístulas da linha de sutura e a maior dificuldade em tratar este tipo de morbilidade quando comparado com o bypass gástrico e, a longo prazo, a dilatação da bolsa gástrica e o reganho ponderal. A perda ronda os 60-70% do excesso de peso.

O bypass gástrico, por sua vez, reduz a quantidade de alimentos ingeridos, a par da absorção dos nutrientes, e altera a produção de hormonas dependentes do intestino. Na cirurgia, é criada uma pequena bolsa gástrica, realizando-se uma ligação ao intestino delgado (anastomose). A longo prazo, as complicações são relativas à estenose da anastomose, úlceras, hérnias e hipoglicemia. Esta técnica é reconhecida como de eleição, esperando-se uma perda de 80% do excesso de peso. 


António Albuquerque com Marisa Oliveira Marques, presidente de Direção da APOBARI

Dentro dos vários tipos de bypass, para além do “clássico” em Y de Roux, outra técnica tem assumido, para António Albuquerque, uma preponderância nas opções de tratamento dos doentes com obesidade. Trata-se do minibypass gástrico ou bypass de anastomose única, técnica em que foi um dos pioneiros da sua realização em Portugal.

“Este procedimento propõe uma simplificação do bypass, através da realização de uma única anastomose, com significativa redução do tempo operatório, redução potencial da morbilidade e mortalidade operatórias e melhoria dos resultados em termos de perda de peso”, explicou. Além disso, frisou, “comorbilidades como a diabetes são melhor controladas após esta cirurgia, comparativamente às técnicas mais comuns”.

No final, António Albuquerque fez um balanço positivo da iniciativa e destacou o papel fundamental das associações de doentes, considerando que “a APOBARI tem tido um contributo muito importante no esclarecimento das pessoas que sofrem desta terrível doença que é a obesidade”.

O médico, que coordena o Centro de Tratamento Cirúrgico da Obesidade do Hospital de S. Louis, assume este ano o cargo de presidente do Congresso Português de Obesidade, um evento que se realiza em novembro, promovido pela Sociedade Portuguesa de Estudo da Obesidade.

Mediação entre doentes e equipas multidisciplinares

Marisa Oliveira Marques é presidente de Direção da APOBARI e sua fundadora, em 2015, o que aconteceu depois de ter sido operada. Em declarações à Just News, recorda que fez um bypass gástrico que lhe permitiu reduzir o peso de 140 para 70 Kg. “Renasci para a vida”, reconhece.

A obesidade fez com que tivesse que ser submetida a uma intervenção cirúrgica à coluna, contribuiu para que sofresse de hipertensão e ainda a obrigou "a enfrentar uma depressão grave".

Sendo assistente social, quis ajudar quem sofre de obesidade mórbida e os doentes submetidos a cirurgia bariátrica. “Havia e continua a haver muita falta de informação. Por exemplo, as pessoas não sabem que, no setor público, após assinarem o termo de responsabilidade para serem operadas, têm direito a um vale-cirurgia se não forem chamadas após 6 meses e 23 dias, podendo realizar, de forma mais célere, a sua cirurgia num privado convencionado”, exemplifica Marisa Oliveira Marques.

Os objetivos da APOBARI passam, essencialmente, pela mediação entre os doentes e as equipas multidisciplinares e pela difusão de informação, sendo também elaborados, todas as semanas, relatórios sociais para médicos de família. “Infelizmente, ainda há muitos que não têm conhecimento dos critérios de elegibilidade para cirurgia bariátrica, acabando por não encaminhar alguns casos para os hospitais públicos”, sublinha.



A responsável destaca ainda o papel da Associação nas parcerias que facilitam o acesso a vitaminas adaptadas aos doentes que realizam este tipo de cirurgias ou até mesmo a cirurgias a preços mais acessíveis em determinados hospitais privados, bem como a oferta do Cartão do Bariátrico, com informações clínicas que podem fazer a diferença numa situação de saúde emergente.

Os apoios são assim diversos, mas há uma mensagem que Marisa Oliveira Marques faz questão de transmitir a todos os bariátricos: “A cirurgia é uma ajuda, é preciso aproveitá-la bem, para não voltarmos à obesidade mórbida.”

E é nesse sentido que vão continuar a promover, periodicamente, a rubrica “APOBARI esclarece com…”, sendo os próximos temas sobre vitaminas, saúde da mulher e Psicologia. 


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