Colaboração entre os cuidados de saúde primários e a Oftalmologia deve ser «estreita, bilateral e sinérgica»
Doenças como a diabetes ou a hipertensão arterial podem ter importantes repercussões oftalmológicas. De acordo com a presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), Maria João Quadrado, o médico de família deverá colaborar, de forma estreita, com os oftalmologistas, no sentido de identificar e diagnosticar doentes em risco para que possa ser feito um tratamento precoce e ser preservada a visão.
Segundo Maria João Quadrado, os erros refrativos, como a miopia, a hipermetropia e o astigmatismo, estão entre as doenças que motivam maior número de consultas. Adicionalmente, refere, “o olho seco e a conjuntivite alérgica são frequentes, uma vez que se verifica o seu aumento relacionado com fatores ambientais e utilização de plataformas digitais”.
A diabetes e a degenerescência macular da idade (DMI), o glaucoma e a catarata são também responsáveis por um grande volume de consultas. E indica que um dos dados mais preocupantes é o crescimento epidémico da diabetes em todo o mundo, “realidade da qual Portugal não é exceção”. Outras doenças, “ditas civilizacionais”, como a hipertensão arterial e a dislipidemia, também têm importante repercussão oftalmológica.
A presidente da SPO destaca que o aumento da esperança média de vida da população promove também um crescimento “muito significativo” das doenças degenerativas das estruturas oculares, das quais realça a DMI e o glaucoma.
“O médico de família, sendo o primeiro a contactar com o doente, é o elemento por excelência na referenciação atempada dos doentes, bem como no controlo dos fatores de risco de algumas doenças. Para isso, deverá conhecer os sintomas e sinais de alarme das principais doenças oftalmológicas, bem como receber e fornecer informação clínica precisa”, alerta.
Acrescenta, ainda, que o diagnóstico definitivo e o tratamento específico das doenças oftalmológicas cabem ao oftalmologista. “A MGF é muitas vezes solicitada a colaborar e a pedir colaboração aos oftalmologistas. O intercâmbio de saber e de cuidados é fundamental para o sucesso do tratamento oftalmológico a longo prazo.”
Na sua opinião, deverá haver uma “colaboração estreita, bilateral e sinérgica” entre os cuidados de saúde primários e a Oftalmologia, na medida em que a identificação de doentes em risco e o diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais na preservação da visão.
De acordo com a médica, são várias as situações patológicas em que esta colaboração é “necessária, desejável e indispensável”, nomeadamente no controlo dos defeitos refrativos na infância e na retinopatia diabética. Neste caso específico, indica, “o médico dos cuidados primários desempenha um papel fulcral, mediante a referenciação atempada ao oftalmologista e no controlo dos fatores sistémicos que levam à progressão da doença”.
Maria João Quadrado termina afirmando que a SPO tem interagido com a MGF em ações de formação e de rastreio populacional, nomeadamente nas áreas do glaucoma, da retinopatia diabética e da saúde infantil. “Outras ações futuras estão em marcha e esperamos concretizá-las em 2016”, adianta.
A Just News publica, no Jornal Médico de janeiro, um Dossier Oftalmologia, que conta com a colaboração de Maria João Quadrado e da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia.
Uma dezena de especialistas desenvolvem variados aspetos relacionados com o glaucoma, degenerescência macular da idade, cataratas, oftalmologia pediátrica, lentes de contacto, obstrução do canal nasolacrimal no recém-nascido, retinopatia diabética e problemas oftalmológicos causados pelo trabalho no computador.